"O sonho Masai" de Justin Cartwright (ASA)
Um romance que se lê com volúpia, humor e muito espírito crítico
Justin Cartwright nasceu na África do Sul e vive, actualmente, em Londres sendo, já desde o início da sua carreira literária, considerado pela crítica especializada como um dos mais interessantes escritores ingleses contemporâneos.
Em O Sonho Masai, o Autor explora os processos de aculturação sofrida pelos povos daquele reguião equatorial africana, sob forte influência da cultura britânica manifesta nos hábitos, padrões de cultura e normas de conduta daquele povo emblemático da nação Queniana.
Mas o que torna esta obra realmente interessante, sobretudo para os apaixonados das ciências sociais (com especial destaque para a antropologia e sociologia pela referência constante a nomes como Margaret Mead, Émile Durkheim, Marcel Mauss e Claude Lévi-Strauss) é o facto de este autor ousar estabelecer uma analogia entre os hábitos considerados "selvagens" da cultura da sociedade Masai e os da Europa da Segunda Guerra Mundial.
O conteúdo da obra oscila ao ritmo de duas histórias, contadas em paralelo, situadas em duas épocas diferentes: nos anos 1990 do séc.XX, o escritor Tim Curtiz é encarregue de elaborar um argumento para um filme sobre a etnóloga judia Claude Casson, a qual dedicou a sua vida profissional ao estudo da cultura Masai, nos anos 30, e ao regressar à Europa, durante a 2ª Guerra Mundial, acaba por falecer em Auschwitz, vítima da selvajaria ariana e da cegueira mental da própria família. Tim recolhe elementos da vida de Claude, através do testemunho de personagens suas contemporâneas e recorre, frequentemente, ao uso da analogia. Liga, desta forma, a sua vida pessoal e afectiva à da etnóloga acabando por estabelecer um fio condutor que une o passado ao presente.
Ao longo de todo o desenrolar da narrativa, o leitor tem a sensação de estar a assistir a um documentário da BBC. Pela alternância permanente entre cenas passadas num e noutro ambiente, o leitor mais atento é obrigado a repensar o conceito de "selvagem", pela comparação de comportamentos individuais e colectivos inerentes às duas culturas.
As descrições são pormenorizadas, detalhistas e dotadas de um realismo brutal, assemelhando-se, por vezes, às de Patrick Süskind em O Perfume (como a descrição do ambiente infecto de uma sala de cinema, no 1º capítulo).
Um livro humanista e demolidor no que toca à destruição de estereótipos e preconceitos. Suculento para quem é dono de uma mente aberta, a permitir olhar para as civilizações do ponto de vista do relativismo cultural e do interculturalismo. Ideal para quem gosta de pensar.
Cláudia de Sousa Dias
Labels: Repostagem repescada do arquivo morto de Fevereiro de 2005
6 Comments:
Pantera, olha o piar da gralha
nos anos 19990 do séc.XX, o escritor Tim Curtiz é encarregue de elaborar um argumento para um filme
Já está corrigido!
;-)
csd
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Obrigada:)
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acabei de passar...
:-)
csd
Essa colecção da Asa é excelente, tenho vários exemplares, um dos quais é uma das minhas obras preferida.
Bjsss,
Madalena
então já o leste?
que espectáculo...
csd
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