“O grande Gatsby” de F. Scott Fitzgerald (Relógio d’Água )
Sobre o Autor, Anthony Burgess afirmava que a escrita de Fitzgerald era dotada de “uma arte demasiado requintada e de uma ironia demasiado subtil para o Grande Público”.
Isto porque a opinião pública, leitora assídua dos seus contos publicados no Saturday Evening Post” ignorava-o como autor de um grande livro, daquilo que, para nós, hoje em dia, se afigura como um inequívoco talento de romancista, apesar do sucesso dos seus contos sobre a sociedade da era do jazz, no período entre as duas grandes guerras.
A popularidade póstuma de Fitzgerald deveu-se, sobretudo, à conturbada vida conjugal com Zelda, uma mulher marcada pelo alcoolismo e pela esquizofrenia, na qual, ao que tudo indica, parece ter-se inspirado para compor os principais traços de personalidade da protagonista do seu mais célebre romance: Terna é a Noite.
T.S. Elliot, o autor de Pigmaleon, a peça de teatro que deu origem ao filme My Fair Lady, considerou-o como “o único progresso significativo no romance americano desde a morte de Henry James”.
Após a morte de Fitzgerald, num editorial do New York Times, afirmava-se que “ele era melhor do que pensava uma vez que, tanto no plano dos feitos como no plano literário, foi o inventor de uma geração”.
Sobre O Grande Gatsby podemos dizer que se trata de um romance que não anda muito longe do paradigma da perfeição no que respeita à fluidez do discurso, à construção da narrativa, à descrição de situações que caracterizam o comportamento de um grupo, considerado como “a nata” da sociedade americana da costa leste, durante o período de expansão dos loucos anos 1920: uma sociedade hedonista, onde o gosto pelo luxo e pelo álcool (numa altura em que era proibida a sua comercialização devido à publicação da Lei Seca, nos EUA) despertavam o impulso que comandava o desejo de viver uma vida trepidante o qual se sobrepõe, nas personagens de O Grande Gatsby, a outros valores considerados como fundamentais. O Autor dá a voz a Nick Carraway, o narrador, e co-protagonista, o alter-ego de Gatsby que sobressai pela discrição e low-profile.
A Trama
Trata-se de uma estória, contada como um depoimento, uma reflexão sobre os limites da conduta pessoal e da tolerância por Nick Carraway, um jovem proveniente de uma família rica do Middwest que, ao acabar os estudos, decide mudar-se para Nova Iorque, onde arranja emprego como corrector da Bolsa, através da intervenção dos familiares que se reúnem, propositadamente, para discutir a colocação que melhor se adeqúe às posição e ambições do jovem. A proximidade da bela, rica e mimada prima, Daisy, e do influente marido, cuja casa acabará por frequentar assiduamente, torna-se decisiva para a escolha do lugar onde morar.
Daisy é uma jovem encantadora, cativante mas superficial, uma característica que está patente não só nas suas atitudes, que englobam o discurso, gestos e expressões mas, sobretudo , nas escolhas que faz: Daisy é uma jovem que prefere sempre optar pela segurança material e pelo status social do que pelo amor.
O medo em relação ao futuro, a falta de segurança e autonomia toldam-lhe a visão e a capacidade de análise face ao carácter das pessoas, nublando-lhe a capacidade de discernimento.
Nick conhece, ainda, Jay Gtasby, o fulgurante milionário, cujo passado misterioso suscita toda uma gama de especulações acerca da forma como conseguiu fazer fortuna em tão pouco tempo – menos de uma década. Nick terá, ainda, a oportunidade de perceber a existência de uma ligação entre Daisy e Gatsby no passado.
É estabelecida, também, uma espécie de atracção ou ligação superficial entre Nick e Jordan Baker - uma desportista com poucos escrúpulos, uma vez que é perfeitamente capaz de adulterar as regras do jogo e fazer batota descaradamente. É bastante mais independente e cerebral do que Daisy, contudo, as limitações de ordem financeira fazem com que não tenha autonomia suficiente para viver sozinha (vive com uma tia) ou casar com alguém sem antes pensar na respectiva situação económica.
Tom Buchanan, o marido de Daisy, é um homem boçal, com “um corpo cruel”, paternalista, de ambições imperialistas no que respeita ao domínio da civilização ocidental face a outros povos. Algo que está patente na forma como exibe uma ostenta uma ofensiva condescendência face aos povos tecnológica ou economicamente “menos desenvolvidos”, a denunciar convicções muito próximas dos ideais do nazismo, com raízes no darwinismo social.
No entanto é, ironicamente, atribuída a Jay Gatsby ligações ao Kaiser e ao lado inimigo durante a primeira Grande Guerra, pelos vizinhos e habituais frequentadores das loucas festas em sua casa, devido às movimentações deste dentro do império austro-húngaro como agente secreto.
Tom Buchanan é, ainda, amante de Myrtle, - foco de discórdia entre este e a esposa, que se apercebe do facto. Myrtle é uma mulher bela, mas de uma sensualidade lasciva, algo vulgar, sexualmente excitante e sexualmente (muito) activa. É esposa de um homem ingénuo, o mecânico de automóveis, Clifford. Myrtle é, portanto, o oposto de uma jovem como Daisy, feita para brilhar em sociedade e ser idolatrada. Nick compara-a, a dada altura, a ela e a Jordan, a dois ídolos de prata.
Daisy, por sua vez, mostra ser, em vários momentos da narrativa, uma jovem frívola, superficial e irresponsável, um traço de personalidade que comunga com o marido, o qual, além da incapacidade de assumir os próprios erros acumula, também, um temperamento violento e vingativo, patente na forma como esbofeteia Myrtle e como humilha as mulheres em geral.
Nick Carraway, é um personagem cuja ética foi solidamente implantada e desenvolvida segundo o modelo do pai, seguidor de uma moral de inspiração kantiana. E é por isso que não consegue evitar repudiar este tipo de conduta afastando-se, inclusive, da fria e algo cínica, Jordan, cuja companhia acaba por saturá-lo e levá-lo a identificar-se muito mais com Jay a quem chega a admirar, apesar dos meios duvidosos que utiliza para construir fortuna. Porque Gatsby, apesar de tudo, manteve-se sempre igual a si mesmo, com uma fidelidade absoluta à trave mestra orientadora da própria conduta: o amor incondicional a uma única mulher: Daisy. Esta, no entanto, não está nem nunca esteve à altura da afeição mostrada por Gatsby ou, provavelmente, nunca teve consciência da sua importância. Jay Gatsby coloca o bem-estar da mulher amada acima de tudo: da lei, da ética, do dever-ser, da própria segurança. Facto de que ela nunca sequer chega a aperceber-se por várias razões. A única mudança que consegue perceber em Gatsby é a alteração da sua situação económica, que se concretiza num tempo errado, em relação às próprias conveniências.
A temática central de O Grande Gatsby consiste na forma como o protagonista constrói a fortuna que o tornou em alguém malvisto pela “boa” sociedade e às motivações que lhe estão subjacentes. Também a integração daqueles que vêm de fora da Big Apple, da Grande Metrópole, provenientes do interior ou de outros estados, pessoas como Nick, Jay ou Daisy, e se vêem a braços com sérias dificuldades para serem aceites nos restritíssimo círculo composto pela nata da sociedade nova iorquina – a ultra sofisticada e prestigiadíssima elite da Costa Leste, composta pelas famílias mais antigas pertencentes à upper-class – o que os transforma em seres algo inadaptados, que são sempre vistos como alguém que vem “de fora”, que não pertence exactamente ao “meio”.
Neste contexto, Jay tenta passar por aquilo que não é, para cativar a atenção de Daisy e ser aceite pelos seus pares, fingindo-se um rico herdeiro de uma família tradicional. No entanto, as suas palavras e atitudes acabam por traí-lo, ao mesmo tempo que tenta seduzir a mulher amada pelo fausto e pelo exibicionismo que acaba por deixar entrever as suas raízes provincianas.
Daisy, apesar de gozar de uma situação económica invejável e de uma reputação acima de qualquer suspeita, é uma mãe desatenta, que mostra em vários momentos não estar a par do desenvolvimento da filha, o que vem sublinhar o seu temperamento frívolo. É depressiva – tendência que se acentua após o parto – notando-se-lhe um progressivo toque de desesperança em relação ao futuro, à medida que o romance se vai aproximando da sua conclusão.
Tom torna cada vez mais evidente a sua vulgaridade, fruto de um temperamento boçal, cada vez mais vincado, e da ausência de cultura.
A única personagem que cria um vivo contraste em relação às restantes é Nick Carraway, a quem os restantes elementos recorrem com frequência como confidente, desempenhando a função de psicanalista (não oficial) do grupo de inadaptados da alta-sociedade.
Quanto a Nick, no momento em que abandona a família de orientação, a protecção do lar, mudando-se para o Leste é obrigado a enfrentar algumas restrições económicas e a ficar numa casa relativamente modesta, sem a cobertura social e financeira que tinha dos pais, tios, tias e primos do middwest.
Nick parece estar destinado a tornar-se num celibatário convicto, por não se identificar com a mentalidade superficial da alta sociedade de Nova Iorque ou, já agora, com o mundo das aparências que gravitava à volta da casa de Gatsby, um autêntico bando de mariposas a esvoaçar à volta de um candeeiro de rua.
Mais: a crítica social, feita com especial mestria pelo Autor, o qual através do recurso ao sarcasmo e à ironia, temperada por um delicioso humor negro, é marca de distinção estética e estilística que garante a qualidade literária da escrita do Autor pela forma genial como faz a caricatura da Destemperança dos comportamentos, sobretudo durante as festas loucas na principesca mansão de Gatsby onde “o álcool corria como um rio”. Estes deliciosos momentos de pausa na narrativa destacam-se pelas sensações de movimento de som – é impossível não ficarmos com a sensação de a ouvir o animadíssimo charleston - , mas sobretudo pela atribuição jocosa de hilariantes sobrenomes que compõem as listas de convidados, semelhante a um herbário ou bestiário onde figurariam os mais exóticos espécimes.
A simplicidade da estrutura narrativa, a fluidez dos diálogos e o realismo crítico impresso nas cenas descritas dão ao discurso presente neste livro, uma tonalidade aparentemente leve, mas de contornos precisos, através de uma evocação realista e pertinente de uma época e sociedade específicas, com um toque de ironia muito particular, que delicia quem lê, pela proximidade dos diálogos com o quotidiano…
Um clássico da literatura americana que vicia e alimenta o vício da literatura.
Cláudia de Sousa Dias
Isto porque a opinião pública, leitora assídua dos seus contos publicados no Saturday Evening Post” ignorava-o como autor de um grande livro, daquilo que, para nós, hoje em dia, se afigura como um inequívoco talento de romancista, apesar do sucesso dos seus contos sobre a sociedade da era do jazz, no período entre as duas grandes guerras.
A popularidade póstuma de Fitzgerald deveu-se, sobretudo, à conturbada vida conjugal com Zelda, uma mulher marcada pelo alcoolismo e pela esquizofrenia, na qual, ao que tudo indica, parece ter-se inspirado para compor os principais traços de personalidade da protagonista do seu mais célebre romance: Terna é a Noite.
T.S. Elliot, o autor de Pigmaleon, a peça de teatro que deu origem ao filme My Fair Lady, considerou-o como “o único progresso significativo no romance americano desde a morte de Henry James”.
Após a morte de Fitzgerald, num editorial do New York Times, afirmava-se que “ele era melhor do que pensava uma vez que, tanto no plano dos feitos como no plano literário, foi o inventor de uma geração”.
Sobre O Grande Gatsby podemos dizer que se trata de um romance que não anda muito longe do paradigma da perfeição no que respeita à fluidez do discurso, à construção da narrativa, à descrição de situações que caracterizam o comportamento de um grupo, considerado como “a nata” da sociedade americana da costa leste, durante o período de expansão dos loucos anos 1920: uma sociedade hedonista, onde o gosto pelo luxo e pelo álcool (numa altura em que era proibida a sua comercialização devido à publicação da Lei Seca, nos EUA) despertavam o impulso que comandava o desejo de viver uma vida trepidante o qual se sobrepõe, nas personagens de O Grande Gatsby, a outros valores considerados como fundamentais. O Autor dá a voz a Nick Carraway, o narrador, e co-protagonista, o alter-ego de Gatsby que sobressai pela discrição e low-profile.
A Trama
Trata-se de uma estória, contada como um depoimento, uma reflexão sobre os limites da conduta pessoal e da tolerância por Nick Carraway, um jovem proveniente de uma família rica do Middwest que, ao acabar os estudos, decide mudar-se para Nova Iorque, onde arranja emprego como corrector da Bolsa, através da intervenção dos familiares que se reúnem, propositadamente, para discutir a colocação que melhor se adeqúe às posição e ambições do jovem. A proximidade da bela, rica e mimada prima, Daisy, e do influente marido, cuja casa acabará por frequentar assiduamente, torna-se decisiva para a escolha do lugar onde morar.
Daisy é uma jovem encantadora, cativante mas superficial, uma característica que está patente não só nas suas atitudes, que englobam o discurso, gestos e expressões mas, sobretudo , nas escolhas que faz: Daisy é uma jovem que prefere sempre optar pela segurança material e pelo status social do que pelo amor.
O medo em relação ao futuro, a falta de segurança e autonomia toldam-lhe a visão e a capacidade de análise face ao carácter das pessoas, nublando-lhe a capacidade de discernimento.
Nick conhece, ainda, Jay Gtasby, o fulgurante milionário, cujo passado misterioso suscita toda uma gama de especulações acerca da forma como conseguiu fazer fortuna em tão pouco tempo – menos de uma década. Nick terá, ainda, a oportunidade de perceber a existência de uma ligação entre Daisy e Gatsby no passado.
É estabelecida, também, uma espécie de atracção ou ligação superficial entre Nick e Jordan Baker - uma desportista com poucos escrúpulos, uma vez que é perfeitamente capaz de adulterar as regras do jogo e fazer batota descaradamente. É bastante mais independente e cerebral do que Daisy, contudo, as limitações de ordem financeira fazem com que não tenha autonomia suficiente para viver sozinha (vive com uma tia) ou casar com alguém sem antes pensar na respectiva situação económica.
Tom Buchanan, o marido de Daisy, é um homem boçal, com “um corpo cruel”, paternalista, de ambições imperialistas no que respeita ao domínio da civilização ocidental face a outros povos. Algo que está patente na forma como exibe uma ostenta uma ofensiva condescendência face aos povos tecnológica ou economicamente “menos desenvolvidos”, a denunciar convicções muito próximas dos ideais do nazismo, com raízes no darwinismo social.
No entanto é, ironicamente, atribuída a Jay Gatsby ligações ao Kaiser e ao lado inimigo durante a primeira Grande Guerra, pelos vizinhos e habituais frequentadores das loucas festas em sua casa, devido às movimentações deste dentro do império austro-húngaro como agente secreto.
Tom Buchanan é, ainda, amante de Myrtle, - foco de discórdia entre este e a esposa, que se apercebe do facto. Myrtle é uma mulher bela, mas de uma sensualidade lasciva, algo vulgar, sexualmente excitante e sexualmente (muito) activa. É esposa de um homem ingénuo, o mecânico de automóveis, Clifford. Myrtle é, portanto, o oposto de uma jovem como Daisy, feita para brilhar em sociedade e ser idolatrada. Nick compara-a, a dada altura, a ela e a Jordan, a dois ídolos de prata.
Daisy, por sua vez, mostra ser, em vários momentos da narrativa, uma jovem frívola, superficial e irresponsável, um traço de personalidade que comunga com o marido, o qual, além da incapacidade de assumir os próprios erros acumula, também, um temperamento violento e vingativo, patente na forma como esbofeteia Myrtle e como humilha as mulheres em geral.
Nick Carraway, é um personagem cuja ética foi solidamente implantada e desenvolvida segundo o modelo do pai, seguidor de uma moral de inspiração kantiana. E é por isso que não consegue evitar repudiar este tipo de conduta afastando-se, inclusive, da fria e algo cínica, Jordan, cuja companhia acaba por saturá-lo e levá-lo a identificar-se muito mais com Jay a quem chega a admirar, apesar dos meios duvidosos que utiliza para construir fortuna. Porque Gatsby, apesar de tudo, manteve-se sempre igual a si mesmo, com uma fidelidade absoluta à trave mestra orientadora da própria conduta: o amor incondicional a uma única mulher: Daisy. Esta, no entanto, não está nem nunca esteve à altura da afeição mostrada por Gatsby ou, provavelmente, nunca teve consciência da sua importância. Jay Gatsby coloca o bem-estar da mulher amada acima de tudo: da lei, da ética, do dever-ser, da própria segurança. Facto de que ela nunca sequer chega a aperceber-se por várias razões. A única mudança que consegue perceber em Gatsby é a alteração da sua situação económica, que se concretiza num tempo errado, em relação às próprias conveniências.
A temática central de O Grande Gatsby consiste na forma como o protagonista constrói a fortuna que o tornou em alguém malvisto pela “boa” sociedade e às motivações que lhe estão subjacentes. Também a integração daqueles que vêm de fora da Big Apple, da Grande Metrópole, provenientes do interior ou de outros estados, pessoas como Nick, Jay ou Daisy, e se vêem a braços com sérias dificuldades para serem aceites nos restritíssimo círculo composto pela nata da sociedade nova iorquina – a ultra sofisticada e prestigiadíssima elite da Costa Leste, composta pelas famílias mais antigas pertencentes à upper-class – o que os transforma em seres algo inadaptados, que são sempre vistos como alguém que vem “de fora”, que não pertence exactamente ao “meio”.
Neste contexto, Jay tenta passar por aquilo que não é, para cativar a atenção de Daisy e ser aceite pelos seus pares, fingindo-se um rico herdeiro de uma família tradicional. No entanto, as suas palavras e atitudes acabam por traí-lo, ao mesmo tempo que tenta seduzir a mulher amada pelo fausto e pelo exibicionismo que acaba por deixar entrever as suas raízes provincianas.
Daisy, apesar de gozar de uma situação económica invejável e de uma reputação acima de qualquer suspeita, é uma mãe desatenta, que mostra em vários momentos não estar a par do desenvolvimento da filha, o que vem sublinhar o seu temperamento frívolo. É depressiva – tendência que se acentua após o parto – notando-se-lhe um progressivo toque de desesperança em relação ao futuro, à medida que o romance se vai aproximando da sua conclusão.
Tom torna cada vez mais evidente a sua vulgaridade, fruto de um temperamento boçal, cada vez mais vincado, e da ausência de cultura.
A única personagem que cria um vivo contraste em relação às restantes é Nick Carraway, a quem os restantes elementos recorrem com frequência como confidente, desempenhando a função de psicanalista (não oficial) do grupo de inadaptados da alta-sociedade.
Quanto a Nick, no momento em que abandona a família de orientação, a protecção do lar, mudando-se para o Leste é obrigado a enfrentar algumas restrições económicas e a ficar numa casa relativamente modesta, sem a cobertura social e financeira que tinha dos pais, tios, tias e primos do middwest.
Nick parece estar destinado a tornar-se num celibatário convicto, por não se identificar com a mentalidade superficial da alta sociedade de Nova Iorque ou, já agora, com o mundo das aparências que gravitava à volta da casa de Gatsby, um autêntico bando de mariposas a esvoaçar à volta de um candeeiro de rua.
Mais: a crítica social, feita com especial mestria pelo Autor, o qual através do recurso ao sarcasmo e à ironia, temperada por um delicioso humor negro, é marca de distinção estética e estilística que garante a qualidade literária da escrita do Autor pela forma genial como faz a caricatura da Destemperança dos comportamentos, sobretudo durante as festas loucas na principesca mansão de Gatsby onde “o álcool corria como um rio”. Estes deliciosos momentos de pausa na narrativa destacam-se pelas sensações de movimento de som – é impossível não ficarmos com a sensação de a ouvir o animadíssimo charleston - , mas sobretudo pela atribuição jocosa de hilariantes sobrenomes que compõem as listas de convidados, semelhante a um herbário ou bestiário onde figurariam os mais exóticos espécimes.
A simplicidade da estrutura narrativa, a fluidez dos diálogos e o realismo crítico impresso nas cenas descritas dão ao discurso presente neste livro, uma tonalidade aparentemente leve, mas de contornos precisos, através de uma evocação realista e pertinente de uma época e sociedade específicas, com um toque de ironia muito particular, que delicia quem lê, pela proximidade dos diálogos com o quotidiano…
Um clássico da literatura americana que vicia e alimenta o vício da literatura.
Cláudia de Sousa Dias
10 Comments:
Passei para avisar que tem um prémio no meu blog.
Boas leituras :)
obrigadíssima!
um abraço
csd
Parece-me, sim, um retrato fiel de uma sociedade pelos olhos de uma personagem que foi vítima dessa mesma.
Tens de ler "O Estranho Caso de Benjamin Button", que é absolutamente fenomenal.
este li.
mas lêr-lo com os teus olhos, é outra coisa.aprendo sempre muito com o teu olhar, minha linda.
beijos, muitos
desta vez concordo contigo e subscrevo o comentário.
lerei sim, sem dúvida.
mais cedo ou mais tarde, fa-lo-ei.
CSd
é uma querida, Martinha.
e não gostarias de vir ao cineliterário na 6º feira com aquela fenomenal "Crónica do Rei Pasmado" de Ballester?
CSD
Ola! Obrigado! Não falo muito bem o português - sou sueco! Sómente quero dar-te uma recomenda. 'Pedra de paciencia', do autor afghani Atiq Rahimi - outro literario português o describe no seu blog
http://bibliotecariodebabel.com/tag/atiq-rahimi/
así sou eu, o sueco!
obrigada pela sugestao! irei de certeza lar mas não nos próximos 4 meses!
:-)
bem-vindo ao meu cantinho!
estou a ler o gatsby na versão original em inglês quase arcaico, por assim dizer... acho-o fabuloso, se bem que algo difícil de entender em todas as suas palavras e associações, ou não fosse do princípio do séculoXX, principalmente porque não tem notas de tradutor ou de editor ;P
como todos os americanos tem um ritmo de acção assombroso, e no fundo passa-se em tão poucos dias mas consegue cativar a nossa atenção cá de uma maneira... mais americano não podia ser, não é?!
mesmo com as minha óbvias limitações de leitura em inglês possi dizer que é um livro espectacular!
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