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Friday, June 25, 2010

“As Novas bruxas do Ave” de Luísa Monteiro (Campo das Letras)




O primeiro livro de ficção de Luísa Monteiro é um autêntico cocktail molotov lançado no coração de uma das regiões do País onde a mentalidade parece ainda reger-se pelos cânones do Estado Novo no tocante aos tabus relacionados com a sexualidade. Um facto que parece andar, paradoxalmente, de mãos dadas com o comércio do sexo, discretamente camuflado em “casas de alterne”.

As novas bruxas do Ave é uma obra que denuncia as marcas da actividade jornalística da Autora no tocante ao jornalismo de investigação e que são projectadas na criação literária cujo estilo orienta a narrativa que se caracteriza pela beleza e acuidade visual invulgares nas descrições e pela meticulosidade com que se sucedem os passos da investigação levada a cabo pela protagonista, o que denuncia, por si só, um profundo conhecimento de causa, dotando a personagem Virgínia Luís de verosimilhança o que lhe confere credibilidade. Luísa Monteiro constrói uma personagem que tem quase tanto de escritora de narrativas como de detective. A acção passa-se numa imaginária – ou não – Cidade dos Pássaros, situada algures no Vale do Ave.

Os dois narradores principais, contam a estória, cada qual pelo seu ponto de vista, que podemos observar como simétrico, um em relação ao outro, se imaginássemos a história filmada a partir de dois ângulos opostos e dentro do mesmo espaço ou raio de acção. Ambos são participantes e acabam por assumir um papel central na história, a qual se conjuga, no final, como dois pedaços do mesmo mapa, dando ao leitor a visão global dos acontecimentos. Virgínia e Orlando são as duas faces da mesma moeda. Orlando, a visão do fenómeno pelo lado masculino e Virgínia a co-protagonista o lado feminino. Os olhos de Orlando começam por se sentir atraídos pela figura misteriosa de Virgínia como o seu alter-ego feminino. Ou a visão feminina de Orlando do outro lado do espelho: dois gémeos, gerados por Luísa Monteiro, inspirada na sua musa de eleição, Virginia Woolf. Orlando resulta directamente de uma intertextualidade com a obra de Woolf mas Virgínia Luís poderia mesmo ser o alter-ego de Luísa Monteiro: ambas partilham a actividade compulsiva de escrever, desdobrando-se tanto na escrita criativa como na investigação jornalística. A protagonista, no caso da morte de uma prostituta adolescente da encantada Cidade dos Pássaros, vai aos locais interditos entrevistar pessoas envolvidas, conhecidos, informadores qualificados para colher elementos para a sua história. Virgínia é observada e avaliada por Orlando, o seu duplo, que a identifica como uma mulher enigmática, mas revestida de uma aura de romantismo:

Era uma mulher bonita, cabelos curtos e negros, triste e madura. Mas começa a inquietar-se face à insistência do meu olhar (…). Era a mulher das ancas largas, vestida de negro.

Curiosamente, na altura em que Orlando assume o protagonismo, Virgínia adopta uma posição perfeitamente marginal na trama, embora seja perceptível que está constantemente a executar o papel de observadora.

Orlando dá corpo à história que envolve a vida quotidiana e a forma de se projectar para o exterior de Janinha Labareda.

Joana era jovial, uns olhos muito azuis, quase violáceos, uma boca carnuda, rosto redondo, pálido, cabelos acobreados, pelos ombros, uma franja rara…

Os olhos azul-cinza com aura violeta e cabelos fulvos, dão a Janinha algo de tentador, vagamente sinistro, logo a partir da primeira cena, quando entabula diálogo com Orlando na sala de espera do Centro de Saúde. Um comportamento envolvente e insinuante que, no entanto, perece sempre manter uma grande reserva em relação à vida pessoal, principalmente no tocante à actividade do marido, fazem pensar num ser mefistofélico, ou de dupla personalidade. O tom melífluo que usa para cativar um estranho bem-apessoado como Orlando contrasta violentamente com a linguagem utilizada em contexto familiar e, sobretudo com o descaso em relação ao filho, impedem-na de cativar a simpatia dos leitores. Algo de sombrio paira à volta desta Janinha de olho de chama azul e cabelos a lembrar labaredas. Algo nela parece queimar. Ou, pelo menos, causar desconforto.

Janinha é oriunda de uma família humilde. A mãe é feirante, separada do marido alcoólico, vive para o trabalho arcando com a responsabilidade de criar cerca de uma dezena de filhos sozinha. Consegue juntar dinheiro para uma padaria e acaba por dar estabilidade aos seus como se pode observar na cena que descreve o almoço familiar em que Orlando figura como convidado. Janinha vive, por seu lado, para o lazer e a ostentação. Trata a mãe como empregada. Sob o olhar atento de Orlando, não consegue explicar a origem dum Audi 80 nem das roupas caras. Contudo nem a beleza nem a exibição de poder aquisitivo conseguem esconder uma educação rude. Os irmãos trabalham quase todos, embora a maior parte deles de forma precária.

Virgínia é, nesta fase, e sobretudo ao fora do ambiente desconcertante e, de certa forma opressivo da casa de Joana, alvo do interesse e curiosidade de Orlando, que se sente atraído pela sua discrição e melancolia. Mas a ela, por seu turno, interessam-lhe as estranhas movimentações das personagens femininas da aparentemente pacífica Cidade dos Pássaros: Virgínia Luís dedica-se a escrever as crónicas da cidade, cujos habitantes acabam por transformar-se nas suas personagens, colocadas no limbo entre a ficção e o “real”.

O tema explorado é o que terá o mais intenso sabor ao "proibido” numa sociedade sexualmente reprimida: a complexa vida sexual, oculta das mulheres da Cidade.

A prostituição que vai proliferando entre as adolescentes, ainda nos bancos da escola, para sustentar um estilo de vida muito acima das possibilidades financeiras reais é outro tema “quente”, explorado nas narrativas de Virgínia Luís.

As mulheres da Cidade dos Pássaros parecem camuflar a própria sexualidade manifesta de forma latente e oculta pela protecção social que dá o estatuto de “mulher casada”. Um secretismo que esconde apetites eróticos, considerados tabu pela cultura judaico-cristã. Mas o mesmo estado civil serve, por vezes, também, para esconder o fenómeno da prostituição no seio familiar, associada a fenómenos de proxenetismo/lenocínio.

Virgínia Luís vai puxando o fio que liga uma complicada teia, relacionada com o crime e o mundo paralelo do tráfico humano, após o aparecimento de uma adolescente, morta em circunstâncias suspeitas. O lado mais crítico da narrativa de Luísa Monteiro aparece durante o curto capítulo narrado por Borboleta, a cadela de uma das personagens mais superficiais do romance, mas que desempenha um papel fundamental na trama, aproxima-se muito do estilo narrativo desconcertante de Antonio Tabucchi.

A Estrutura da narrativa

A obra As novas bruxas do Ave possui uma estrutura trifásica, à qual é acrescentado um epílogo. Na introdução, ficamos a conhecer a maior parte da galeria de personagens. A narração cabe, nesta fase, a Orlando, o qual pretende contar uma história que “julga ser de amor” (mas tem dúvidas). É através de Orlando que somos introduzidos no quotidiano da família de Janinha.
O elemento crítico – uma vez que os outros narradores são neutros na emissão deopiniões ou juízos de valor – surge na segunda parte, pela voz humanizada da cadela Borboleta. Borboleta é como o narrador de Papalagui: é um ser exterior ao mundo humano, à cultura dos habitantes da Cidade dos Pássaros. É denunciadora das contradições do comportamento humano – e das pessoas com quem vive em particular. Borboleta possui o olhar mais observador e omnisciente da obra, precisamente por sair “fora dos estereótipos que os cegam parcialmente os homens e as mulheres.

O desenvolvimento da narrativa está a cargo de Virgínia, que vai compondo o volume de crónicas, à medida que decompõe, uma a uma, as personagens que habitam A Cidade e se vai deparando com os elos de ligação entre elas.

A capacidade de observação de Virgínia permite-lhe descrever cada movimento corporal, cada gesto, cada expressão facial, trejeitos musculares, olhares, com precisão clínica, denunciado quer a perspectiva da voz interior quer o significado ritual, enculturado, do mesmo comportamento, tal como fazem os antropólogos. O exemplo mais flagrante é a cena na casa de alterne descrita por Virgínia.

Na última Parte, que faz as vezes de epílogo, encaixam-se todas as peças do mesmo puzzlle, após o que tomamos consciência das ligações surpreendentes vindas do intrincado novelo que envolve as restantes personagens secundárias.

Estilo, Linguagem e Erotismo em Luísa Monteiro

A escrita de Luísa Monteiro estende-se por uma deslizante uma prosa poética, marcada pela linguagem onde impera o paradoxo, que se alia, por sua vez, a uma invulgar capacidade de causar consternação. O leitor sente-se surpreendido e provocado quase que de frase em frase. A mais evidente ousadia da Autora é a personificação atribuída à cadela Borboleta, a qual identifica e racionaliza comportamentos e elementos culturais, tece comparações envolvendo elementos do seu quotidiano com figuras do mundo literário, servindo-se delas para criticar os habitantes da sua casa. A introdução de uma cadela como narradora cria, mais uma vez, uma intertextualidade com a obra de, Virginia Woolf: Orlando como se vê na epígrafe explicativa do capítulo:

Se alguma dúvida houvesse
no entendimento humano,
a atitude dos veados e dos cães
bastaria para dissipá-la pois,
como se sabe, os animais
são muito melhores juízes que nós
em assuntos de carácter e identidade
.

Virgínia Woolf in Orlando

A linguagem e o discurso sofrem alterações consoante a origem social e o carácter das personagens: O Orlando e A Virgínia de Luísa Monteiro são educados, contidos, delicados com toda a gente. Raramente dizem algo de grosseiro. Mas a esmagadora maioria das personagens de As novas bruxas do Ave são identificadas pelo vocabulário e expressões rudes ou pelas atitudes agressivas como Nita ou Janinha. A esta última acresce também uma grande dose de imaturidade, ausência de independência económica. Quase todas as personagens femininas desta história têm muito poucas qualificações ou empregos qualificados (excento a cunhada de Janinha), o que acaba por colocá-las em situação vulnerável.

A cor é também simbólica em Luísa Monteiro. A presença de cores sombrias como o azul e o negro são muitas vezes indicadores de um carácter melancólico ou introspectivo como o de Virgínia. Ou então, associadas a uma personalidade destrutiva, como é o caso de Joana. O principal indício é o fogo azul-violáceo de uns olhos “cor de chama moribunda”. Joana ou Janinha, veste também, muitas vezes, de preto. O contraste em a cor de um céu sombrio do olhar, cabelos de fogo e o abismo do negro parecem insinuar uma personalidade com algo de misterioso, oculto, sinistro. Uns olhos de chama azul prontos a calcinar formas encantadoras, tecedoras de sortilégios das novas bruxas do Ave, que já não recorrem propriamente às mezinhas tradicionais.

A cena erótica protagonizada por Orlando e uma misteriosa rapariga nos primeiros capítulos adquire um teor fortemente realista sem, contudo, cair em eufemismos, lugares comuns ou, simplesmente, na vulgaridade. Tal como a tentativa de sedução de Virgínia levada a cabo por Clara, a dona de Borboleta. O discurso de Luísa Monteiro atinge o ponto de equilíbrio perfeito entre o despudor e o estilo literário. A obra é em si, toda ela, eivada de um forte teor realista guarnecido a prosa poética. No entanto, Luísa Monteiro nunca cai na tentação de usar as cenas de sexo como espectáculo. Por outro lado, a voz do narrador dá-nos sempre a perspectiva do cenário e das movimentações das personagens como se estivéssemos atrás de uma câmara de filmar de um dado ângulo para passar ao lado oposto do mesmo cenário quando muda o narrador.
As novas bruxas do Ave acaba por ser um original romance policial, como resultado da investigação de Virgínia Luís ao decidir desvendar os segredos da Cidade dos Pássaros e encontrar todo um submundo do crime, uma espécie de parasitismo, alimentado por sentimentos de vergonha e culpa, fruto de e uma cultura sexual baseada em padrões de comportamento obsoletos a servir de base a uma falsa moral e alimentar insuspeitados horrores.

A Cidade dos Pássaros é o lugar onde reina o materialismo em detrimento da lucidez e da valorização do saber. O valor do trabalho desaparece numa sociedade que vive de aparências. E o chauvinismo perece estar omnipresente em todas as gerações: na Cidade impera o domínio do género masculino, patente na linguagem rude, de teor sexual, a pressupor a submissão das mulheres e que está directamente ligado ao exercício do poder. O expoente máximo deste paradigma está contido na cena de violação de Virginia pela masculina Nita.

Um livro que incomoda e fascina. Tal como a proximidade do abismo. Petrificante, como o olhar da Medusa.


Cláudia de Sousa Dias

9 Comments:

Blogger Ricardo Antonio Lucas Camargo said...

É interessante que o Estado Novo português, contemporâneo de duas ditaduras brasileiras - o Estado Novo de Getúlio Vargas, de 1937 a 1945, e o regime castrense inaugurado em 1964 e terminado em 1985 -, tivesse um fortíssimo componente religioso católico que nas nossas ditaduras não era um traço do regime, mas tão-somente de alguns de seus integrantes (o próprio Vargas era positivista, discípulo que era dos seguidores de Comte Borges de Medeiros e Júlio de Castilhos). De qualquer sorte,o problema de, ao mesmo tempo, tratar-se o sexo como "tabu" e frutificar a sua conversão em objeto de comércio, o caráter aparentemente pacífico das cidades interioranas, escondendo, na realidade, a possibilidade da violência explodir na sua forma mais crua, faz-me lembrar, além da reminiscência confessada de Virginia Woolf, tanto o Émile Zola de "Nana" quanto o Aluysio Azevedo de "O cortiço". Curiosamente, Virginia Woolf também tem um romance cuja personagem principal é um cão, "Flush".

3:00 AM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Sim é mais uma piscadela de olho da Autora a Viginia Woolf.

Quanto ao resto entende-se pelo desejo de controlo da sexualidade feminina. Salazar e a Igreja nunca gostava de mulheres emancipadas mas da sexualidade puramente ao serviço do macho.

Não me interprete mal, isto é a penas a conjuntura da localidade, nas cidades a realidade já é um pouco diferente. A situação varia e muito, face à situação económica da mulher e do acesso à empregabilidade.

Mas a actual crise económica por um lado e a ausência de qualificações pelo outro, ameaçam tornar a situação precupante...


csd

12:29 PM  
Blogger Ricardo Antonio Lucas Camargo said...

Nas grandes cidades, com certeza, a situação feminina costuma ser de muito maior liberdade do que nas localidades interioranas: esta realidade também se verifica no Brasil, onde - só para ficarmos no Estado de São Paulo, onde nasci - temos tanto a maior metrópole da América Latina, onde se considera que a mulher, tanto quanto o homem, caso deseje ser respeitada, tem de ter uma profissão, quanto localidades em que a iluminação ainda se faz à base do lampião de querosene, e se tem a mulher como "criada para casar, para ser freira ou para ficar para titia", malvista se resolver trabalhar. Este tema da sexualidade feminina passiva enquanto uma das manifestações do poder patriarcal foi objeto de exame emum clássico da sociologia, o "Casa grande & senzala", do pernambucano Gilberto Freyre, no qual se aponta, inclusive, o estímulo à devassidão aos filhos dos potentados econômicos, aos filhos da "Casa grande".

3:57 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

:-)

Não li,

Mas parece-me intteressante.


:-)


csd

1:23 AM  
Blogger Ricardo Antonio Lucas Camargo said...

Por certo que o é. Dentre as obras sociológicas brasileiras da primeira metade do século XX, é das que ocupam o primeiro plano, junto com o Coronelismo, enxada e voto, do Victor Nunes Leal, Os donos do poder, do Raymundo Faoro, estas duas voltadas ao exame do tratamento da coisa pública como coisa privada do homem público, Os sertões, do Euclides da Cunha - que documenta um massacre ocorrido no final do século XIX, quando o exército brasileiro, da República recém-proclamada, moveu uma guerra de extermínio a uma população de miseráveis que seguiam um fanático religioso, conhecido como Antonio Conselheiro, e que foi testemunhado pelo próprio autor, tema retomado por Mario Vargas Llosa em seu A guerra no fim do mundo -, Raízes do Brasil, do Sérgio Buarque de Hollanda - cujo filho, Chico, é bastante conhecido como compositor e romancista -. Quanto à questão abordada no romance, do declínio do saber e da lucidez em nome do manter as aparências - algo que me remete, também, à película "La régle du jeu", de Jean Renoir (1939) -, é uma preocupação que compartilho, uma vez que a irracionalidade dos tempos correntes se tem colocado no sentido de uma auto-vangloriada ignorância, em que cada proposição que não tenha passado pela homologação de tal ou qual meio de comunicação é imediatamente tachada de herética, de suspeita.

3:17 AM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

é um fenómeno cada vez mais premente, Ricardo.

Por aqui, até proibema leitura pública de textos de saramago nas rádios locais.


Para que as pessoas continuem a não pensar.


csd

1:22 PM  
Blogger Ricardo Antonio Lucas Camargo said...

A título de humor, um dado, entretanto, verídico: na época do início do regime castrense, no Brasil, quiseram apreender o livro de Stendhal, O vermelho e negro, porque, pelo título, certamente deveria conter alguma "propaganda comunista". Pelo menos, ainda não tentaram riscar do rol das obras do gaúcho Érico Veríssimo (1905-1975) - o pai do humorista Luís Fernando Veríssimo - os romances "O senhor embaixador" e "Incidente em Antares", ambos virulentas sátiras ao regime que se instaurara aqui em 1964. Mas, pelo visto, já estão querendo "apagar o Prêmio Nobel da fotografia", "Portugal nunca recebeu o Prêmio Nobel de Literatura" e outras coisas desta natureza...

10:48 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

típico...os censores nunca foram propriamente cultos...nem pensadores. aliás o trabalho deles é fazer com que os outros não pensam.

csd

10:18 AM  
Blogger Ricardo Antonio Lucas Camargo said...

Soube, agora, do episódio da Revista Playboy, aí em Portugal, que vai parar se circular pelo fato de se ter reportado a Saramago. Quer dizer, eles não consideram um problema a aludida publicação converter a sexualidade em mera mercadoria, mas vêem um grave problema na referência a Saramago (cuja grandeza, a rigor, dispensa este tipo de "homenagem", a bem de ver, mero pretexto para avacalhar com a Igreja romana, como se tudo o que se colocasse contra esta fosse homenagem a Saramago. Nada tão parecido com o final do século XIX, quando Eça verberou certos jornais puritanos que viam em cada borracho que pronunciasse obscenidades em público um "discípulo de Zola", que este início do século XXI). Algo muito parecido com o que ocorria no Brasil da época do regime castrense, quando se considerava mais tolerável a proliferação de películas cinematográficas pornográficas ou então de horror, do que qualquer coisa que tivesse um cheiro que fosse de "subversão" (o filme "Z", de Costa-Gavras, por exemplo, até 1985, não pôde passar no Brasil).

12:53 AM  

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