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Monday, July 14, 2008

"As Infernais Máquinas de Desejo do Doutor Hoffman" de Angela Carter (Dom Quixote; Rocco)


Angela Carter nasceu em Inglaterra, em 1940, tornou-se autora de vários romances e contos. Agraciada unanimemente pela crítica, obteve, inclusive, os prémios Somerset Maugham e John Lewellyn Rhys.

A audaciosa estória de
As Infernais Máquinas de Desejo do Doutor Hoffman, tem como protagonista Desidério, um ser aparentemente anódino, dividido entre o mundo racional de um Ministro inteligente mas de imaginação limitada e o mundo do erotismo e imaginação desenfreada de um cientista genial, apesar de louco, cujo intuito é o de destruir a fronteira entre realidade e ficção, sonho e desejo. Ou, a linha estreita que separa a sanidade da loucura. No final, Desidério acaba por optar pela decisão menos arriscada.

A obra foi publicada, pela primeira vez em Inglaterra em 1972 (um ano antes do internacionalmente célebre
julgamento das três marias, em 1973), chegando a Portugal apenas treze anos depois.

A escrita de Carter é, segundo os especialistas, dotada de inúmeras intertextualidades, aludindo, muitas vezes, às obras de Sade e Beaudelaire, assim como aos contos tradicionais. A Autora preocupou-se em enfatizar o ridículo das relações de dominância existentes entre homens e mulheres quando se sobrepõe ao amor, seguindo o critério da análise psicanalítica, ficando patentes uma influência nitidamente freudiana e também de Bruno Bettelheim.

Após o período turbulento vivido na infância – foi obrigada a fugir de Londres durante os bombardeamentos da
Luftwaffe refugiando-se no Yorkshire – e de uma adolescência marcada pela luta contra a anorexia, a sua produção literária passou a ser particularmente prolifica e a ser largamente difundida após divorciar-se do primeiro marido. Passa então a dedicar-se não só ao romance mas também ao ensaio, à literatura fantástica e infantil, à poesia e ao jornalismo. A inclinação de Angela Carter pelo feminismo leva-a a reescrever textos de autores como Charles Beaudelaire e o Marquês de Sade. Entre as suas amizades encontram-se autores pouco convencionais e irreverentes como Salman Rushdie.

Angela Carter foi, sem dúvida, uma das autoras mais originais do século XX. A sua escrita abarca vários estilos literários e movimentos intelectuais do século transacto, como o pós-modernismmo, o feminismo, o estilo gótico, ficção científica, realismo mágico e, sobretudo, o surrealismo.

Foi, antes de tudo, uma escritora inconformista sempre com o objectivo de romper o espartilho de normas e estereótipos bolorentos, não só no que respeita ao socialmente correcto, como também aos próprios cânones da literatura. Viria a falecer de cancro em 1992 com apenas 51 anos.

As Infernais Máquinas de Desejo do Doutor Hoffman é uma obra inequivocamente surrealista apesar de lá encontrarmos, também, elementos característicos do realismo mágico, muito embora esta última categoria não faça justiça ao rigor intelectual que contextualiza a escrita de Angela Carter. Isto porque o realismo mágico tem um pendor muito mais emocional e místico que se traduz em acontecimentos bizarros e que carecem de uma explicação lógica, mas que são “colados” num fundo realista. O lado intelectual da Autora está bem patente ao colorir a ficção com as cores da sátira, acompanhada de uma explicação sociológica dos factos, algo que não cabe na estreiteza dos cânones da categoria do realismo mágico puro.

Segundo a própria Autora «a ideia de beleza inerente ao surrealismo, é como que uma convulsão. Sente-se mas não se vê. É um catalisador do sistema nervoso central. (…) A experiência do Belo é, tal como a experiência do Desejo, um abandono à Vertigem , embora o Belo não exista como tal. O que existe são imagens e objectos enigmáticos, maravilhosamente eróticos – ou a justaposição, de objectos, pessoas, ideias, que ultrapassam o número de associações de conceitos ou imagens que somos capazes de conceber. De certa forma, o Belo é posto ao serviço do exercício da Liberdade.

Relativamente à obra aqui tratada – As Infernais Máquinas de Desejo doDoutor Hoffman –, existem duas figuras arquetípicas em conflito que simbolizam o mundo racional, do Super-Ego e das normas sociais – O Ministro – e o irracional, o mundo dos Desejos, da Líbido e dos impulsos sem restrições seja de que tipo for. Ou seja, a Anti-Razão, representada pelo Doutor Hoffman. Neste obra, estabelece-se uma guerra fria permanente, onde se constrói uma história de espionagem que pode ser lida como uma paródia aos filmes de James Bond, ao opor um inteligente, embora limitado, Ministro da Determinação – autarca (ou pároco) de uma cidade anónima, algures na América do Sul, face ao excêntrico Doutor Hoffman, uma professor de metafísica (além de físico e químico) cujo objectivo é o de colocar a cidade sob o domínio das forças da não-razão, do Irracional. A persona de Hoffman, além de notoriamente freudiana. A sua construção é, também, nitidamente influenciada pelo anarquismo de André Breton que é também, fundador do movimento surrealista na escrita.

O protagonista, um suposto 007, no meio do fogo cruzado, entre duas forças opostas, é Desidério (cujo nome significa desejo, saudade ou nostalgia em italiano), um nome mais do que apropriado face às circunstâncias, um mestiço – branco e índio - ao serviço do Ministro. Um homem calmo sem, aparentemente, grandes propensões para manifestações emocionais. É, no entanto, alguém que durante toda a obra, se abstém de emitir juízos de valor, limitando-se a descrever objectivamente as situações. Desidério corresponde à figura a que Freud chamava de “o porteiro da consciência” – o Ego no homem. Aquele que filtra os impulsos e que tenta concretizá-los dentro das normas impostas pela sociedade ou pelo Super-Ego. Tenta agradar aos dois lados, como se verifica ao longo da história. Mas no final terá mesmo de efectuar uma escolha…

Desidério começa por tornar-se no agente secreto do ministro por ser uma das poucas pessoas que não se deixa afectar pela vaga de irracionalismo que afecta a população da cidade, ao subverter a ordem “normal” das coisas.
A natureza do conflito fica definida quando o Ministro e Desidério se reúnem com o embaixador do Doutor Hoffman. Trata-se, aparentemente de uma homem efeminado – mas cujo pescoço exibe uma pele de tal modo diáfana que é possíveis “visualizar um gole de vinho da Borgonha a descer-lhe pelo esófago”. Trata-se, na verdade, de Albertina, filha do doutor Hoffman, por quem Desidério se apaixona.

O diálogo entre a jovem travestida e o Ministro coloca bem patente até que ponto ambos se encontram em campos opostos e onde a filha do cientista faz eco das convicções de Carter relativamente à Beleza, à finalidade e ao conceito do Belo, colocando a Beleza ao serviço da Liberdade, a espelhar também, uma das mais conhecidas definições do surrealismo de André Breton:

«Um fio condutor entre dois mundos diametralmente opostos, o da vigília e o do sono, da realidade interior e exterior, razão e loucura, da quietude do conhecimento e do amor, da vida pela vida e pela revolução…”

A intenção da Autora ao escrever este livro seria a de descrever como seria um mundo onde tivesse tido lugar uma revolução surrealista.
A sua personagem Desidério, para preservar a cidade do caos da Não-Razão concorda em aceitar uma missão ultra-secreta, incumbida pelo Ministro – encontrar e liquidar o Doutor Hoffman. Desidério assume-se como o inspector da Verdade e é nessa categoria que visita a estância de férias de S. para investigar o proprietário de uma show erótico para turistas que lhe poderá fornecer uma pista acerca da localização do Doutor, uma vez que este terá sido professor de física do cientista revolucionário.

A Trama: A experimentação ou A viagem de Desidério pelos sete mares do surrealismo

A acção desenrola-se ao longo de sete capítulos.
Cada capítulo é como um palácio que se desdobra em inúmeras alas, salas e câmaras, que se desdobram ante os olhos da imaginação do leitor, em imagens que correspondem às diferentes faces do Desejo.
O primeiro, A cidade Sitiada, situa-se no ambiente governado pelo Ministro da Determinação, e é de onde parte Desidério na missão que lhe foi confiada. A cidade está imersa numa onda de Absurdo onde nada segue os trâmites da lógica e tudo se encontra invertido. As cenas descritas fazem lembrar muitas vezes uma pintura de Magritte, onde se sobrepõem dois planos correspondentes a duas paisagens diversas ou, então de Dalí, onde sobressai a provocação sexual, raiando, não raro, o grotesco.
Trata-se de uma crítica viperina a um sistema político cujas componentes entram em contradição pelo excesso de zelo no cumprimento das normas e onde as mulheres não têm voz activa. Algo que faz explodir a revolução da não-razão, despoletada pela subversão daquilo a que vulgarmente se chama de Loucura, levada a cabo pelo perverso Doutor, o espelho simétrico do Ministro.

No capítulo seguinte, A Mansão da Meia-Noite, o local da acção, situa-se um pouco afastado do centro da estância balnear, onde se encontra Desidério à procura da pista que o leve a Hoffman. Acaba por encontrar, em vez dele, o seu mentor, arruinado e a ganhar a vida a exibir quadros surrealistas, verdadeiras provocações ao Pudor e à Moral. As imagens contêm ousadas associações de símbolos, no meio dos quais, figura quase sempre a imagem de Albertina. Como se a Desidério estivesse a ser lançado um isco e, simultaneamente um aviso dissimulado da periculosidade de uma flor carnívora e venenosa.

A Mansão da Meia-Noite na qual Desidério fica hospedado enquanto está na cidade assemelha-se muito ao castelo da Bela Adormecida, por se encontrar sufocada por uma selva de roseiras que lentamente, estrangulam a casa e a engolem, insidiosas, trepadoras, com um aroma intoxicante que atordoa os sentidos, fazendo lembrar a descrição de Fabrizio de O Leopardo de Lampedusa a propósito das rosas sicilianas… e da simbologia sexual a elas associadas…Todo o capítulo se assemelha a um sonho erótico com alguns dos estereótipos mais comuns das fantasias do imaginário masculino, presentes, também, na maior parte dos contos de fadas, utilizando, contudo, os símbolos freudianos…

Na casa habitam três personagens estranhíssimas: uma governanta de personalidade tirânica que parece esquecer-se que é apenas governanta, um mordomo imbecil e uma jovem e frágil sonâmbula, filha do presidente da câmara, misteriosamente desaparecido e procurado pela polícia política. Os criados tratam a jovem-quase-criança sem algum respeito, de forma desabrida. A adolescente, mesmo acordada, parece viver num mundo de sonho, habitado apenas, pela, Música, pela Poesia e pela Arte…
O desejo da governanta é apoderar-se da casa. A jovem vê-se cada vez mais envolta pela situação anelante em que a colocam os criados e envolvida na teia que tecem à sua volta, da mesma forma que as trepadeiras espinhosas das roseiras envolvem a casa.

A jovem acaba por aparecer morta e a culpa, por recair em Desidério que não conseguiu resistir ao impulso atávico que lhe condensa o desejo de desflorar uma virgem…

Recomeça, então, mais uma série de peripécias impostas pela necessidade de fugir e que o obriga a prosseguir a tarefa que lhe foi imposta.

O Capítulo intitulado A Gente Ribeirinha passa-se na selva amazónica no seio de uma remota tribo escondida no meio da selva, que recolhe temporariamente Desidério. O chefe tribal acaba por ver na sua cultura mista uma mais valia preciosa para lidar com os brancos. Um facto que acaba, paradoxalmente, opor se virar contra ele vendo-se mais uma vez compelido a fugir.

Este capítulo é revelador do interesse e Angela Carter pelas Ciências Antropológicas bem como d curiosidade insaciável da Autora em relação a outras culturas e, também, a ânsia de viajar pelo mundo. Inclui belíssimas descrições acerca da fauna amazónica e também da sonoridade fonética das tribos ribeirinhas, que quase não contactam com os caucasianos e as demais gentes da civilização urbana. A linguagem destas assemelha-se à das aves do ambiente circundante. E o sistema de estruturação familiar e social, bem como a relação com o sagrado são factores que facilitam a relação simbiótica com o ecossistema. A medicina tradicional e a alimentação característica destes povos são também mencionadas neste mesmo capítulo.

Já o capítulo que se segue – Os Acrobatas do Desejo – passa-se num circo itinerante, junto do qual Desidério opta por viajar, por lhe facilitar a camuflagem. Aqui a Autora faz notar o seu repúdio pelo chauvinismo masculino face à ânsia de domínio sobre a Mulher, ao colocar Desidério no lugar da mulher violada.

Apesar de tudo, todos os capítulos da obra acabam por ser revestidos de uma aura de onirismo, onde dificilmente conseguimos distinguir o sonho do estado de vigília. Por exemplo, a situação de violação à qual é submetido Desidério face à qual seria impossível qualquer hipótese de sobrevivência sem tratamento hospitalar, o que torna ainda mais credível a hipótese de os sete capítulos da obra serem, na realidade, o conteúdo onírico dos sonhos de Desidério.
Este, depois de fugir aos Acrobatas do Desejo e ao prosseguir o seu caminho, cruza-se com uma personagem sinistra e misteriosa – um estranho conde lituano, uma mistura de Mefistófeles, Vlad, o Empalador, e o Conde de Lautréameont.
Em todo este episódio está patente uma crítica estilizada aos estereótipos de Sade, outros dos autores que a influenciaram a escrita de Carter.

O ataque dos piratas ao navio onde viaja Desidério, o Conde e um misterioso e submisso criado, Lafleur, forma um conjunto de elementos que marcam mais um ponto de viragem na trama, estabelecendo, simultaneamente, a ligação com o cenário que se segue: a costa africana. Será aqui e no seio de uma tribo que canibais que será consumado o destino do Conde. Os acontecimentos sucedem-se e a sorte contempla, mais uma vez, Desidério, facto que corrobora a possibilidade de todas estas aventuras não serem mais do que sonhos de conteúdo sensorialmente real. Desidério aproveita o facto da tribo estar absorvida num dos seus rituais para se libertar a si e a Lafleur do jugo do Conde e também do chefe tribal, que mantém sob o seu domínio todas as mulheres da sua horda. Desidério, dispõe, neste momento da história, da possibilidade de materializar um desejo inconsciente: o de realizar uma acção heróica, permitindo à Autora assente na convicção de eliminar o paternalismo, o domínio e a tirania masculina face à situação das mulheres nas sociedades patriarcais.
A viagem é retomada, consistindo num período de pausa no desenvolvimento da trama, durante o qual se descobre que Lafleur é, na realidade, Albertina.

No capítulo que se segue, Perdidos num tempo nebuloso, ambos acabam, tal como indicia o título, por cair num lugar fora do espaço e do tempo, algures no coração da selva, no mítico país dos centauros onde a Autora enfatiza a importância da análise do mito no imaginário colectivo, à luz do pensamento de Freud e Jung, os fundadores da psicanálise. Isto porque, no país dos centauros está presente a articulação dos arquétipos feminino e masculino, a génese da necessidade de dominância masculina cujo objectivo reside no controlo da sexualidade feminina. Controlo esse ao qual está subjacente o medo da infidelidade, o receio do macho em ver-se preterido. Trata-se nada mais, nada menos, do que a vertente cultural, que se sobrepõe à biológica, que está na base da divisão de papéis segundo o género.
Ligada a esta ideia está também a materialização do pesadelo de Desidério em ver a mulher amada ser raptada e violada. São, também, abordados os aspectos da solidariedade masculina à qual não é alheia alguma inocência e, sobretudo, falta de premeditação destes centauros. Trata-se de fazer notar que por vezes esta necessidade de domínio nem sempre está ligada ao prazer de causar dor no outro como acontecia com a personagem do Conde e do Chefe tribal nos dois capítulos anteriores, mas sim na força do costume das tradições, por vezes milenares, fortemente enraizadas no imaginário colectivo.
A necessidade de punição/expiação das mulheres na cultura dos centauros, tal como acontece em quase todas as culturas – semíticas, africanas e algumas indo-europeias – ocorre, frequentemente, devido a uma interpretação do mito que favorece os interesses da classe dominante a qual utiliza o carisma dos sacerdotes junto das massas para o legitimar. Daí que, em quase todos os mitos de origem, seja atribuída à mulher a introdução do elemento do Mal e da Destruição, desde Pandora a Eva, sobretudo a partir do momento em que os homens se apercebem que não são as mulheres as únicas responsáveis pela geração de novos seres. Torna-se, a partir de então, urgente garantir a certeza masculina em relação à paternidade dos sucessores uma vez que está em causa a sucessão da chefia de um território…a partir de então, prolifera toda uma série de cultos ligados à fertilidade, envolvendo sacrifício humanos e rituais de expiação, desde a antiga Suméria, Assíria e Babilónia, até ao sacrifício do fundador do cristianismo.
E é precisamente na altura em que a tribo dos centauros se prepara para usar o casal humano num destes ritos sacrificiais, que ocorre mais uma reviravolta de forma ao casal escapar ileso.
Finalmente após mais um período de transição, os dois amantes acabam por chegar ao castelo do Doutor Hoffman, que Desidério reconhece como parte de um dos quadros da loja do velho professor de física, na estância de férias de S.

Chegamos, assim, ao capítulo ou sonho materializado final – O Castelo – onde nos são dados a conhecer dois cenários: a casa propriamente dita, o cenário aparente, superficial – ou seja, a parte visível do iceberg freudiano da consciência – e o interior da montanha, o qual simboliza o inconsciente, contendo os desejos mais inconfessáveis do ser humano. Que é, na verdade, a parte do cérebro humano que o Doutor Hoffman deseja que domine o mundo e que deverá ser sustentada pela eroto-energia, isto é, aquela que se liberta aquando da realização do acto sexual – a libido freudiana. Para tal, Hoffman mantém uma multidão de casais aprisionados em câmaras e drogados, de todas as raças e etnias de forma a produzirem o máximo de eroto-energia possível...

Esta sátira/fantasia tem como objectivo espelhar a revolução sexual dos anos 60/70, com a difusão dos novos métodos contraceptivos, conjuntamente com a libertação das amarras de cariz moral e religioso a que estavam sujeitas as mulheres. Mas ligado ao desejo de Hoffman de domínio do mundo através do controlo/estímulo da sexualidade humana pela injecção de químicos para o efeito, está também, subjacente a crítica a um certo desejo de revisionismo histórico em recriar e manipular a realidade pela alteração da percepção dos seres humanos, caindo precisamente no extremo oposto.

O capítulo final visa, também, parodiar a manipulação das massas pelos políticos ou ideólogos totalitários quer estes se sirvam da religião, da razão ou da ciência para o efeito, numa mais do que clara alusão ao nazismo…ou à guerra do Vietname… Por outro lado, a Autora faz também notar ser a alternativa do racionalismo capitalista ou tecnocrata, representado pelo Ministro, se revela um mundo assaz estéril, onde não há lugar para a imaginação ou para a criatividade.
No fundo, o que Angela Carter pretende é mostrar o ridículo da divisão de um mundo delimitado pelo “eixo do bem” e “eixo do mal” uma vez que não existe uma divisão real entre “bons” e “maus” mas antes entre “mais fortes” e mais fracos” ou vencedores e vencidos. Onde, no caso de serem os homens os mais fortes, caberá às mulheres serem submetidas às diversas situações de tortura…

A obra de Carter pode ser considerada, por tudo o quanto já foi dito, como sendo genial, embora contextualizada na época em que foi escrita e no movimento estético onde se enquadra: o Surrealismo e o pensamento de Sigmund Freud, o qual pode e muito bem ser identificado com o próprio Doutor Hoffman, o qual comanda os sonhos e o pensamento da humanidade através do controlo do inconsciente.
Uma obra desconcertante e, ao mesmo tempo, fascinante como um filme de David Lynch. Ou de Fellini.
Uma escritora que é, sem dúvida, uma referência marcante no panteão dos grandes autores do século XX.

Cláudia de Sousa Dias

18 Comments:

Blogger isabel mendes ferreira said...

linda menina qo norte do norte.

venho deixar o meu melhor abraço com beijos.





até sempre.


sendo que este sempre aqui é mesmo de sempre.



_________________obrigada C.

11:23 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Que bom ter a tua companhia neste domingo de pasmaceira...


Abraço

CSD

5:32 PM  
Blogger Teresa said...

Olá Cláudia
Também cá estou ;-)))))

Beijinhos
TSC

7:05 PM  
Blogger Unknown said...

Boa tarde,

Somos colaboradoras da JPR (http://jpr.icicom.up.pt), um projecto online do curso de Ciências da Comunicação da Universidade do Porto.
Fazemos um programa semanal com o nome de Posta@Posta (http://jpr.icicom.up.pt/postaposta). É um programa académico e, portanto, bastante informal. Escolhemos um blog de que gostamos ou que achamos que o nosso público vai gostar e entrevistamos o autor para o conhecer um pouco e saber como surgiu o blog, entre outros aspectos.
Gostámos do seu blog "Há sempre um livro...à nossa espera!" e gostaríamos de a entrevistar.
A entrevista seria por telefone numa altura em que tenha disponibilidade.
Caso esteja interessada em colaborar, agradecíamos que nos contactasse através do mail do programa, posta.jpr@gmail.com.

Muito obrigada pela atenção e continuação de bons posts,
Ana Tulha
Tatiana Carvalho

7:08 PM  
Anonymous Anonymous said...

:) beijos.







até....:)

piano.

10:26 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Olá Teresa!

pois...


Apetecia era ir para a beira-mar...ou para um pinhal...


CSD

3:53 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Ana e Tatiana, obrigada pela preferência!

envio-lhes o contacto telefónico por e-mail...

CSd

3:54 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

beijos para ti tb Isabel!

Tentei deixar comentários nalgusn dos teus posts, mas não consegui...depois envio-tos tb por e-mail

Um abraço


CSD

3:56 PM  
Blogger P said...

Lá consegui colocar algo de novo. Nada de especial mas foi o que saíu. O final do ano lectivo tem sido 'pesado' e agora, trabalhos e frequências vistas, notas lançadas e terminadas as escritas 'obrigatórias' vou ver se me perco um pouco mais e ando mais pelo blog e pelas minhas 'rotas' preferidas. Comecei aqui.

É engraçado que, quando lia este texto, a dada altura aconteceu pensar em Fellini!

Abraço
P.

6:32 PM  
Blogger Dalaila said...

tu desconcerta-nos sempre com estes hinos de escrita e de livros.

beijo grande

6:07 PM  
Blogger Unknown said...

Boa tarde Cláudia.

Pedimos desculpa pelo incómodo mas, por motivos de disponibilidade do estúdio de gravação, a entrevista teria que ser feita, preferencialmente, amanhã.

Agradecíamos então que nos confirmasse a sua disponiblidade e nos enviasse o seu contacto telefónico por e-mail (posta.jpr@gmail.com) que ainda não recebemos.

Muito obrigada.

Ana Tulha e Tatiana Carvalho

2:42 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

acabei de enviar a informação pedida!


CSD

4:01 PM  
Blogger Luis Beirão said...

Pois, Cláudia...

A divisão que atormenta Desidério, é um adicotomia muito própria do ser humano, não?
Todos nós estamos cheios de dicotomias, tricotomias, tetracotomias, pentacotomias, etc... Somos um, mas somos diversos, ao fim e ao cabo.

Bjs,
Luis

6:46 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

hummm...!pois...!

É o teu caso, certo(lol...!)?

:-)


Beijos


CSD

7:56 PM  
Blogger Rui said...

Talvez acrescentasse aos teus dois realizadores de cinema, mais um nome: Peter Greenaway.

3:55 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Obrigada pela sugestão, Rui!!


Um beijinho


CSD

5:46 PM  
Blogger n.fonseca said...

Aproveito e sugiro o fabuloso "The Bloody Chamber and other stories", onde a Angela Carter faz coisas muito muito boas, entre elas e atitulo de exemplo, um conto que é uma releitura obrigatória do Capuchinho Vermelho, escrito com preocupações femininas, um texto brutal e imprescindível.

12:49 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

por acaso fiquei curiosa em ler esse e mais dois dela...

csd

4:33 PM  

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