Flanzine 4 - Carrossel
Às voltas no Carrossel andaram Autores como Manuel António Pimenta, Rute Castro, Joana Emídio Marques, Flávia Larocca, Ana Saramago, José Carlos Marques, Filipa Leal, Joana Gusmão, Susana Moreira Marques, Gonçalo Mira, Cláudia Lucas Chéu, Vítor Rua, João André, Vítor Sousa, Anthony Ghosto, Renato Filipe Cardoso, Vicente Alves do Ó, Rosalina Marshall e Helena Rocio Janeiro.
Os ilustradores, todos ele de inegável
talento, dão pelo nome de Cátia Vidinhas, Ricardo Abreu, António
Jorge Gonçalves, Cláudia Faro Santos, Joana Areal, A. Mimura,
Daiena Dâmaso, Lina&Nando, Bruno Martins e Luís Manuel Gaspar.
As fotografias relacionadas com o
conteúdo dos textos completam o catálogo deste Carrossel.
O editorial, da responsabilidade de
João Pedro Azul, abre a revista com a caracterização do ambiente
de Férias (e Feiras) que caracterizam o Verão português com as
suas festas e romarias e o regresso pontual dos emigrantes para
aquilo que hoje a comunicação social chama de silly season.
Entreabrindo um pouco a cortina para o choque cultural resultante do
confronto de pontos de vista entre\ quem olha o país vindo de fora e
vê uma película de Fellini, e quem nunca saiu do país e olha quem
regressa como se de uma horda de hunos se tratasse tal a estranheza
dos hábitos e formas de expressão, gostos e preferências.
O mesmo editorial dá a entender ser
este Carrossel uma espécie de desfile carnavalesco de provocações,
que é encetado com o texto de Manuel António Pimenta, com um
narrador a dirigir-se aos leitores numa espécie de confissão das
primeiras manifestações do erotismo na sua vida, ainda nos
primeiros anos da adolescência. Continuando dentro do género
“prosa” passamos para um texto de grande beleza plástica de
Joana Gusmão, um diálogo inter-textual com o romance Luz em
Agosto de William Faulkner, com um texto de título homónimo,
descrevendo a “luz” do Agosto português, encharcada de nostalgia
e doçura de um tempo que ficou para trás, escondendo um tédio
omnipresente e sufocante como a canícula. Susana Moreira Marques
pinta-nos um quadro onde se fundem os elementos “naïf” e macabro
sob o título de “Pai e Filha”. O belo e o grotesco, um inferno
que parece espreitar por detrás de um lugar que procura parecer-se
com o paraíso. Vítor Rua prossegue com a sua mala de sons,
desenvolvendo o seu tratado de fonologia. Mas o travo verdadeiramente
niilista é dado por Vítor Sousa cuja voz narrativa enceta um
convite - “Quereis ir comigo ao Antigo Testamento” - para recriar
uma realidade crua de um meio pequeno onde o cinismo e o
despreendimento total afogamento da esperança em quem já não
parece ter um pingo de inocência. Renato Filipe Cardoso mostra de
que forma a brutalidade desfaz os sonhos e o romantismo da juventude
com a mesma implacabilidade e ausência de compaixão com que uma
hiena esventra uma gazela prenhe ao advertir: “Não andaime de
Carrossel”. Nem no Carrossel nem nos andaimes, portanto. Em
contraponto a esta visão pessimista em geral dos autores de prosa
temos a doçura do texto de Vicente Alves do Ó, o deslumbramento
diante da inocência absoluta demonstrada pela criança
recém-nascida.
No plano da poesia, os carrosséis de
palavras atingem o vórtice a provocar vertigens com Rute Castro que
cita uma frase de Galileu após se ter retratado perante o Santo
Ofício – E pur si muove – e Joana Emídio Marques com uma
belíssima homenagens à Mãe e Flávia Larocca a girar e a encantar
os ouvidos sobretudo dos mais jovens ao ouvir o seu “Giro e Gira”,
delicioso nos seus jogos semânticos e fonéticos. Ana Saramago opta
por uma quadra jocosa, uma sátira às quadras de Santo António. O
texto de Amora Silvestre traz-nos um perfume baudelairiano a spleen
para activar a “Memória”. A ousadia de Filipa Leal surge
acompanhada de uma belíssima ilustração de Ricardo Abreu, num
poema que dá o nome à Revista, “carrossel” recriando e
transfigurando a figura mais clássica do Fado, Amália Rodrigues. O
poema que ilustra o poster desta revista é cheio de cor e movimento
e é da autoria de Gonçalo Mira, que descreve uma louca cavalgada de
sonhos num carrossel de sensações, perfeitamente alinhado com os
desenhos e maravilhosa paleta de cores de Cláudia Faro Santos. Mas é
o “Círculo da Fome”, um círculo em movimento como um carrossel,
da autoria de Cláudia Lucas Chéu que é a pérola dos mares do sul
desta publicação acompanhado pela deslumbrante ilustração do
arqui-continente Pangea, rodeado pelo grande oceano, por Joana Areal.
A crítica e também o nonsense caracterizam os poemas minimalistas
de A. Mimura e Anthony Ghosto.
Cláudia de Sousa Dias
2 Comments:
Feed back de um dos autores:
Vicente Alves Do Ó
10 min ·
"temos a doçura do texto de Vicente Alves do Ó, o deslumbramento diante da inocência absoluta demonstrada pela criança recém-nascida." - obrigado pelas palavras.
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Tu e 6 outras pessoas gostam disto.
Nuno Miguel Patrão Eh pá, estás a falar sozinho ou é o alter-ego?
8 min · Gosto
Vicente Alves Do Ó ahahaha são as palavras da autora do blogue.
4 min · Gosto
Claudia De Sousa Dias
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