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Tuesday, July 01, 2008

"Era uma vez um Rapaz" de Nick Hornby (Teorema)


Um best-seller de um autor britânico, adaptado ao cinema, a falar de relações afectivas e novos tipos de estrutura familiar, que despontaram, já na década de 1990 e que, ao mesmo tempo, explora problemas como a socialização e o desenvolvimento de competências sociais nas crianças e jovens, bullying e diferentes tipos de violência em contexto escolar. Também o consumo das drogas leves em idade precoce e nos adultos, misantropia, individualismo na sociedade de consumo e suicídio são outros temas abordados pelo autor na obra.

Uma multiplicidade de temas de conteúdo dramático que é ,no entanto, tratada pela ironia inteligente do típico humor britânico, transformando um livro de teor, à partida, melodramático, numa divertida comédia, a raiar a sátira, que coloca em evidência as contradições presentes na vida familiar e social da Europa da viragem do século.


Era uma vez um rapaz trata, sobretudo, das diferentes formas de integração dos indivíduos, num país que é considerado como fazendo parte daquilo a que se chama a vanguarda da cultura ocidental na última década do segundo milénio. Algumas das contradições a envolver os ideais de liberdade preconizados pelos anos 1970, como a liberalização do consumo das drogas leves e da sexualidade feminina, estão ainda por resolver no final do século XX. Consequências que se fazem sentir, sobretudo, nos mais jovens onde se incluem Marcus e Ellie, que exibem comportamentos que exprimem as consequências menos positivas dessas mesmas contradições. Enquanto isso, os adultos, distraídos com os próprios conflitos existenciais, ignoram frequentemente as reais necessidades dos mais jovens.

As Personagens

Will, o protagonista adulto, é um celibatário convicto, a viver de rendimentos e a usufruir de uma existência dourada que lhe permite gozar, a tempo inteiro, do prazer de cuidar da aparência, comprar aquilo que gosta, seduzir as mulheres que se parecem com estrelas de cinema – pelo menos enquanto estas não se apercebem da sua frivolidade. Assume um estilo de vida hedonista a fazer lembrar a dolce vita dos antigos membros da corte imperial romana. A situação financeira de Will permite-lhe descurar o desenvolvimento de competências sociais, intelectuais e, sobretudo, profissionais. A falta de integração num grupo de trabalho, faz com que a rotina diária de Will seja composta por longas horas solitárias que preenche com o cuidado da logística da casa, compras, com o cuidado da imagem para além da observação das tendências da moda e dos novos estilos musicais. Will tem por hábito recorrer a complicados esquemas de acção para se aproximar das pessoas, usando de efabulações, meticulosamente planeadas – toda a conduta desta personagem envolve uma cuidadosa e detalhada premeditação – tecendo uma teia à volta delas, como uma aranha. Chega mesmo a inventar um filho para se aproximar da mulher que pretende seduzir.

No entanto, o aspecto fashion de Will torna-o dotado do perfil ideal para ser o consultor de imagem ou disk jockey. Se realmente quisesse e precisasse de trabalhar. Will reúne, no entanto, as condições que, mais tarde, farão dele o facilitador da integração social de Marcus – o jovem protagonista da história -, numa fase específica da vida deste.

Marcus tem doze anos de idade. Mudou-se recentemente para Londres com a mãe. É um adolescente com inteligência bastante acima da média, gosto musical refinado, embora moldado pela mãe. É um bom aluno, responsável, obrigado a amadurecer precocemente devido à vivência do drama existencial da mãe, a qual tenta o suicídio no auge de uma depressão.

Ao contrário de Will, Marcus é um jovem que veste de forma démodé. Fora de moda é, também, o seu gosto musical a chamar a atenção dos alunos mais conflituosos – bulliers – que se divertem a persegui-lo, a ameaçá-lo de extorsão, a achincalhá-lo. A mãe insiste em alhear-se do problema.

A amizade com Will, que o incentiva a ser mais autónomo, vem em seu auxílio, no sentido de torná-lo exteriormente “menos diferente” em relação aos colegas. Com a cultura musical transmitida por Will – sempre ao corrente das novas tendências – Marcus consegue conquistar a amizade de Ellie, fã dos Nirvana e um dos elementos mais rebeldes do liceu. A jovem passa a tratá-lo com condescendência e algum paternalismo.

Marcus tenta encontrar em Will uma figura paternal, por sentir que este pode facilitar-lhe e muito – devido à identificação com o estilo de vida adolescente – a integração no seu grupo de pares.

Will, por seu turno, apesar da “alergia” a crianças acaba por sentir-se sensibilizado pela autenticidade e ausência de premeditação de Marcus.

Fiona, a mãe de Marcus, tem 38 anos e está encarregue do sustento da casa e do filho, após o divórcio. Inteligente e culta, revivalista da cultura hyppie dos anos 1970, pretende transmitir os mesmos ideais ao filho. Trabalha como terapeuta musical, com crianças autistas.

O ex-marido é um homem indolente, não pensa muito nas consequências do próprio comportamento – chega a enrolar um “charro” diante do filho e a pedir-lhe para ir buscar os utensílios que necessita para o fazer. Fuma haxixe como quem come torradas ao pequeno-almoço.

Rachel, a namorada de Will, é uma jovem bela, culta, inteligente e sofisticada, extremamente dinâmica no trabalho, por quem se sente fascinado.

Ellie, a jovem de quinze anos, amiga e aliada de Marcus, é uma garota rebelde e provocadora, que tenta chamar a atenção através de comportamentos que, por vezes, caem na alçada da conduta anti-social. Ellie provém de uma família onde os laços sociais e afectivos se estão a desintegrar e não sabe como agir. Acaba por exteriorizar a ira, germinada internamente pelo facto de o comportamento dos progenitores não ser aquilo que normalmente se espera, usando, muitas vezes, de violência não só contra alguns colegas mas também através de alguns actos de delinquência.

O Final

O desenrolar da trama aponta algumas tendências face à evolução das diferentes personagens.

Marcus torna-se um jovem mais integrado no grupo de pares mas, simultaneamente, mais distante do mundo dos adultos. Desenvolve a tendência inicial para tornar-se, em muitos aspectos, mais adulto do que os adultos com quem convive. Começa, no entanto, a fumar, ao mesmo tempo que se reveste de uma carapaça que o afasta da família, marcando a entrada na chamada Linha de Fractura da Adolescência. Apesar de tudo, já se consegue defender ou, pelo menos, evitar as situações de conflito ao desenvolver a inteligência emocional nas relações com o grupo de pares. Torna-se um jovem que acredita, sobretudo, nas relações de amizade e na ligação com vários grupos. O potencial para fomentar laços entre as pessoas, mesmo entre os adultos com quem convive, é uma característica que faz com que pouco a pouco, se torne mais seguro de si.

No tocante a Will, o Autor deixa os leitores entreverem a sua evolução através do olhar de Marcus e da sua extraordinária capacidade analítica. A perspicácia do jovem permite-lhe compreender que a relação entre Will e Rachel poderá não durar. Rachel é uma mulher cujo trabalho ocupa um lugar muito importante na própria vida ao passo que Will é um homem voltado sobretudo para o lazer. Uma discrepância que poderá levar à ruptura do relacionamento. Ao mesmo tempo o enfraquecimento dos laços sociais de Will, um ser cronicamente centrado em si mesmo, poderá acentuar uma já moderada dificuldade de integração e manutenção das poucas relações sociais do quotidiano ao longo do tempo.

Era uma vez um rapaz é, por tudo quanto foi dito, um retrato social inteligente da sociedade contemporânea que nos leva a olhar mais atentamente e de uma forma mais esclarecida as novas tendências de comportamento no mundo que nos rodeia.

Cláudia de Sousa Dias

10 Comments:

Blogger Anagrama Orgânico said...

Olá Cláudia.
Gostei bastante do blog, inclusivamente partilhamos o mesmo propósito (e o template!^^), sendo os teus posts bem mais extensivos.
Cumprimentos.

12:36 AM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Gosto de fazer análises detalhadas.

O teu blog está giro.

Estou é a pensar seriamente em ontroduzir as capas do livros nos respectivos posts...

CSD

1:38 PM  
Blogger Pedro said...

Já vi o filme, com Hugh Grant.

Sinceramente, não é um livro que me fascine.No entanto, não sabia que o filme era adaptado e que o livro era uma reflexão da sociedade como a que mostras! Embora vá deixar a sugestão de lado, ficarei curiso quando passar pelo livro...

7:43 PM  
Blogger Toutinegra Futurista said...

Isso seria uma ideia mas, na verdade, o fundamental são os textos.
Um abraço futurista

7:57 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Não vi o filme ainda. Mas penso que não deve estar à altura. Até pela escolha do protagonista. Se fosse o Colin Firth seria outra história...

abraço amigo


CSD

8:40 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Obrigada toutinegra andarilha!


:-)


CSD

8:41 PM  
Blogger Rui said...

Aquela juventude anda particularmente inquieta. Resolvem tudo à facada, por lá. Dá que pensar.

5:16 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Pois...quando não se intervem a tempadamente...o livro data do início dos anos noventa...penso que agora as coisas devem estar bem pior.

CSD

11:53 AM  
Blogger Luis Beirão said...

Olá Claúdia,

Devo dizer-te que li o livro em 1998, no seu inglês original ("About a Boy") e me pareceu (claro, dentro do género, pois é de leitura ligeira)muito interessante e uma óptima abordagem às novas formas modernas da família, e também acerca da amizade em geral - entre outras coisas.
Por outro lado, vi também mais tarde o filme que, apesar de tudo (os filmes nunca honram os livros, se estes são bons, geralmente apenas podem melhorá-los se estes são menos bons - defeito de quem gosta de livros), também está bastante bem.

Bjs,
Luis

12:27 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Também sofro desse defeito, como bem sabes

:-)

Bjs

CSD

3:30 PM  

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