“O Coração das Trevas” de Joseph Conrad (Biblioteca Visão)
Joseph Conrad nasce em Berdichev, na Ucrânia, em 1850. O pai, de origem polaca, foi destacado para a Ucrânia devido à sua actividade política.
Conrad torna-se órfão aos onze anos, altura em que fica sob a tutela de um tio. Em 1874, parte para Marselha onde se alista na Marinha. A sua segunda língua torna-se o francês, mas começa a aprender o inglês aos vinte anos.
Quatro anos após a obtenção do Master’s Certificate e da nacionalidade britânica, abandona a Marinha e decide dedicar-se inteiramente à escrita.
Muitos dos seus romances são inspirados nas suas viagens ao Oriente e aos Mares do Sul. Casa-se na altura da publicação do seu segundo romance, Um Vagabundo nas Ilhas.
Nos seus livros é frequente a crítica ao colonialismo por parte dos países europeus industrializados, não sem deixar de ostentar um certo cepticismo, relativamente ao uso dos ideais mais elevados utilizados como propaganda política ou como máscara para dissimular interesses económicos. Ideais que acabam por, desta forma, esconder a semente da corrupção, na opinião do Autor.
Conrad vem a falecer em Kent, em 1924.
Marlow, o protagonista de O Coração das Trevas é um marinheiro com um talento invulgar para contar histórias e cativar audiências, devido à magia que consegue colocar nas suas palavras. Sobretudo quando as histórias incidem nos relatos das suas viagens e aventuras em terras distantes.
O público é constituído por um grupo de marinheiros que aguarda no cais do porto londrino a mudança da maré que lhes permita embarcar no navio da marinha mercante britânica.
O início da narrativa começa com a descrição da paisagem brumosa do amanhecer em Londres, junto ao cais, o que coincide com o tom, entre o drama e o mistério, com que Marlow pinta o seu discurso.
As brumas vão-se dissipando, progressivamente, à medida que o marinheiro prossegue a sua narrativa, desvendando o mistério, ao mesmo tempo que a paisagem vai, gradualmente, surgindo com as suas cores reais.
A imponência do cenário domina a atenção do leitor, o qual se sente esmagado, pela forma como as linhas agressivas do relevo cortam a linha do horizonte e pela contemplação daquilo que, na paisagem, se conserva imutável ao longo dos séculos – desde o tempo dos invasores romanos, altura em que as ilhas britânicas sofrem a agressão do povo vindo do mediterrâneo com intenções expansionistas.
Para enganar o tédio da espera, Marlow pede um cigarro e, ao entabular conversa com os colegas, evoca a paisagem africana., recordando aquela outra bruma, húmida, diferente da londrina, infernal, que se levanta após o amanhecer na selva e faz evaporar o orvalho gelado que cai durante a noite…
Marlow consegue seduzir os ouvintes ao fazê-los visualizar o mistério da selva e dos seus abismos insondáveis. No seu relato, existe um personagem ao qual ninguém parece ficar indiferente: Kurz, o comerciante – ou traficante –, de marfim.
Kurz é, na realidade um mercenário, embora ao serviço dos interesses do comércio ultramarino britânico. Trata-se de uma ave rapace, tal como as antigas águias romanas, cuja ganância parece não ter limites. No entanto, todos os seres humanos com quem contacta, a caminho do coração das trevas verdes da selva, parecem sentir uma inexplicável veneração por Kurz, o homem que sobrevive a todas as febres e que consegue arrecadar a maior quantidade de marfim para os cofres do Império Britânico. Kurz é o melhor, o mais inteligente, o mais saudável, o mais bem-parecido, o mais….convincente.
Marlow, após uma viagem recheada de aventuras, que inclui a travessia de um rio traiçoeiro de onde os imprevistos surgem de todos os lados – bancos de areia, hipopótamos, crocodilos, canibais, ataque de setas envenenadas por parte das gentes locais que não vêem com bons olhos os invasores, ou simplesmente de bandos de traficantes rivais –, está impaciente de curiosidade em relação a Kurz. Acaba por vir a conhecê-lo um pouco antes destes morrer de febre, tal como o mais comum dos mortais. Uma morte que nada tem de épico nem de heróico.
Para Marlow, Kurz é realmente um homem que tem o poder de fascinar e cujas palavras hipnotizam, da mesma forma que os clássicos condottieri exibem um poder de persuasão capaz de movimentar as massas humanas em bloco. O chefe do posto de comércio de marfim faz lembrar Júlio César na altura em que apresenta ao senado romano a proposta de uma campanha na Gália, com o aparente propósito de pacificar a região, garantindo a paz na Península Itálica e, ao mesmo tempo, civilizar as gentes locais. Na realidade, o verdadeiro objectivo é o de anexar mais uma província ao seu território e dela extrair as riquezas e sob a forma de impostos, aumentando um pecúlio que lhe permitirá financiar a sua expedição ao Oriente e a candidatura a um segundo consulado – o primeiro passo para se tornar dictator.
Os objectivos de Kurz são um pouco semelhantes: ao apresentar um discurso pseudo altruísta, ele pretende na realidade chefiar um império comercial, para se sentir à altura de pedir a noiva em casamento.
As suas palavras estão impregnadas da demagogia usada pelos grandes hipócritas da história, cujo carisma mobiliza multidões. Esta lealdade cega é demonstrada, sobretudo, pelo ingénuo funcionário que acompanha Marlow durante parte da travessia do rio. E também pela cega devoção da noiva de Kurz – uma lady, à semelhança da frágil e, simultaneamente, tenaz Emily Gould, esposa de Charles em Nostromo.
“…respondi com qualquer coisa no coração que parecia um desespero e, de cabeça baixa, perante a fé que existia nela perante uma grande ilusão salvadora que cintilava como um sobrenatural clarão nas trevas…” – trata-se da identificação da jovem com a imagem de uma Eva genesíaca, presa a uma mentira, à ilusão de uma falsa luz – (…nas gloriosas trevas a que eu não consegui furtá-la, nem a mim próprio furtar-me (a humildade de se reconhecer como incapaz de deter em si mesmo o conhecimento absoluto).
O espírito crítico de Marlow está patente na altura em que se submete aos exames médicos necessários antes de embarcar pela primeira vez, encarando os testes e as qualidades – baseadas unicamente na resistência física – necessárias à obtenção de um posto na Marinha, com um certo desdém. Uma subtil contestação à frieza, algo cartesiana, da ideologia dominante na época – o darwinismo social, baseado na premissa da sobrevivência dos mais aptos e de que a sociedade funciona como um organismo vivo.
A mesma subtileza crítica está presente nas entrelinhas quando se refere à missão evangelizadora da colonização, sobretudo na cena com a funcionária pública que faz tricot enquanto espera pelos utentes.
A oposição entre o dogmatismo das convicções de Kurz e o espírito crítico de Marlow, sempre marcado pela dúvida, manifesta-se sobretudo nas últimas páginas. Uma das personagens secundárias chega mesmo a afirmar que “se Kurz tivesse sobrevivido, poderia ter pertencido a um partido extremista”.
Já Marlow mantém-se naquilo que ele próprio define como “zona cinzenta”, entre o preto e o branco, descrente de verdades absolutas e avesso a toda e qualquer forma de extremismo. Marlow adopta uma postura que muito tem a ver com os ideais de Confúcio, ao mesmo tempo que ostenta a serenidade de hierática de um Buda ao comunicar-se com os outros. Mais uma vez, é notória a influência do contacto com as civilizações orientais.
Sem deixar de admirar Kurz, pela paixão com que se entrega às suas convicções no que toca à superioridade dos valores inerentes à civilização britânica e aos seus objectivos materialistas, Marlow caminha pelo mundo com a frieza, a distância e a atitude avaliadora de um Mago Cinzento do tempo dos druidas. A sua omnipresente solidão sobressai como uma ferida aberta pelo bisturi da lucidez, e amplamente alargada por uma experiência de vida muito mais vasta em relação à maioria dos humanos, ocupados «com as suas questões quotidianas e aprisionados numa rotina imutável.
Na ignorância.
O Estilo e a Linguagem de Conrad
O que mais se destaca na escrita de Conrad e que dá à sua prosa a nota de sedução que permite ao leitor embrenhar-se na sua escrita é, em primeiro lugar, a adjectivação, que faz com que o leitor se sinta imediatamente transportado para o local onde decorre a cena.
Ao lermos um romance de Conrad, ficamos com a sensação de estarmos sentados diante de um écran de cinema cuja paisagem, planos, personagens e cenas se desenrolarem diante dos nossos olhos.
Em segundo lugar, a profusão de animismos e personificações, patentes sobretudo a partir do momento em que o leitor entra, juntamente com o protagonista, a bordo da embarcação pertencente à marinha mercante britânica, no coração da selva, subindo o rio, faz com que se sinta como se a floresta o possa engolir a qualquer momento, intensificando gradualmente a sensação de perigo, como se a selva tivesse uma alma consciente semelhante à humana.
A floresta reage como um ser humano ao sentir-se invadida, violada, tratando os exploradores com a hostilidade de um adversário que tenta expulsar um inimigo do seu território. Conrad utiliza posteriormente a imagem de uma rainha africana para dar uma forma física a essa mesma alma da floresta.
O Coração das Trevas é uma narrativa de extraordinária beleza que obriga o leitor a mergulhar naquilo que de mais obscuro existe na natureza humana: a vaidade soberba, a ambição desmedida, alicerçada em falsos valores ou, simplesmente, uma mentira convincente.
E a pensar se, de facto, os fins, na realidade, justificam os meios.
Afinal, numa sociedade cujo pilar é a sobrevivência dos mais fortes, dos que melhor se adaptam, ou dos mais espertos, haverá lugar para a justiça?
Ou para a inteligência construtiva?
E para a solidariedade?
Cláudia de Sousa Dias
Conrad torna-se órfão aos onze anos, altura em que fica sob a tutela de um tio. Em 1874, parte para Marselha onde se alista na Marinha. A sua segunda língua torna-se o francês, mas começa a aprender o inglês aos vinte anos.
Quatro anos após a obtenção do Master’s Certificate e da nacionalidade britânica, abandona a Marinha e decide dedicar-se inteiramente à escrita.
Muitos dos seus romances são inspirados nas suas viagens ao Oriente e aos Mares do Sul. Casa-se na altura da publicação do seu segundo romance, Um Vagabundo nas Ilhas.
Nos seus livros é frequente a crítica ao colonialismo por parte dos países europeus industrializados, não sem deixar de ostentar um certo cepticismo, relativamente ao uso dos ideais mais elevados utilizados como propaganda política ou como máscara para dissimular interesses económicos. Ideais que acabam por, desta forma, esconder a semente da corrupção, na opinião do Autor.
Conrad vem a falecer em Kent, em 1924.
Marlow, o protagonista de O Coração das Trevas é um marinheiro com um talento invulgar para contar histórias e cativar audiências, devido à magia que consegue colocar nas suas palavras. Sobretudo quando as histórias incidem nos relatos das suas viagens e aventuras em terras distantes.
O público é constituído por um grupo de marinheiros que aguarda no cais do porto londrino a mudança da maré que lhes permita embarcar no navio da marinha mercante britânica.
O início da narrativa começa com a descrição da paisagem brumosa do amanhecer em Londres, junto ao cais, o que coincide com o tom, entre o drama e o mistério, com que Marlow pinta o seu discurso.
As brumas vão-se dissipando, progressivamente, à medida que o marinheiro prossegue a sua narrativa, desvendando o mistério, ao mesmo tempo que a paisagem vai, gradualmente, surgindo com as suas cores reais.
A imponência do cenário domina a atenção do leitor, o qual se sente esmagado, pela forma como as linhas agressivas do relevo cortam a linha do horizonte e pela contemplação daquilo que, na paisagem, se conserva imutável ao longo dos séculos – desde o tempo dos invasores romanos, altura em que as ilhas britânicas sofrem a agressão do povo vindo do mediterrâneo com intenções expansionistas.
Para enganar o tédio da espera, Marlow pede um cigarro e, ao entabular conversa com os colegas, evoca a paisagem africana., recordando aquela outra bruma, húmida, diferente da londrina, infernal, que se levanta após o amanhecer na selva e faz evaporar o orvalho gelado que cai durante a noite…
Marlow consegue seduzir os ouvintes ao fazê-los visualizar o mistério da selva e dos seus abismos insondáveis. No seu relato, existe um personagem ao qual ninguém parece ficar indiferente: Kurz, o comerciante – ou traficante –, de marfim.
Kurz é, na realidade um mercenário, embora ao serviço dos interesses do comércio ultramarino britânico. Trata-se de uma ave rapace, tal como as antigas águias romanas, cuja ganância parece não ter limites. No entanto, todos os seres humanos com quem contacta, a caminho do coração das trevas verdes da selva, parecem sentir uma inexplicável veneração por Kurz, o homem que sobrevive a todas as febres e que consegue arrecadar a maior quantidade de marfim para os cofres do Império Britânico. Kurz é o melhor, o mais inteligente, o mais saudável, o mais bem-parecido, o mais….convincente.
Marlow, após uma viagem recheada de aventuras, que inclui a travessia de um rio traiçoeiro de onde os imprevistos surgem de todos os lados – bancos de areia, hipopótamos, crocodilos, canibais, ataque de setas envenenadas por parte das gentes locais que não vêem com bons olhos os invasores, ou simplesmente de bandos de traficantes rivais –, está impaciente de curiosidade em relação a Kurz. Acaba por vir a conhecê-lo um pouco antes destes morrer de febre, tal como o mais comum dos mortais. Uma morte que nada tem de épico nem de heróico.
Para Marlow, Kurz é realmente um homem que tem o poder de fascinar e cujas palavras hipnotizam, da mesma forma que os clássicos condottieri exibem um poder de persuasão capaz de movimentar as massas humanas em bloco. O chefe do posto de comércio de marfim faz lembrar Júlio César na altura em que apresenta ao senado romano a proposta de uma campanha na Gália, com o aparente propósito de pacificar a região, garantindo a paz na Península Itálica e, ao mesmo tempo, civilizar as gentes locais. Na realidade, o verdadeiro objectivo é o de anexar mais uma província ao seu território e dela extrair as riquezas e sob a forma de impostos, aumentando um pecúlio que lhe permitirá financiar a sua expedição ao Oriente e a candidatura a um segundo consulado – o primeiro passo para se tornar dictator.
Os objectivos de Kurz são um pouco semelhantes: ao apresentar um discurso pseudo altruísta, ele pretende na realidade chefiar um império comercial, para se sentir à altura de pedir a noiva em casamento.
As suas palavras estão impregnadas da demagogia usada pelos grandes hipócritas da história, cujo carisma mobiliza multidões. Esta lealdade cega é demonstrada, sobretudo, pelo ingénuo funcionário que acompanha Marlow durante parte da travessia do rio. E também pela cega devoção da noiva de Kurz – uma lady, à semelhança da frágil e, simultaneamente, tenaz Emily Gould, esposa de Charles em Nostromo.
“…respondi com qualquer coisa no coração que parecia um desespero e, de cabeça baixa, perante a fé que existia nela perante uma grande ilusão salvadora que cintilava como um sobrenatural clarão nas trevas…” – trata-se da identificação da jovem com a imagem de uma Eva genesíaca, presa a uma mentira, à ilusão de uma falsa luz – (…nas gloriosas trevas a que eu não consegui furtá-la, nem a mim próprio furtar-me (a humildade de se reconhecer como incapaz de deter em si mesmo o conhecimento absoluto).
O espírito crítico de Marlow está patente na altura em que se submete aos exames médicos necessários antes de embarcar pela primeira vez, encarando os testes e as qualidades – baseadas unicamente na resistência física – necessárias à obtenção de um posto na Marinha, com um certo desdém. Uma subtil contestação à frieza, algo cartesiana, da ideologia dominante na época – o darwinismo social, baseado na premissa da sobrevivência dos mais aptos e de que a sociedade funciona como um organismo vivo.
A mesma subtileza crítica está presente nas entrelinhas quando se refere à missão evangelizadora da colonização, sobretudo na cena com a funcionária pública que faz tricot enquanto espera pelos utentes.
A oposição entre o dogmatismo das convicções de Kurz e o espírito crítico de Marlow, sempre marcado pela dúvida, manifesta-se sobretudo nas últimas páginas. Uma das personagens secundárias chega mesmo a afirmar que “se Kurz tivesse sobrevivido, poderia ter pertencido a um partido extremista”.
Já Marlow mantém-se naquilo que ele próprio define como “zona cinzenta”, entre o preto e o branco, descrente de verdades absolutas e avesso a toda e qualquer forma de extremismo. Marlow adopta uma postura que muito tem a ver com os ideais de Confúcio, ao mesmo tempo que ostenta a serenidade de hierática de um Buda ao comunicar-se com os outros. Mais uma vez, é notória a influência do contacto com as civilizações orientais.
Sem deixar de admirar Kurz, pela paixão com que se entrega às suas convicções no que toca à superioridade dos valores inerentes à civilização britânica e aos seus objectivos materialistas, Marlow caminha pelo mundo com a frieza, a distância e a atitude avaliadora de um Mago Cinzento do tempo dos druidas. A sua omnipresente solidão sobressai como uma ferida aberta pelo bisturi da lucidez, e amplamente alargada por uma experiência de vida muito mais vasta em relação à maioria dos humanos, ocupados «com as suas questões quotidianas e aprisionados numa rotina imutável.
Na ignorância.
O Estilo e a Linguagem de Conrad
O que mais se destaca na escrita de Conrad e que dá à sua prosa a nota de sedução que permite ao leitor embrenhar-se na sua escrita é, em primeiro lugar, a adjectivação, que faz com que o leitor se sinta imediatamente transportado para o local onde decorre a cena.
Ao lermos um romance de Conrad, ficamos com a sensação de estarmos sentados diante de um écran de cinema cuja paisagem, planos, personagens e cenas se desenrolarem diante dos nossos olhos.
Em segundo lugar, a profusão de animismos e personificações, patentes sobretudo a partir do momento em que o leitor entra, juntamente com o protagonista, a bordo da embarcação pertencente à marinha mercante britânica, no coração da selva, subindo o rio, faz com que se sinta como se a floresta o possa engolir a qualquer momento, intensificando gradualmente a sensação de perigo, como se a selva tivesse uma alma consciente semelhante à humana.
A floresta reage como um ser humano ao sentir-se invadida, violada, tratando os exploradores com a hostilidade de um adversário que tenta expulsar um inimigo do seu território. Conrad utiliza posteriormente a imagem de uma rainha africana para dar uma forma física a essa mesma alma da floresta.
O Coração das Trevas é uma narrativa de extraordinária beleza que obriga o leitor a mergulhar naquilo que de mais obscuro existe na natureza humana: a vaidade soberba, a ambição desmedida, alicerçada em falsos valores ou, simplesmente, uma mentira convincente.
E a pensar se, de facto, os fins, na realidade, justificam os meios.
Afinal, numa sociedade cujo pilar é a sobrevivência dos mais fortes, dos que melhor se adaptam, ou dos mais espertos, haverá lugar para a justiça?
Ou para a inteligência construtiva?
E para a solidariedade?
Cláudia de Sousa Dias
16 Comments:
Cláudia, óptima escolha! Já li e achei fantástico, aliás penso que n' "A Selva" o Miguel Vieira poderia ir beber certamente muita inspiração a este livro.
Bjs
È bem possível, Beirão!
É também um dos filmes que vou passar no Cineliterário de 2008!
Tenho de comprar o livro. Mas antes é imperativo comprar "O Milagre segundo Salomé" de José Rodrigues Miguéis que é o livro e filme para o próximo Cineliterário já para o dia 21 de Dezembro, uma 6ª feira. se puderes vir a Famalicão nesse dia, tentya trazer o máximo de malta possível...!
Um beijo
CSD
Tenho este livro na "fila" para ler.
Aguçaste-me o apetite...
Boa semana, beijinhos.
Também para ti, Nilson!
CSD
Não conheço e ...vou...ficar em breve a conhecer ando na minha cruzada com Haruki Masukami e enquanto não os ler todos..não descanso...
entretanto..já está pronto um para os escaparates...ou(ou seja agora é que vem a parte difícil)
"Como matei o ministro".
quem, quem sabe
;-)
bjo
Dois livros e eu sem vir até aqui!
Não li nenhum deles, embora a obra de Ballester me seja familiar. A de Conrad nem tanto.
Um grande abraço
P
Este de Conrad é bastante bonito mas não se compatra à magnitude de Nostromo.
Os finais dos seus romances têm sempre aquele laivo de tragédia de Sófocles, que é algo de que gosto bastante.
Os dois livros que mais gostei de ler nos últimos trinta dias são "O Filomeno" de Ballester e "O Lápis do Carpinteiro" de Manuel Rivas do qual ainda não publiqueio o respectivo comentário, uma vez que tenho vários posts em atraso, tanto aqui como no rendez-vous...
Um beijo e obrigada pela visito e pelo teu gosto em ler-me!
CSD
o título está muito bem pra mim cláudia!!
mais um prá fila.
nunca li sequer nada do autor!...:(
beijO Grande
Aqual deles, UnDress?
:-)
"Heart of Darkness" é um dos meus romances prediletos (entre os quais, alguns do seu conterrâneo, o Saramago).
O que mais me impressiona no livro do Conrad, e não sei se você concordará comigo, é a plena integração entre o estado mental das personagens, o cenário e a adjetivação empregada.
Exemplo: durante a navegação de cabotagem, Marlowe se refere às arvores como "estivessem em trânse" e "não fossem deste mundo". A impressão que ele tem das árvores é a mesma que, digamos, as árvores têm dele, porque, neste ponto, ele ruma em direção ao 'coração das trevas' e está num estado de encantamento sombrio (o "trânse" das árvores) com este novo mundo (desconhecido por ele).
Enfim, é um livro fantástico!
--
A primeira vez que entrei no seu blog foi por conta do post sobre "Os Maias", do Eça. Recentemente também escrevi umas palavrinhas sobre o livro e a série de TV. Por isso, acabei chegando aqui. Gostei muito deste blog. Aliás, não sei se a série foi exibida aí em Portugal. Vale a pena vê-la.
Abraços!
É verdade, Guilherme!
Quando falo dos animismos e personificações em Conrad é a isso que me refiro.
Quanto a "Os Maias", a série passou de facto aqui em Portugal, mas em horários impossíveis.
Gostaria muito de revê-la...
Um abraço.
Olá|
Achei muito interessante o seu blog...
Poderia me dar uma dica?
Eu quero comecar a ler Borges, qual a obra, ou quais as duas obras, mais - imagino que sejam muitas - consagradas, que você me apontaria?
Obrigado.
renato.bsas@hotmail.com
Olha, para já, ainda só li "Ficções" mas penso que a sua obra poética será um excelente começo...
CSD
Muito boa a proposta do blog, de uma maneira geral. Mantenho, um semelhante, embora voltado a livros técnicos (http://dialogoscomadoutrina.blogspot.com/) e outro, que talvez se mostre de seu interesse, dedicado a Beethoven e Wagner (http://dialogoscombeethovenewagner.blogspot.com/). Quanto ao Coração das trevas, propriamente dito, trata-se de um dos maiores romances que já tive a oportunidade de ler. Vejo nele, também, uma das mais interessantes reflexões, no caso de Kurtz, sobre uma fidelidade extrema não correspondida que, de repente, chegada ao limite da resistência - a Companhia queria os resultados independentemente de os homens por ela enviados virem ou não a sucumbir pela absoluta falta de condições mínimas de trabalho (aliás, nem mesmo os rebites para unir as chapas da embarcação de Marlow ela providenciara) -, vem a se converter no seu oposto, a hostilidade. A passagem em que é descrita a meia volta depois do último carregamento de marfim é emblemática. De simples serviçal, vem a se converter numa espécie de Deus, para terminar seus dias melancolicamente, num sussurro, resumindo, entretanto, todo o irracional com que tivera de conviver, num primeiro momento, encoberto pelas sedas da civilização européia, com a besta latente, desejosa de explodir, e num subsequente, com a besta já desnudada, com as sedas rasgadas. Kurtz asselvaja-se, sem sombra de dúvida, e seu único elo com a civilização é a sua Prometida - a única pessoa para quem Marlow, por compaixão, é obrigado a quebrar a sua regra de jamais mentir -.
Estou a acabar de ler este maravilhoso livro e fiquei encantada com o modo como o descreveu.
Muito obrigada, pois foi um grande contentamento lê-la.
Um abraço de parabéns
Elisabete Sousa
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