Granta 123 – Best of Young British Novelists – Spring 2013
Quando saí do meu país para viver no
Reino Unido, há um ano, atrás estava a ler esta publicação. Há
muito que não lia um texto literário em inglês e, apesar de estar
habituada a ler textos científicos e jornalísticos naquela língua,
o discurso literário tem muito mais nuances, o vocabulário é uma
galáxia completamente diversa, heterogénea, assim como o uso que é
dado às palavras equivalentes À da minha língua materna. E heterogénea também é esta edição da Granta, um autêntico espelho da gigantesca Babel linguística e cultural que é
uma metrópole como Londres nos dias de hoje.
A Granta inglesa da Primavera de 2013
traz os textos daqueles que foram considerados os melhores vinte jovens
escritores da década a residir no reino Unido, sejam eles nativos do País ou não. Os textos apresentados são contos ou então um
capítulo de um romance ainda por publicar, de cada um deles. A
publicação conta também com um conjunto de fotografias dos
autores, num ensaio fotográfico coordenado pelo fotógrafo Nadav
Kander, nascido na África do Sul e a viver em Londres desde 1982.
cada Autor oferece o seu ponto de vista, focando cada um deles um
fragmento da realidade do País.
O Editor e Autor do Prefácio, John Freeman,
descreve a odisseia que foi o processo de selecção destes 20 best
of, e durante o qual se apercebeu do quanto a literatura ajuda a
melhorar o mundo interior de cada um, citando, a propósito, uma
frase de Jonathan Franzen: “reading taught me how to be alone”.
Para Freeman a política editorial da
Granta não visa apenas os aspectos comerciais – embora é claro
estejam, evidentemente, presentes – mas tenta realçar autores que se preocupem em lançar a
público questões pertinentes, em relação ao estado das coisas no mundo ou
em relação ao futuro da própria Grã-Bretanha. A selecção estará, portanto, relacionada com uma percepção “visionária” do mundo
convertida em retratos da contemporaneidade – dentro ou fora do
reino Unido – por estes jovens escritores.
Nas décadas anteriores foram
destacados autores como Salman Rushdie, Graham Swift, Kazuo Ishiguro,
Ian Mc Ewan, Julian Barnes ou Martim Amis na década de oitenta (1983). Ou Alan Hollinghurst, Will Self, Helen Simpson, Jeannette
Winterston na década de noventa (1993) e David Mitchell, David
Peace, Hari kunzru ou Monica Ali no início dos anos dois mil (2003).
No entender de Freeman, esta percepção acerca dos jovens autores
que vão influenciar a década seguinte tem de acontecer muito antes
de estes se tornarem conhecidos pelo grande público e no que toca ao
seu peso sócio-literário.
Para serem consideradas as suas
candidaturas os Autores teriam de ter, até à data de publicação
da Revista, quarenta anos e um contrato de publicação de pelo menos
uma obra de ficção. Os “vinte de 2013” foram destacados de
entre 150 candidatos, tendo a lista posteriormente descido para
cinquenta e a seguir para trinta e cinco autores. Sete deles foram
consensualmente aprovados para fazerem parte dos “best of”, tendo
os restantes demorado um pouco mais a serem seleccionados.
Mas quem são estes “vinte”? Oito
homens e doze mulheres. Três do grupo possuem raízes africanas,
tendo um deles nascido na China e começado recentemente a escrever
em Inglês. Outro de New South Wales, outra do Paquistão outra ainda
do Bangladesh e uma terceira, Indiana de segunda geração, nascida
no Derbyshire. Há ainda quatro escritores de origem judias, um deles
oriundo do Canadá, de ascendência húngara e outro ainda que passou
grande parte da vida no Texas.
Então cá estão eles:
Kamilla Shamsie (n.1973) com um
capítulo de um novo romance ainda a publicar, sobre a II Guerra
Mundial e a participação dos soldados da União Indiana na Guerra.
À data desta publicação tinha já editado cinco romances, o primeiro In the City by the Sea foi publicado pela Granta Books em 1998 tendo ficado na short list para o John Llewellyn Rhys Prize, e o
mais recente, Burnt Shadows feito parte do grupo dos finalistas
do Orange Prize. Cresceu em Karachi (Paquistão) e vive agora em
Londres É membro do Royal Society of Literature.
Ned Beauman (n. 1985) é
londrino. Ganhou o Prémio Golberg for Outstanding début Fiction e o Wtriters Guild Award forBest Fiction Book com o romance Boxer, Beetle. O segundo romance The Teleportation Accident ficou na long list para o Man Booker Prize. O excerto presente nesta Granta faz parte do ousado romance Glow foi publicado em 2014.
Tahmina Anam (n. 1975) é autora
da Bengal Trilogy que traça a saga de três gerações de
uma família dentro do contexto que vai desde a guerra do Bangladesh
até aos dias de hoje. Anam ganhou o Prémio Commonwealth
Writers for Best First Book, com A Golden Age. O excerto aqui incluído pertence ao
novo romance, Shipbreaker a sair ainda em 2014.
Naomi Alderman (n.1974), de
origem judia, é Autora de três romances: “Disobedience”, The
Lessons e The Liar's Gospel. É criadora de jogos para
computadores e várias aplicações ligadas à tecnologia. Ensina
escrita criativa em Bath Spa University. Está actualmente a
trabalhar num quarto romance. O texto desta Granta é um conto
inédito, sendo também uma das mais ousadas narrativas desta
revista.
Nadifa Mohamed (n.1981) nasceu
na Somália mas já vive na Grã-Bretanha desde 1986. Publicou o
primeiro romance em 2010, Black Mamba Boy que foi finalista do
Guardian First Book Award, do Dylan Thomas Award, do John Llewellyn
Rhys Prize e do PEN book Award tendo ganho o Betty trask Award. O
excerto desta revista faz parte do romance The Orchard of Lost
Souls a sair ainda no Reino Unido. O livro fala sobre a Guerra
Civil na Somália.
David Szalay (n.1974), nasceu no
Canadá. A família mudou-se para o Reino Unido pouco depois, tendo
vivido aí desde então. Szalay tem já três romances publicados
London and the South-East, The Innocent e Spring.
Está actualmente a trabalhar em novos projectos,sendo o texto aqui
incluído, parte de um deles. É um texto duro, que fala dos fluxos
de imigração dentro da Europa e, particularmente que desembocam na
Grã-Bretanha.
Evie Wyld (n.1980) dirige a
“Review” uma pequena livraria independente em Peckham no Sudeste
de Londres. Ganhou o John Llewelyn Rhis Prize e o Betty trask Award
com After the Fire, a still Small Voice. A obra fez também
parte de várias outras shortlist de vários outros prémios. A
própria Autora fez também parte da “Culture Show's” Best New
British Novelists em 2011. O texto da Granta 123 faz parte do seu
segundo romance All the Birds, Singing.
Taiye Selasi (n.1979), londrina
de pai nigeriano e mãe de terras do Ghana. Estudou em Yale e Oxford
e estreou-se na ficção, na Granta de 2011 com o impactante texto
The Sex Lives of African Girls o qual entrou para a lista dos
Best American Short Stories 2012. O seu primeiro romance, Gana Gust Go foi publicado em 2013. Sendo alguém que está sempre em
viagem devido à sua actividade como fotógrafa para documentários,
encontrava-se à data da publicação a viver em Roma. Driver,
o conto desta revista, é um texto inédito.
Adam Thirlwell (n.1978) nasceu
em Londres. É Autor de dois romances Politcs e The Escape,
uma novela – Kapow! – e um livro de ensaio – Miss Herbert –
que venceu o Somerset Maugham Award. Curiosamente, tinha já sido
seleccionado para os Granta Best young British Novelists de 2003. O
texto desta revista faz parte de um romance ainda por terminar.
Steven Hall (n. 1975) nasceu no
Derbyshire. O seu primeiro romance, The Raw Shark Texts ganhou
o Borders original Award e o Somerset Maugham Award. Os dois excertos
desta revista são do seu segundo romance End of Endings.
Adam Foulds (n. 1974) é um
poeta e romancista londrino, colaborador, juntamente com a pintora
portuguesa Paula Rego, num projecto que envolve a literatura e as
belas-Artes. Publicou dois romances, The Truth About These Strange
Times, The Quickening Maze e ainda “The Broken Word”, um
poema em prosa, composto durante a ascensão dos Mau-Mau no Quénia,
já no final da jurisdição britânica. Acumulou vários prémios
entre os quais o Sunday Times Writer of the Tear, o Costa Poetry
Prize, o Somerset Maugham Award e o European Union Prize for
Literature a que se juntam ainda o South Bank Show Prize for
Literature e o Encore Award.
O romance “The Quickening Maze”
entrou para a lista de finalistas do Man Booker Prize de 2009 e em
2010 Foulds passa a ser membro da Royal Society of Literature. O
texto deste número da Granta faz parte do romance “In the Woolf's
Mouth”, publicado em 2014 e que será, futuramente comentado neste
blog.
Benjamin Markovitz (n. 1973)
cresceu entre as cidades de Londres, Oxford, Texas e Berlim. Desistiu
de uma carreira desportiva para estudar os Românticos. Ensinou
Inglês nos liceus e trabalhou numa revista cultural conotada
ideologicamente com a esquerda e publicou já seis romances,
incluindo uma trilogia sobre a vida de Lord Byron. Fixou residência
em Londres onde vive já desde o ano 2000, com a família. Ensina
escrita criativa em Royal Hollway, Universidade de Londres. O excerto
desta revista faz parte de um novo romance sobre um grupo de
estudantes universitários que se
envolvem num projecto para regenerar e reconstruir economicamente a
cidade de Detroit.
Joanna
Kavenna (n.1973)
cresceu em várias regiões de Inglaterra tendo também vivido nos
EUA, França, Alemanha, Escandinávia e Países Bálticos. É Autora
de três romances: Inglorious, The Birth of Love e Come
to the Edge, assim como de uma obra de não ficção, The Ice
Museum”. Em 2008, foi-lhe atribuído o Orange Prize for New
Writing. O texto desta revista é um excerto do próximo romance.
Zadie
Smith (n.1975) nascida
em Londres é autora de romances como White Teeth, The
Autograph Man e On Beauty, este último na shortlist para o
Man Booker Prize 2005 e vencedor do Orange Prize 2006. É também
Autora de Changing my mind: occasional essays e de diversas
antologias incluindo The Book of Other People O seu romance
mais recente é NW e foi classificado como um dos Ten Best
Books of 2012 pelo New York Times. Tal como Adam Thirlwell, também Zadie Smith figurou já nos Granta's 20 Best Young British Novelists
de 2003. O texto desta revista faz parte de uma novela ainda por
concluir.
Sarah
Hall (n.1974) nasceu
em Cumbria e vive actualmente em Norfolk. É Autora de quatro
romances: Haweswater, The Electric Michelangelo, The
Carhullan Army (publicado nos EUA como Daughters of the North)
e How to Paint a Dead Man (uma colectânea de contos), The
Beautiful Indiference (colecção de dramas radiofónicos originais)
e poesia. Hall ganhou também vários prémios, incluindo o
Commonwealth Prize for best First Novel e o Betty Trask Award, o John
Lewellyn Rhys Prize, o James Tiptree Jr. Award e o Edge Hill
University Short Story Prize. Foi também, por duas vezes, vencedora
do Portico Prize, além de ter figurado na shortlist de muitos
outros prémios. O excerto desta revista faz parte de um romance
ainda por publicar.
Xiaolou
Guo (n. 1973) estudou
na Beijing Film Academy e concluiu o mestrado na National Film School
em Londres. Publicou já sete romance em Inglês e Chinês. O seu livro A
Concise Chinese-English Dictionary for Lovers ficou na shortlist do
Orange Prize for Fiction. Os seus outros romances incluem UFO in
her Eyes e 20 Fragments of a Ravenous Youth. Realizou
também vários filmes premiados entre os quais “She, a Chinese”
e “Once upon a time a Proletarian”. O excerto desta revista faz
parte do romance I am China a publicar.
Helen
Oyeyemi (n.1984) é
autora de The Icarus Girl e The Opposite House. O seu
terceiro romance, White is for Witching foi premiado em 2010
com o Somerset Maugham Award, e o quarto, Mr. Fox, ganhou o
Zora Neale Hunston/Richard White Foundation Award em 2012. O texto
desta Granta faz parte do romance inédito, Boy, Snow, Bird a
publicar em 2014.
Jenni
Fagan (n. 1977) teve
uma recepção bastante positiva no seu romance de estreia, The Panopticon, foi publicado
em 2012 e classificado como um dos “onze da Waterstone” daquele
ano. Trata-se de uma selecção que envolve os onze melhores estreias
anuais distribuídas por aquele cadeia de livrarias. A poesia de
Fagan foi destacada pela atribuição do Pushcart Prize e o livro
The Dead Queen of Bohemia foi nomeado pela revista 3:AM como O
Livro de Poesia do Ano. À data, frequentava o mestrado em escrita
criativa no Royal Hollway da University of London. Vive, actualmente
nu,a cidade costeira na Escócia. Este excerto da Granta 123 faz
parte do romance que estava a escrever à data da sua publicação.
Senjeev
Shota (n.1981) nasceu
em Derby e vive actualmente em Londres com a família. O seu primeiro
romance, Ours are the Streets foi publicado em 2011. Este texto é
um excerto de “The Year of the Runaways” o seu segundo romance, na
altura ainda por publicar.
Por último,
temos Ross Raisin (n. 1979) nascido em Silsden, West Yorkshire. O seu
primeiro romance, God's Own Country foi publicado em 2008 e
premiado em 2009 com o Sunday Times Young Writer of the Year, com o
Guilford First Novel Prize e com o Betty Trask Award. Entrou ainda
para a shortlist de mais seis prémios, incluindo o Guardian First
Book Award e o International IMPAC Dublin Literary Award. O seu
segundo romance, Waterline foi publicado em 2011. Os seus
contos aparecem na Granta, Prospect, Esquire, Dazed & Confessed,
no Sunday Times e são lidos na Radio (BBC). O texto nesta Granta é
um conto inédito.
Foi esta variedade de pontos de vista, diversidade de experiências, vivências e discursos que me fizeram amar esta cidade e decidir ficar por cá durante uns tempos.
Cláudia de Sousa Dias
3 Comments:
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Antonio Ganhão, Isabela Figueiredo e Catarina Fonseca gostam disto.
Claudia De Sousa Dias Pergunto-me quantos deles conseguirão ser traduzidos para português.
Agora mesmo · Editado · Gosto
Antonio Ganhão Adicionei este blog à lista do Acrítico.
1 h · Não gosto · 1
Claudia De Sousa Dias Obrigada!
21 min · Gosto · 1
"Granta 123 – Best of Young British Novelists – Spring 2013"
E quando se aventura a menina Cláudia a escrever também? Quero vê-la nessa lista!
Madalena Ribeiro
ui....! isso ainda vai demorar muiiiiiito!!!!
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