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Wednesday, December 21, 2011

“A Casa da Romãzeira” de Manuela Monteiro


A Casa da Romãzeira da escritora infanto-juvenil Manuela Monteiro foi lançada no dia 25 de Abril de 2009, na Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco. A apresentação da obra a cargo de Artur Sá da Costa, em substituição do malogrado professor Vasco Moreira

O evento contou,  ainda, com a leitura de trechos da obra por Vitória Triães e Fátima Almeida, uma breve mas sublime sessão de declamação de poemas de Abril, as canções de Ivo Machado, acompanhado por um dueto de Guitarras.


A Obra

A Casa da Romãzeira” é um livro que se salienta quer pela beleza estilística quer pela temática abordada de forma polissémica, cujos múltiplos significados nos espreitam nas entrelinhas. Esta mesma polissemia coloca a escrita infanto-juvenil de Manuela Monteiro ao lado da dos contos infantis de Wilde ou de Saint-Éxupery, que vão ao encontro do lado infantil, pela via afectiva, do público adulto. Sobretudo este livro em particular, porque se insere nas comemorações do 25 de Abril em Portugal com a finalidade de explicar às gerações mais jovens os factores motivacionais que estiveram na origem da Revolução dos Cravos.

As ilustrações são da autoria de José Emídio e reflectem a coloração da plumagem do chapim real, as quais Manuela Monteiro associa ao mês de Abril – “o mês azul e oiro”. De realçar a correspondência entre o desenho e os textos da autora, conseguindo, inclusive, ilustrar os poemas seleccionados por Manuela Monteiro dos Poetas de Abril, como Sophia de Mello Breyner Andresen, Manuel Alegre, Padre Fanhais, entre outros…

A estória passa-se na Casa da Romãzeira, um lugar “onde é sempre Abril”. É uma casa escondida num jardim em que a profusão da fauna e da flora lembra o paraíso genesíaco onde se esconde a árvore da Vida ou do Conhecimento, personificada na Romãzeira. O jardim envolve a casa que encerra em si um segredo. Um segredo que é guardado pelas sucessivas gerações de Joaninhas que guardam a memória do tempo e da mudança.

Também a presença de outra árvore – a oliveira, de que não se sabe a idade – representa não só a paz, mas também a permanência de um património histórico que é necessário preservar.

O outro elemento que se destaca nesta história é a nota de realismo mágico que vem colorir o texto, estimulando a imaginação através do diálogo entre as duas “joaninhas”: a Joaninha-que-voa e a Joaninha-Menina, neta do patriarca da casa da Romãzeira.

O período de transição para a adolescência da Joaninha Menina assinala a mudança necessária que a torna capaz de ser portadora do segredo da Casa da Romãzeira - cuja transmissão é levada a cabo pela Joaninha-que-Voa, exactamente no dia do 15º aniversário da Joaninha-Menina. Esta revelação é introduzida pelo diálogo que se segue e consiste no ponto culminante da narrativa:

Estás diferente, Joaninha-que-voa. É como se uma nocturna asa tivesse pousado sobre ti e te cobrisse de sombra.

Neste momento, a Menina apercebe-se da tensão da amiga, que está prestes a revelar-lhe algo de muita importância:

E tu estás resplandecente, Joaninha-Menina. É como se houvesse dentro de ti um sol que te invadisse de luz.

É então que a Joaninha-que-voa revela o segredo da Casa da Romãzeira relacionado com a Revolução e o passado da Avó da Joaninha Menina…

Com este livro, a autora pretende não apenas mostrar o que está subjacente à revolução de Abril, mas sobretudo dar a conhecer a mudança efectuada no quotidiano das pessoas, para além de homenagear os poetas que tentaram mudar a direcção do vento ideológico. É sobretudo um livro que visa exaltar os poetas como guardiões da memória de um povo, da mesma forma que a Joaninha-que-voa é a guardiã da memória da casa da romãzeira e dos nela lá viveram:

Os poetas são os feiticeiros das palavras. Num só verso põem a alma inteira. Num só poema, toda a beleza do mundo.


E a maior feiticeira e guardiã das palavras é, sem dúvida, Manuela Monteiro.


Cláudia de Sousa Dias

PS: Este texto foi originalmente publicado em Maio de 2009 na revista literária on-line Orgialiteraria, e editado por Gonçalo Mira

3 comments:

  1. Parece um livro belíssimo, sumarento como os bagos de uma romã!
    Cláudia, um ano novo muito feliz para ti, pleno de surpresas boas!
    Madalena

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  2. Ah...é uma óptima prenda para oferecer aos mais nbovos!


    está na altura é de postar outra coisa...


    csd

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  3. um bom ano para ti tb, M.!
    ;-)

    c.

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