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Wednesday, March 12, 2025

Manual para Amantes Desesperados de [Ana] Paula Tavares (Caminho)

Este não é de todo um exercício académico, com procura de intertextualidades e influências literárias na escrita da autora. Aliás, este foi o meu primeiro contacto com a escrita de Ana Paula Tavares. Uma escrita que considero ir ao âmago do que é a condição humana universal, daquilo que é ser mulher - seja em África, na América, na Oceânia, Ásia ou na Europa profunda, na qual, se recuarmos ao tempo das nossas avós, encontraremos muitos pontos de contacto com as mulheres que se movem no contexto comunitário e familiar africano que nos descreve Ana Paula Tavares. O livro de poesia desta magnífica escritora, natural de Angola, estava na minha estante há já muito tempo. Havia-o adquirido em 2012, nas Correntes d’Escritas, um ano antes de emigrar. Nessa altura, trabalhava ainda, a recibo verde, mas já não tinha o projecto de literatura e cinema que desenvolvia na Biblioteca - e com cuja avença pagava a segurança social -, consumido na fogueira da Troika. Eram tempos de austeridade e a cultura passou, então, a ser vista como um luxo supérfluo, um despesismo inútil, sobretudo na cidade onde eu vivia. Houve um festival de cinema que deixou de se fazer. Sessões de poesia com poetas vindos de vários municípios vizinhos - que levavam vozes subversivas de poetas vivos e mortos a vários locais públicos - foram simplesmente suprimidas. No meio de tudo isto, a Póvoa de Varzim continuava a fazer a diferença, mesmo com cortes nas verbas. E ainda bem, porque foi lá que conheci Ana Paula Tavares e a sua poesia. Uma voz doce, vinda de África, com uma poesia telúrica, a falar da condição feminina no sul de Angola, entre o mar e o deserto, que emerge da paisagem e se funde com ela. Uma poesia que fala de memória, da voragem do desejo, da fome de amor, da sede de criação e liberdade a partir do barro humano, cozido no fogo do gineceu, à volta do amor e cuidado da família e do cuidado com os mais frágeis. Neste gineceu, as mulheres unem-se como as leoas, para fazer crescer a comunidade, cuidando das novas - e não tão novas - gerações, mantendo aceso o fogo de Vesta (se quisermos fazer uma analogia com os deuses do panteão romano), religando-se através do fogo, para produzir a comida e afastar possíveis ameaças - simbolizadas, a dada altura, pela hiena. Paralelamente, as relações entre as mulheres e os homens cozinham-se também no fogo do desejo, temática que atravessa toda a escrita de Paula Tavares, neste livro em particular. Este volume tem apenas 37 páginas, mas confirma o adágio de que ‘é nos frascos mais pequeninos que se encontram os perfumes mais intensos’. Os poemas são pequenos riachos que formam o caudal do rio que é a própria vida. Caudal esse que se projecta no quotidiano dessas mulheres ligadas à terra mas que vão tecendo, dia após dia, o fio da vida ligando a mesma terra aos outros elementos - como o vento que transporta as chuvas e as areias do deserto com as sementes das plantas e os insectos que alimentam os solos e aqueles que lá habitam. E enquanto elas tecem, dia a dia, o fio da vida, confirmam a epígrafe do dito umbundu, logo no início do livro, “Um cesto faz-se de muitos fios” . Na análise propriamente dita dos poemas de Ana Paula Tavares,verificámos que a sua poesia se plasma no quotidiano instável, de um sujeito poético em trânsito, física e psicologicamente nómada, em fuga. E, contudo, resiliente, movendo-se numa realidade em constante mudança, num cenário de impermanência, como sugere a imagem das dunas. Os amores são líquidos como a areia do deserto que escorre por entre os dedos. E queimam, como se vê no poema logo na página 9: «Mantém a tua mão No rigor das dunas Andar no arame Não é próprio de desertos (...) Mantém a tua mão Perpendicular às dunas E encontra o equilíbrio No corredor do vento A nossa conversa percorrerá oásis Os lábios a sede Quando saíres Deixa encostadas As portas do Kalahari» Depois, no poema seguinte (pp. 10-11), dá-se a continuidade ao raciocínio: «Pode ser que me encontres Se caminhares pelas dunas Sobre a ardência da areia Por entre as plantas rasteiras (...)» No livro, estão ainda presentes múltiplas vozes, embutidas no discurso do sujeito poético, vozes femininas, que o mesmo vai fazendo desfilar à medida que as convoca, para a apresentação deste carnaval polifónico de vozes do deserto a surgir em simultâneo (pg.13): a rola, o cuco, o bem-te-vi. E não é por acaso que estas são vozes com asas, vozes de liberdade, que se contrapõem às do animal doméstico, a parir no curral - que tanto podem ser as vacas como as mulheres que nunca saem do curro do patriarcado (de lembrar que Maria deu à luz Jesus numa mangedoura), diferentemente da voz narrativa, da amante, que vagueia, livre e sem amarras e cuja vista se perde no horizonte, como o vento no deserto. Depois, há também a presença do invasor, o antagonista, o destruidor da harmonia - representado pela hiena - que pode ser a metáfora do soldado, do mercenário, da guerra propriamente dita ou, simplesmente, algo que desrespeita, que entra de forma violenta e desautorizada no espaço privado feminino, semeando o caos e a dor. Num poema, a hiena leva o cabrito pequeno e parte a cabaça dos sacrifícios (pg.13), ou seja, dá-se uma ruptura com o sagrado, o objecto que preserva a ligação entre os humanos e os deuses e mantém acesa a fogueira que garante a sobrevivência da humanidade, pois esta precisa do fogo, como já foi dito, também para cozinhar: «Dormias Enquanto cantava a rola O cuco e o bem-te-vi Dormias Enquanto duas vacas Pariam no curral Dormias Quando a hiena entrou no cercado Levou o cabrito pequeno E partiu a cabaça dos sacrifícios (...)» Nestes poemas fala-se, também, de insubmissão de amores contrários à lógica e ao interesse, à ordem social e às hierarquias, obedecendo apenas aos corpos (pp.14-15): «Devia olhar o rei Mas foi o escravo que chegou Para me semear o corpo de erva rasteira (...) Devia olhar o rei Mas baixei a cabeça Doce terna Diante do escravo.». O sujeito poético curva-se assim, acima de tudo, ao desejo, ao seu tempo e ritmo próprios (pg. 16) «Nas tuas mãos Ardia barco de espuma rede das tuas mãos escorria língua de fogo sede nas tuas mãos sentia dobra do vento febre nas tuas mãos tremia nome de vida tempo.» Todavia, o tempo do amor e da guerra coexistem, por vezes, em simultâneo, em locais diferentes. A ocorrência desta simultaneidade é perceptível na sucessão sequencial dos poemas da Autora, que nos faz notar que a tranquilidade e o tumulto podem ocorrer no mesmo instante em loci diversos, dada a imensidão geográfica de uma região como a do deserto do Kalahari: o amor livre , ao som do canto das aves, a dor das vacas no curral, a dar à luz os seus bezerros, o fim de uma vida que praticamente não viveu como a do jovem cabrito, levado e, provavelmente, morto pela hiena. Na floresta, no deserto, fora dos grandes aglomerados humanos, dos currais, ou seja no mundo livre, os poemas tingem-se das cores da rebelião subversiva (pg. 17): «Reconheço a tua voz no lume das dunas clara grave com um leve travo amargo entre as vogais reconheço a tua voz no tronco retorcido das árvores simples palavra a palavra dita a tua voz é a floresta galeria na terra vermelha do corpo.». Mas quando a morte intervém - como mostram as formas verbais no passado, pretérito imperfeito -, o amor transforma-se e passa a ser memória em vez de corpo. A presença terrena passa encontrar lugar no coração da amante, através da memória e evocação da presença do amado, re-cor-dando ou tranformando o amor sublimado em compaixão por um ‘anjo caído’ (pg.18), rematerializado na presença de um amor outro, este como lenitivo, caído num colo em sangue (idem) de um coração em ferida: «(...) Tu eras o bicho cinzento Do entrelaçado dos limos O da multidão O que deslizava na água Como a sombra. Agora, alguns anos depois Um anjo caído Encontra ninho No colo em sangue do meu peito.». A vida prossegue, contudo, no lento desenrolar dos dias e atravessa, tal como a luz, as frestas dos muros que se vão erguendo nas divisões de fronteiras e decorrentes das guerras. Todavia, a vida e o amor, através do verbo, perseveram, insubmissos, o seu curso como os rios que vão erodindo a pedra (pg 19): « (...) há velhas mulheres pousadas sobre a tarde enquanto a palavra salta o muro e volta com um sorriso tímido de dentes e sol.». No poema “De onde eu venho” (pp. 20-22), fala-se da paixão que leveda com o tempo, tal como o pão, que depois se transforma na fogueira que é o coração da casa. E, aqui, vem-me à ideia o mesmo paralelismo, do fogo de Vesta, a deusa dos Romanos que velava pelo lar e pelos antepassados. O fogo, o forno do pão, a fogueira e o fogo do útero são o mesmo lugar onde fermenta o pão que alimenta a humanidade e os novos seres que perpetuam a espécie que assim leveda e se expande também. Este lugar pode não ser necessariamente uma casa; pode ser uma árvore na floresta, um oásis no deserto, uma ínsula no meio de um rio, ou uma duna que esvai de um dia para o outro com o vento. É todo o lugar onde a humanidade fermenta, leveda e se expande. Um lugar, físico ou imaginário, sedentário ou nómada, para onde confluem todos os elementos. Ali à fogueira, junta-se o vento e a chuva a agir sobre os solos para que a vida se renove. Também a água, que vai pingando como os dias, dos tectos, das folhas das árvores e, de mão dada com o tempo, vai erodindo as pedras das casas, assoreando terrenos, desgastando corpos, fazendo as vidas, continuamente seguir o seu curso. Vidas que após o seu término permanecem na memória colectiva, como os rios que correm para oseu destino final: o Atlântico (pp. 21-22). « (...) De onde eu venho empresta-se o corpo à casa a memória ao tecto onde pinga a chuva como se fosse agora como se fosse sempre depois estendem-se os cogumelos e olham-se as flores onde o desejo passeia devagar. São bem-vindas as chegadas há portos e cais por todo o lado e, na falta, braços fortes que nos carregam ao vento pode-se ficar lento como redes nas dunas. (...) De onde eu venho podemos esquecer os dias e andar pela relva a beber as vozes. Uma mulher partiu de nós e deixou o canto para nos adormecer a alma. Seu nome era Nina e a sua vida terminou a sopro hoje de manhã conheço as suas crianças e sei de que se alimentam. De onde eu venho nascem os rios nos nervos da terra correm certos para o mar ou perdem-se nos lugares do tempo sem que ninguém os detenha aí lavam as raparigas os seus primeiros sangues constrói-se um sol de mentira para pendurar de noite na porta da vida. Venho de muitos rios e um só mar o Atlântico suas cores secretas a música erudita da praia a espuma lenta das redes de onde eu venho há lá e cá luz, risos de gargantas feridas almas abertas uma ciência antiga de treinar os olhos para as fibras depois as águas logo a seguir as tintas e nadar sobre a terra com passos de silêncio para que nada perturbe aos olhos a luz.». No entanto, não existe, na poética de Ana Paula Tavares apenas mulheres guardiãs do fogo do lar, como a romana deusa Vesta. Há mulheres cuja chama se apaga rapidamente, como Nina, no poema acabado de citar. E há, também as sacerdotisas e pitonisas como Adélia (pg. 23) que lêem os destinos aos humanos e os presságios nas forças da natureza: «Adélia segura a minha mão Dentro do templo Move com força os lábios Diz: Nós, as concebidas no pecado Fechadas de vidros No altar do mundo Adélia lê as estelas As escritas da areia Lava com cuidado As feridas Diz: Os sonhos são desertos Com navios encalhados.». E, claro, há as ‘outras’. Aas vagueantes do amor nómada (pp. 24-25), como a voz narrativa/sujeito poético, que se desdobra no seu duplo - o Eu e a Outra, a ‘louca’, ‘o demónio’, por oposição à ‘santa’ de cujo fogo, hoje extinto, só restam as cinzas. Há “coisas que só se confessam diante de um pau e nunca diante de gente”, como o adágio nyaneka que serve de epígrafe a este poema em particular: «Das duas de mim só percebeste A louca A voz de íntima nudez O grito surdo da fêmea. Das duas de mim Só percebeste a outra A dos cabelos soltos Cabaças no ventre E um demónio Nos cabelos Das duas de mim só percebeste a sombra A embriaguez do vinho O brilho da palavra O sonho Agora que um mapa estranho Traçou na face os caminhos da santa O sonho apareceu despido Ainda voltas De vez em quando Com as palavras da louca.». Se, no poema anterior, o fogo religava o acto de alimentar e cuidar da família, integrando simultaneamenta o fogo do desejo físico - sublimando também o sexo como essencial para a união dos seres consagração do renovar das gerações bem como da manutenção e expansão dos povos -, neste poema está também presente fogo como símbolo da actividade do espírito. O fogo do verbo assegura a coesão das almas, mesmo quando ameaçadas pela morte - metaforizada na presença dos cogumelos, agentes decompositores. O contraste surge com a vitalidade do desejo, transmutada nas flores, órgãos reprodutivos do mundo vegetal. Vida e morte a digladiam-se no poema, um dos mais belos deste livro onde, da mesma forma, se defrontam os dois arquétipos de mulher que é simultaneamente una e dupla: ‘a louca’, devotada ao prazer, e a santa, devotada aos outros, à família e à comunidade. A serenidade inscrita na voz poética, integra ambas as imagens do Eu feminino, fundindo-as numa só persona. O desamor, ou talvez a morte está, por sua vez, inscrita em todo o poema que se segue (pg, 26), na voz que sucumbe, assinalada pelo declinar do volume no último verso que, em contraste com os anteriores, inicia com letra minúscula: «Esta manhã dói-me mais do que é costume A pele As escarificações As cicatrizes Doeu-me a noite de laços e espuma Dói-me agora a pele As escarificações as cicatrizes Dói-me o teu corpo deitado O silêncio Os gritos em feixe dentro de mim.» No poema que se segue “Otyoto” a mulher-mãe que surge como alimento e esquecimento de si patente na supressão do desejo, como se vê nos versos que se seguem (pg. 27) «Todas as mães da casa redonda disseram (...) Cuida do corpo da casa e das tranças Desfaz-te em leite Para a fome das crianças Ninguém falou de dor Abandono solidão A loucura é palavra interdita Ficam os sonhos a voar Pássaros na boca do vento.». O poema seguinte, dedicado a alguém chamado de ‘Ivone’ (pg.28) sugere uma violação, ou um qualquer outro acto de violência, onde o homem é metaforizado na figura do escorpião azul - e o azul assume aqui a significação da morte, do veneno, cyanido, que deixa o coração gelado. «Frio frio frio Frio como a água do rio Procuro O escorpião azul Que me comeu as entranhas. O homem que saltou da janela Deixou sementes no choco E o coração frio frio frio Frio como a pedra No rio.». O poema seguinte completa a sequência narrativa (pg. 29-32) trazendo a cura personificada num conjunto de rituais, sortilégios e encantamentos com a finalidade de afastar a “febre” que corrói o corpo e a alma: «Debaixo da árvore da febre (...) Preparada para o tempo caminhei sobre as marcas de sangue deitei-me debaixo da árvore da febre Perdi a máscara Pwo as pulseiras de protecção os óleos do início os frascos dos remédios Perdi as palavras as dos poemas e do silêncio (...) vi a minha pele velha rasgar-se ao sol debaixo da árvore da febre Vi o meu pano de nascimento desfazer-se debaixo da árvore da febre Como uma velha leoa fiquei só debaixo da árvore da febre sem os óleos de protecção as palavras o silêncio os cantos a atravessar desertos e medos Fiquei só debaixo da árvore da febre (...) Debaixo da árvore da febre eu não disse nada Debaixo da árvore da febre ardo devagarinho sem as palavras o silêncio os óleos de protecção os cantos de atravessar desertos o fogo sagrado dos antepassados. Viram a minha máscara Pwo?». Novamente é retomada a fala do sujeito poético, que incorpora a da jovem violada. E é pelo olhar desta que entra a personagem da sacerdotisa, agente de cura da mulher de alma destruída. Que perdeu as ferramentas e utensílios que lhe serviam de defesa espiritual contra o Mal. Logo depois, no poema seguinte, entra a fala do velho ancião, à laia de epílogo de uma história triste, um incêndio maléfico de cuja passagem só restam cinzas calcinadas. De onde a harmonia possível renasce lentamente após o afastamento da ameaça. A presença da ‘hiena’ remete para a ideia do saque aos sonhos e à esperança, mesmo após o seu afastamento “enchendo o deserto de gritos” (pg.33). A morte, simbolizada pelo pássaro (abutre?) que que sobrevoa três vezes, em círculos o corpo feminino destroçado, segue o seu caminho e afasta-se, tal como a hiena (pp. 33-34): «A hiena seguiu o seu caminho Enchendo o deserto de gritos Do meu corpo saía o sangue dos princípios Noites de efiko ritual de iniciação A hiena seguiu o seu caminho Enchendo o deserto de gritos O pássaro grande voou três vezes Sobre mim Três vezes voou e seguiu o seu caminho A minha morte pequena ficou ali feita deserto Enquanto a hiena Seguia o seu caminho Enchendo o deserto de gritos.». A fala do ancião deixado moribundo pela “hiena” depois de ter feito mais estragos na aldeia (o cabrito, a jovem...) coexiste em simultâneo com a da ‘velha’ no último poema em que esta fala da perda irrevogável da inocência. É uma voz despojada de tudo, excepto da memória, onde se perdeu a felicidade dos dias tranquilos onde reinava a alegria e a pureza do coração, a inocência, simbolizada pelo nenúfar (pg. 35): «Navego uma solidão de búzios No mar verde de canela e açafrão A noite é mais fechada No ar de prata e pólen Que respiro Meu coração é um lago Por onde deslizou a vida Sem flores Sem nenúfares.». Há depois todo um trabalho de reconstituição e reconstrução da alma que nunca conseguirá fazer sozinha. Terá de ser um trabalho a quatro mãos para reunir os “ossos do tempo” (pg. 36) «Então perto do limite, ele cumpriu a promessa (...) Ali debaixo da terra quente e negra». No último poema (pg. 37), é atingido finalmente o bem supremo, o conhecimento de si e do mundo: «No deserto vi as estrelas Do caminho do meio (...) Com os poemas inscritos (...) No deserto vi as estrelas A tempestade A solidão por dentro Olhei de novo o escravo Sentei-me a olhar o fim Encontrei o segredo fechei devagarinho as portas». O ‘segredo’ do fluir da vida no espaço e no tempo é a principal riqueza a transmitir, pela voz do sujeito poético às gerações vindouras. Ana Paula Tavares conquistou, com este livro, o Prémio Nacional de Cultura e Artes de Angola, em 2007. Absolutamente merecido. VNF, 07.03.2025 Cláudia de Sousa Dias PS: Outra excelente análise sobre este texto é a de Teresa Sá-Couto, neste blogue: https://orgialiteraria.wordpress.com/2009/01/30/a-poesia-de-paula-tavares/

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