“A Cabeça Muda” de Cláudia Lucas Chéu (Cama de Gato)
Cláudia Lucas Chéu é uma autora já
com um vasto leque de publicações editadas sobretudo dentro do
género dramático, mas ainda à qual não tem sido dado o destaque
que seria de esperar. Talvez pela audácia dos temas, que geralmente
incomodam ao abordar assuntos tabu, ou pelo facto de ser ainda muito
jovem, o que em Portugal perece ser um handicap na escrita feminina
para se obter reconhecimento.
CLC é lisboeta, nascida em 1978 e é
membro fundador do Teatro nacional 21. Frequentou o Curso de Línguas
e Literaturas Modernas da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da
Universidade Nova de Lisboa e concluiu o Curso de Formação de
Actores da Escola Superior de Teatro e Cinema. Publicou uma mancheia
de peças de teatro de entre as quais:
Glória ou como Penélope morreu de
Tédio, Poltrona –
Monólogo para uma Mulher,ambas
nas Edições Bicho-do-Mato; depois, Colapso,
das edições Teatro Nacional S. João; Violência –
Fetiche de Homem bom, Círculo
Onanista, Bank, Bank
You're Dead e Europa,
Ich Liebe Dich todas elas na
Edições Bicho-do-Mato/Teatro Municipal D.Maria II; e ainda a
micro-peça Circle-Jerk na
Revista das Artes Escénicas.
Lucas Chéu é também poeta tendo sido algumas das suas composições
incluídas na antologia Meditações sobre o Fim das Edições
Hariemuj. Foi galardoada com o Emmy Award como membro integrante da
equipa de argumentistas para uma produção televisiva. Tem também
textos publicados na Revista Flanzine de
cuja direcção fazem parte João Pedro Azul e Vicente Alves do Ó.
A Cabeça Muda
da editora Cama de Gato é
mais uma prova do talento desta Autora como dramaturga, uma sátira
corrosiva, género e estilo literários que parecem ser da sua
preferência. O conteúdo tem algo de pírrico, na forma como aborda
o tema do constante apelo à construção de uma sociedade composta
por super-homens cada vez mais exigida pela civilização da era
industrial e da sociedade do consumo. Aqui, a velhice o o lirismo não
têm lugar e são encarados como uma espécie de cancro a ser
extirpado. Esta é uma peça que trata o apogeu do individualismo na
sua faceta mais crua.
O
protagonista é um jovem cínico, obcecado pela sua ideia de
perfeição, Klaus, e Mutti (mãezinha, em alemão), uma mulher
idosa, em franco declínio físico, a qual pressupomos que possa ser
sua mãe e cujo estado clínico, físico e psíquico, parece evoluir a
uma velocidade galopante para um estado vegetativo. Na verdade, à
medida que a história progride, esta figura feminina parece ser
progressivamente dominada pelo vampirismo de Klaus, acabando por se
transformar numa cabeça muda. O cinismo de Klaus, para quem as
pessoas não passam de objectos, acaba por sufocá-la. O texto é
inequívoco na crueza e impiedade da linguagem enunciada por esta
personagem maléfica. A total ausência de empatia por parte de Klaus, conjugada com um profundo egoísmo resultam na expressão da decadência, senão mesmo do apodrecimento dos valores do Humanismo, enquanto
modelos de conduta que durante muito tempo foi a viga-mestra da
civilização europeia. Este Humanismo, que surge na história representado por Mutti, é sacrificado em homenagem ao culto da Perfeição, seu filho e amante, cujo resultado é a sociedade
sobre-humana, constituída por super-homens, representada por Klaus.
Esta é a sua única utopia, de onde emerge uma obsessão tal que
afasta Klaus da realidade e atira Mutti para um mundo de eterno
silêncio. Só lhe restando então ser uma cabeça muda.
Esta é
uma peça que será levada à cena no Teatro da
Comuna a partir do próximo dia 17 de Setembro. Uma obra elaborada para
desassossegar os espíritos.
Se
puderem, não percam.
10.07.2014
– 28-08-2014
Cláudia
de Sousa Dias
4 Comments:
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Marta Vaz, João Pedro Azul, Luís Serguilha e 48 outras pessoas gostam disto.
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Luís Serguilha MARAVILHA
2/9 às 15:05 · Gosto · 1
Noutro mural:
Marta Vaz partilhou uma ligação.
2/9 às 20:26 ·
Tu, Maria Helena Cruz e 3 outras pessoas gostam disto.
um comentário que me chegou via email:
Não sabia que a Cláudia Chéu também escrevia (e, pelos vistos, bem), tinha ideia de que era "apenas" actriz!
Madalena Ribeiro
Escreve sobretudo peças de teatro e também poesia.
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