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Monday, May 17, 2010

História abreviada da Literatura Portátil de Enrique Vila-Matas (Assírio & Alvim)




O Autor tece uma análise crítica, recorrendo à sátira, para caracterizar o comportamento dos elementos que fizeram parte de um determinado movimento literário, muito em voga nos anos 1920.


Os denominados “escritores de literatura portátil” preconizavam um determinado estilo de vida, projectado na escrita,o qual se traduzia numa atitude perante a vida marcadamente divertida, lúdica e por um discurso sarcasticamente mordaz. Estas eram os principais traços da então chamada “literatura portátil”. Esta teve a sua génese na Europa e foi, depois, exportada para outros continentes. A principal ambição dos “escritores portáteis” consistia em ser shandy – vocábulo típico do dialecto de algumas localidades situadas no Yorkshire que significa “alegre”, “volúvel” ou “louco”. Pretendia-se, com esta atitude perante o mundo, fazer a apoteose dos “pesos ligeiros da história da literatura”, passando a rotular-se de “insuportáveis” as obras “intransportáveis”.


As características dos Shandy

Para se ser shandy e escrever literatura considerada portátil - e, portanto, “suportável” - seria necessário ao escritor ter uma considerável dose de irresponsabilidade o que significava permanecer solteiro ou, pelo menos, actuar como se o fosse. Era necessário ser-se hiperactivo sexualmente, de forma a ser-se um “artista portátil” ou seja, alguém que se pode levar facilmente a qualquer parte.

Os shandy eram, por isso, pessoas de espírito inovador, sexualidade extrema, ausência de grandes propósitos, nomadismo infatigável, tensa convivência com a figura do duplo (o interlocutor imaginário), simpatia pela negritude e exímios no culto da arte da insolência.

Esta insolência é exaltada pelos “portáteis” shandy devido à capacidade de prontidão de resposta que lhe está subjacente, à facilidade em quebrar normas e crenças pré-estabelecidas, atacando “um inimigo poderoso mas lento” com a velocidade de um relâmpago.

Deste grupo de excêntricos literatos faziam parte Marcel Duchamp – o qual fazia a ponte entre o escritor e o artista plástico – Tristan Tzara, Georgia O’Keefe – pelas mesmas razões de DuchampCesare Varese, Paul Morand, Jacques Rigaut, Alaister Crowley e até Scott Fitzgerald e - pasme-se – Fernando Pessoa.

Escritores amados e odiados eram vistos como “delinquentes” para autores como Hermann Broch. Vila-Matas descreve-os com olhar de antropólogo, ao qual junta uma fina ironia que se transforma numa espécie particular de humor que se revela uma iguaria rara. No prefácio, Vila Matas descreve-os como escritores turcos de tanto tabaco e café que consumiam, amantes da escrita quando esta se transforma na experiência mais divertida e também na mais radical.

A obra consiste numa série de contos/ narrrativas que descrevem as hilariantes aventuras desta louca sociedade semi-secreta, onde não falta a presença de belas mulheres fatais, algumas delas também escritoras, indispensáveis a qualquer “máquina solteira” (masculina) que lhe permita funcionar com falsa eficácia e sem medo de avariar.

A superficialidade e a extravagância são os principais traços de personalidade das personagens desta História abreviada da Literatura Portátil, cujas loucas reuniões são deliciosamente pintadas por Enrique Vila-Matas, numa obra tão portátil como a literatura daqueles que a inspiraram, profusamente recheada de condimentados mexericos, narrados à semelhança das peripécias de Alice no País das Maravilhas de Lewis Carroll. Porque os shandy são personagens que, no convívio social, têm um comportamento tão extravagante e marcado pelo nonsense como o Chapeleiro Louco de Carroll.

História abreviada da Literatura Portátil torna-se uma obra susceptível de ser lida em voz alta, de forma a ser partilhada, para desfrutar em grupo das divertidas peripécias protagonizadas pelas suas personagens, cuja loucura é o meio de que se servem para desdramatizar as suas próprias tragédias pessoais, o vazio das suas vidas, o tédio, que as ameaça como o pior dos monstros. O riso é, assim, colocado num pedestal como uma potente arma contra a morte – sobretudo a morte pelo suicídio que ataca muitos dos escritores, sobretudo os que não são portáteis. Mortes sem explicação aparente cujo absurdo se revela ao colocar a nu as contradições que norteiam o comportamento humano e…rindo-se delas.


A sociedade Shandy é o remédio contra o excesso de seriedade nas sociedades da era pós-vitoriana, cuja ética assentava numa moralidade repressiva.

Esta História abreviada da literatura portátil torna-se, portanto, indispensável para todos aqueles para quem o riso está ausente do quotidiano.


Cláudia de Sousa Dias


4 Comments:

Blogger Rosa dos Ventos said...

Gostei da informação!
Nunca tinha ouvido falar deste tipo de literatura...

Abraço

1:28 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

é mais um estilo de vida do que um estilo literário...


csd

1:48 PM  
Blogger Gerana Damulakis said...

Não vejo a hora de ter mais este Enrique Vila-Matas entre as mãos. Sou fascinada pelo estilo dele.

5:36 AM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Que bom...Por aqui, em terras lusitanas, não é um autor muito conhecido.

Quero eu dizer com isto que não é um autor que cative as massas, mas aqueles que possuem um gosto especialmente refinado em termos literários.

CSD

10:40 AM  

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