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Blog sobre todos os livros que eu conseguir ler! Aqui, podem procurar um livro, ler a minha opinião ou, se quiserem, deixar apenas a vossa opinião sobre algum destes livros que já tenham lido. Podem, simplesmente, sugerir um livro para que eu o leia! Fico à espera das V. sugestões e comentários! Agradeço a V. estimada visita. Boas leituras!

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Bibliomaníaca e melómana. O resto terão de descobrir por vocês!

Friday, June 18, 2010

"O Caderno" de José Saramago (Caminho, 2009)


Baseada no blogue homónimo do Autor, a obra nasce a partir do desafio lançado pelas pessoas afectivamente mais próximas de José Saramago, lançado durante o período de convalescença após o colapso sofrido em 2007.


Os textos deste diário on-line debruçam-se sobre acontecimentos da actualidade nacional e internacional, ocorridos entre Setembro de 2008 e Março de 2009.


A produção literária e o exercício da escrita desenrolam-se neste caso, numa vertente diferente da habitual constituindo uma estreia para o Autor que inicia com este “Caderno” os primeiros passos na blogosfera. A narrativa adquire assim a forma de um monólogo, ou melhor, um recurso de estilo que reflecte um diálogo imaginário com os leitores, adequando-se como uma luva à forma mais revolucionária de comunicação com público, ocorrida na última década.


Desta forma, as palavras chave presentes nos textos do blogue de José Saramago, transformadas em livro, cujos textos são, na quase totalidade constituídos por artigos de opinião, compreendem: uma visão crítica do capitalismo, quando assume a vertente predatória, assente na especulação financeira e no sangramento do s recursos económicos das famílias; na avidez que quando leva ao entesouramento sem ter em vista o investimento direccionado para o bem de todos ou, pelo menos, para a maioria dos cidadãos; Saramago ocupa-se ainda em conduzir a dissecação dos pontos débeis da economia do país e também a nível internacional ao expor contradições de teor geo-político, sobretudo no que toca à hipocrisia de alguns chefes de estado mais influentes, dirigindo as frases mais virulentas à questão do Próximo Oriente e ao teor da aliança político-económica entre os Estados Unidos e Israel. É também abordada a questão das fragilidades do sistema Democrático, sobretudo quando desvirtuada pela concentração excessiva de poder num único órgão governamental, salientando o caso de Itália e Berlusconi como um dos casos mais inquietantes da Europa.


José Saramago não deixa, também de frisar, num discurso muitas vezes imbuído de paixão indignada o problema da imigração clandestina na Europa e da forma como esta questão tem vindo a ser encarada por alguns chefes de estado europeus ao chamar a atenção para a crise de valores e para a crescente subvalorização do humanismo que grassa nas instituições nos dias de hoje, fruto da burocratização e da ênfase colocada no sistema judicial na letra da lei sem se reportar à sua essência – o espírito da lei –, que conduz a uma maior aproximação ao ideal de Justiça assente num sincretismo ideológico hegel-kantiano.


Aponta situações onde o primado do interesse e da practicidade permitem o triunfo do oportunismo traduzido em atitudes de “salve-se quem puder” cada vez mais presente no quotidiano e do individualismo excessivo daqueles de quem José Cardoso Pires dizia que “Só olham para o próprio umbigo” (in Lavagante). As preocupações de José Saramago centram-se assim na tendência crescente para a erradicação da palavra “ética” ou “moral” do léxico da maior parte dos cidadãos que leva a um dos muitos tipos de cegueira colectiva.


Os temas fortes, são o Direito à Liberdade de expressão, os direitos humanos, o prazer da escrita, as viagens e a divulgação dos livros, seus e não só, homenagem a escritores, poetas e cientistas que se destacam pelo contributo prestado à humanidade, sobretudo na questão da cidadania.


O teor da obra é, muitas vezes, virulento e impiedoso, no entanto está presente a lucidez decorrente da análise das situações caso a caso. Saramago não cai no erro de confundir George W. Bush com Barak Obama, tal como a posição que sustenta face à actuação do governo israelita na questão palestiniana, não toldar a visão acerca dos acontecimentos históricos ocorridos na Europa do século vinte, conseguindo distinguir na perfeição a geração do povo judeu contemporâneo de Irene Nemiróvsky face aos apoiantes da política levada a cabo na actualidade naquele país, de carácter expansionista, pela insanidade obsessiva em manter os territórios do estado judaico no tempo de Adriano.


Saramago não vem trazer a paz (essa é a missão do outro Prémio Nobel) mas a divisão de opiniões, assente na discussão e debate necessários num estado democrático onde somente deve ser proibida a existência de temas-tabu, a expulsar o obscurantismo e a ausência de espírito crítico ao assumir uma postura, para alguns arrogante, para muitos outros anti-conformista. Uma obra que expressa o desejo de lucidez a expulsar a cegueira de espírito, numa perspectiva, iluminista muito ao gosto de Voltaire, vertendo para o Século das Luzes para os nossos dias.
De Cláudia de Sousa Dias para orgialiteraria.com em 9 de Novembro de 2009

10 Comments:

Blogger Ricardo Antonio Lucas Camargo said...

Bela e merecida homenagem ao saudoso romancista, que muitos conservadores consideram uma "pedra no sapato", porque foi quem ensinou à Academia Sueca que era possível à Língua Portuguesa obter o Prêmio Nobel, e que, por considerar o stalinismo em relação ao comunismo o mesmo que a inquisição em relação ao catolicismo, não teve aquele como suficiente para abalar a sua convicção política. De outra parte, Saramago é um dos autores que nos convidam a fazer algo de que temos muito medo, cá no Brasil: debater os temas que desnudam a consciência do "homem de bem", porque geram, de plano, a desconfiança de alinhamento com regimes de força do lado da esquerda, como se em nome do "combate ao comunismo" tudo fosse permitido. No sentido de provocar o debate, muito semelha o nosso Monteiro Lobato (1882-1948), hoje mais lembrado como autor de livros infantis (seguindo, aliás, sugestão posta por Eça de Queiroz nas Cartas de Inglaterra), mas que protagonizou algumas das polêmicas mais acendradas do início do século XX, retratando a vida mesquinha do homem do interior paulista no personagem Jeca Tatu, no livro de contos Urupês -datado de 1918 -, consumido pelas verminoses e pela bebida, a subserviência da elite cultural brasileira (que se recusava a admitir, entre outras coisas, a existência de petróleo no Brasil, porque isto não era bom para as companhias que exportavam o combustível).

8:51 PM  
Blogger Fernanda Fiuza said...

Ah que pesada baixa para a literatura universal. Resta-nos a excelente obra desse gênio... E o Vaticano que vá se catar!

2:00 AM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Obrigada Ricardo, pelo carinho.e pela partilha de Autores do Brasil menos conhecidos em portugal.

csd

10:58 AM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

ahah...!

pois é Nanda. é mesmo o que apetece dizer.



csd

10:59 AM  
Blogger Ricardo Antonio Lucas Camargo said...

A nota do Vaticano, condenando o escritor ao inferno, preferiu ficar na discussão da prática de atrocidades "em nome de Deus" ou "em nome do socialismo" ou "em-nome-do-que-quer-que-seja", a partir de um aspecto absolutamente incidental - o ateísmo e a militância de Saramago -, deixando-se de lado o principal: a contribuição que o falecido escritor trouxe para a literatura portuguesa, normalmente valorizada somente em Portugal e no Brasil. Saramago foi, efetivamente, quem mostrou à Real Academia da Suécia que o Prêmio Nobel de Literatura não tinha nojo da língua portuguesa. Este é um fato, indiscutível: o escritor português ombreou-se com Ernest Hemingway, com John Steinbeck, com Thomas Mann. Independentemente de se defender ou não o ateísmo, foi o primeiro Prêmio Nobel da língua portuguesa - a menos que se queira adotar em Portugal, embora sob inspiração ideológica diversa, para agradar às alas mais extremistas, a operação que Stalin realizou com a fotografia em que seu desafeto Trotsky aparecia -. Quanto ao autor que referi, cuja data de nascimento – 18 de abril – é considerada “Dia do Livro”, no Brasil, justamente pela sua compreensão, posta em prática, no sentido de que “um país se faz de homens e livros”, cheguei a publicar um pequeno ensaio neste elo: http://observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=519FDS008.

2:47 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Ah...Ricardo...! o que mais há é pobres de espírito...


csd

11:43 AM  
Blogger O saber não ocupa lugar! said...

Olá!

Acho este blogue é excepcional, pois aresenta vários livros e os comentários da sua leitura, focando aspectos demais importância (que se pretende dar mais ênfase).

Espero a sua visita no meu blogue e seus comentários (opiniões, sugestões, críticas construtivas, etc). Lá encontram-se postagens sobre possíveis sugestões de leitura, entre outros temas à sua disposição.

Belinha.

2:48 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Obrigada Belinha...

Os textos já estão aficar com um número apreciável de comentários.

Já vai sendo altura de publicar outro...

entre amanhã e 6ª, possivelmente.

:-)


csd

3:00 PM  
Blogger Carlos Pires said...

Folheei o livro e antes disso li muitos posts no blogue.
Que auto-complacência, que ego tão gorduroso e pouco subtil!
Dá que pensar, e é quase uma lição de vida, que um homem assim (lembremo-nos das lastimáveis opiniões comparando os EUA e Israel ao nazismo) tenha escrito um livro tão admirável como o 'Memorial do Convento'.

4:19 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

pois a mim, Carlos, não me espanta nada.

Em relação a Israel, não só compreendo a posição de Saramago, como subscrevo.

Primeiro, porque para mim a questão da paz no Médio Oriente não tem solução sem a retirada de Israel dos territórios ocupados, sobretudo quando alegam razões históricas para o fazer.

Porque, neste caso, também teríamos de dar razão a Hitler quando invade a Boémia, e os restantes territórios que antes pertenciam à Prússia.

Da msma forma, se os Muçulmanos do norte de África se lembrassem de invador a Pensínsula pela mesmas razõoes e ainda mais com o beneplácito da Divindade teríamos de lhes conferir toda a legitimidade.

Por isso, se Israel alega razões históricas e religgiosas para insistir na ocupação, está a agir por um lado como os estados teocráticos, como o Irão ou o Afeganistão (não tendo, para isso moral para criticar qualquer tipo de fundamentalismo, porque eles próprios actuam segundo o fundamentalismo religioso).

Quanto aos EUA, Saramago critica sibretudo a administração BUsh (embora antipatizasse também com outros antecessores - MCarthy, como é óbvio e por razões também óbvias), mostrando-se por outro lado progressiva e agradavelmente impressionado com as atitudes de Obama. ortanto a crítica não é contra os EUA, mas visa somente alguns líderes.


csd

7:15 PM  

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