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Friday, July 09, 2010

"Presságio de Fogo" de Marion Zimer Bradley (Difel) e "A Canção de Tróia" de Colleen McCullough (Difel))



O rapto de Helena de Esparta e a guerra de Tróia: o mesmo episódio histórico sob dois pontos de vista opostos, isto é, o dos vencedores e o dos vencidos. São duas diversas, porque opostas, formas de descrever o cenário que deu origem à epopeia A Ilíada do poeta cego Homero. Tanto, que nem parece tratar-se da mesma história.




Em Presságio de Fogo, Marion Zimmer Bradley mostra-nos o cerco da cidade de Tróia, descrito por Cassandra, a princesa visionária. As heroínas são as mulheres e o olhar é feminino. Feminino e feminista uma vez que são elas quem, na realidade detém o poder da vida e da morte que asseguram a sobrevivência encarregando-se das colheitas e das tarefas do quotidiano que mantém acesa a chama do lar, enquanto os homens brincam às guerras e aos soldados.




Helena, a beldade suprema, incarnação de Aphrodite possui o encanto que actua, no entanto, como uma maldição, sobretudo com os homens, embora nem mesmo as mulheres consigam ser-lhe indiferentes; Andrómaca, mulher de Heitor, a esposa exemplar; Hécuba, rainha e mãe, sofre com a morte dos seus filhos e a destruição da cidade; e, claro, Cassandra, a narradora omnisciente mas que, apesar da suprema inteligência e coragem com que foi dotada, será, pela maldição do deus Apolo, condenada ao descrédito dos homens incapazes de reconhecer o méritro e o valor de uma mulher superior.




Uma narrativa fascinante que nos permite vislumbrar o mundo e o imaginário femininos e até a ambígua sexualidade da Mulher na Antiguidade. A Autora empenha-se em espelhar em figuras femininas arquetípicas da Antiguidade, a capacidade de amar, a coragem na adversidade, e a demonstração do sublime nas suas várias dimensões em detrimento da brutalidade e ambições mesquinhas dos homens, numa sociedade onde estes só se alcançam o prestígio através da guerra. Salvo duas honrosas excepções: o brilhantismo, a astúcia e o talento diplomático de Ulisses (destituído da ambição desmedida dos seus companheiros de armas) do lado grego; o encanto de sedutor de Eneias, do lado Troiano. Mas ambos são apadrinhados ou melhor "amadrinhados" por duas deusas: Athena e Aphrodite, respectivamente. Trata-se de duas personagens que detêm, também, um papel preponderante em A Canção de Tróia, de Colleen McCullough, embora caracterizadas de forma totalmente diferente: aqui, a astúcia de Ulisses atinge laivos de cinismo, num homem que não se detém perante limitações de ordem ética. Alguém para o qual os fins justificam os meios. Já Eneias, por seu lado, perde grande parte da nobreza de espírito que o caracterizava na obra de Bradley, apresentando-se como um indivíduo frívolo, narcisista e afectado.




O conteúdo da narrativa de A Canção de Tróia parece estar bastante mais próximo da versão de A Ilíada do autor original - Homero. Esta autora australiana que à data da publicação tinha já encetado a obra épica O Primeiro Homem de Roma, onde a personalidade de Lucio Cornélio Sila poderá ser confundida com a do seu Ulisses e a de Júlio César com este Eneias que ostenta laivos de pedantismo. McCullough conta-nos a história do ponto de vista grego e masculino, criando um forte contraste com a versão feminista de Marion Z. Bradley. Aqui, a narração distribui-se pelos principais intervenientes no enredo, os quais nos dão a conhecer o seu próprio ponto de vista, motivações e personalidade. É assim que ficamos a conhecer o brilhantismo estratégico e táctico de Aquiles, a coragem de Heitor, a capacidade de amar de Pátroclo, a ambição ilimitada de Agamémnon, o peso da (i)responsabilidade de Príamo, a luxúria de Helena, a única narradora feminina.




Cabe assim ao leitor juntar as peças do puzzle e tirar as suas próprias conclusões. As mulheres perdem, em A Canção de Tróia, a maior parte do protagonismo passando - com excepção de Helena - à categoria de figurantes.




A Canção de Tróia exalta, sobretudo a solidariedade (e, em alguns casos, o amor) entre companheiros de guerra e nações que se unem para conseguir um objectivo comum: recuperar a esposa de um Aliado, "raptada" pelo inimigo também ele estratégico, o príncipe troiano, herdeiro de um reino que é o principal obstáculo à hegemonia do Aqueus no Ponto Euxino: a federação das cidades-estado gregas pretendia obter o controlo das rotas comerciais marítimas, nomeadamente o controlo do Bósforo que dá acesso ao Mar Negro e que se encontrava, então, sob o domínio troiano, facto que também é mencionado em Presságio de Fogo.




Uma chamada de atenção para o contraste entre os motivos manifestos e os motivos latentes que estão, na maior parte das vezes, na origem de uma guerra. Tal como nos dias de hoje.




Dois romances históricos a expor o verso e o reverso do mesmo episódio histórico. Um e outro povoadoas de personagens arrebatadoras que, para além dos nomes, têm em comum a sujeição à irrevogabilidade do Destino e ao capricho dos deuses; a alvorada de uma revolução religiosa, que obriga a pensar onde acaba o respeito pelos deuses e começa a loucura dos homens.




Trata-se, além disso, de uma época fascinante porque coincidente com a transição de uma sociedade matrilinear, onde impera o poder da Mmulher para uma outra, regida pelo arquétipo masculino. Dois mergulhos, sob ângulos diferentes, num dos episódios mais sedutores da história da civilização ocidental, fonte de inesgotável inspiração de poetas, pintores, escultores, cineastas, encenadores...




A não perder.






Cláudia de Sousa Dias
5 Comments:
Cleopatra said...

Li duas vezes e gostei muito. Gosto deste tipo de livros e contextos.Bom Livro.
11:27 PM

É, simplesmente fascinante!
CSd

nandokas said...

Olá Cláudia,
Peço a tua permissão para te contar como cheguei até aqui.
Posso?...Há cerca de dez anos li o livro “Presságio de Fogo” e, na ocasião, escrevi no computador um ‘textozito’ baseado naquele livro. Volvidos estes anos, e como há um ano criei um blogue, resolvi nesta altura lá publicar o tal texto. Mas, então, reparei que no mesmo não fiz referência ao nome da autora, do qual agora já não me lembrava e, por outro lado, já não podia consultar o livro porque desconheço o seu paradeiro. Daí que fui à internet efectuar a pesquisa pelo título. E…E… foi assim que cheguei a este teu ‘post’. E, assim, tive a possibilidade de acrecentar uma nota ao texto para mencionar o nome da escritora americana. E, por isso, para ti o meu agradecimento.Hoje publiquei no meu ‘tretas’ o texto a que acima me refiro com o título “Calcanhar de Aquiles…”.
Se considerares algum interesse numa espreitadela até lá, acredita que serás bem recebida, ok?Entretanto, já li este teu ‘post’ e outros publicados posteriormente. Vou deixar aqui a minha opinião acerca deste e, quanto aos outros, comentarei no mais recente.
Acho este teu ‘post’ excelente, pela forma simples, clara e correcta como o escreveste, pelo menos no que respeita ao “Presságio de Fogo” [não conheço o outro livro].
Simplicidade de escrita, clareza no conteúdo da tua opinião e correcção no enquadramento da narrativa da autora. E que bem que me soube recordá-lo através das tuas palavras, dado que foi um livro cuja leitura me entusiasmou imenso na altura.
E, por me teres levado até essa recordação, o meu outro agradecimento.E, por fim, os meus parabéns!
Notas: Há cerca de 2 horas atrás tentei colocar este comentário aqui, mas, creio que devido a problemas de conectividade com o Blogger, o texto desapareceu na… blogosfera! Por isso, esta é a 2ª versão.

nandokas said...

Olá Cláudia,
Depois de publicar o comentário anterior, reparei que ficou registado às 05:05 PM e sem data. Como o teu 'post' é de Fev/2005, quero dar-te a situação do 'tempo' do meu comentário: 27/11/2007 às01:09.
Até!

Olá Nandokas!
não consegui ver a confusão com os comentários, mas têm acontecido tantas coisas estranhas...o nº de comentários já está correctamente mencionado em todos os posts(penso eu), mas actualmente há 21 textos do arquivo de fevereiro (dias 23) de 2005 que deixaram de estar disponíveis ao público em geral...
csd

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4 Comments:

Blogger P said...

Um abraço.
P.

4:29 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

obrigada por seres o primeiríssimo a comentar a reedição de um dos meus posts primitivos!


:-)


csd

10:38 AM  
Blogger Fernando Torres said...

Este blog foi uma agradável surpresa. Espero que não se importe que o inclua na lista de links do meu blog.

11:46 AM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

claro que não me importo.

Muito obrigada!

:-)


csd

11:53 AM  

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