"O Último Encontro" Catherine Clément (ASA)
Tradução do Francês de Sara de St. Claire e Maria do Rosário Mendes
Uma história contada a três vozes onde duas mulheres se digladiam até ao último fôlego, pelo amor do filosofo ao serviço do regime nazi no seu leito de morte - o polémico Martin Heidegger - naquela que foi uma das mais belas histórias de amor do século XX.
Tendo já habituado o seu público a romances de extrema beleza, marcados poramores impossíveis, como em "A Senhora", "A Valsa Inacabada" e "Por amor da Índia", Catherine Clément apresenta-nos, desta vez, uma história de amor que se sobrepõe a todas as correntes ideológicas vigentes na época, tal como a águia que sobrevoa as nuvens planando sobre as colunas de ar ascendentes.
Catherine conta-nos o desenrolar de uma paixão que obrigou Martin Heidegger a ignorar as convenções religiosas da cultura cristã, que sanciona o adultério, e as imposições do regime nazi, que não só proíbiam como puniam implacavelmente as ligações afectivas entre arianos e judeus.
Da mesma forma, a lindíssima e misteriosa Hannah Arendt, uma intelectual brilhante que, pouco antes do deflagrar da segunda grande guerra, apaixonou-se pelo seu professor de filosofia, católico luterano e associado ao partido nazi, arriscando-se à censura da comunidade judaica a que pertencia.
Nesta obra , Catherine Clément explora, de uma forma pouco ortodoxa, os dois arquétipos inconciliáveis da esposa e da amante, as míticas Eva e Lillith incarnadas em Elfriede - a esposa ariana de loiríssimos cabelos, cristalinos e azulíssimos olhos, acérrima defensora do partido de Hitler, empenhadíssima na recuperação da nação alemã no período entre as duas grandes guerras, esposa e mãe perfeita, a viga mestra que suporta o lar onde reside Martin Heidegger, a guardiã da paz do filósofo.
E Hannah, a moreníssima estudante judia, errante, apátrida, dotada de uma inteligência invulgar, que simboliza o Oriente grego para o filósofo. Que, tal como a mulher-demónio Lillith, vem abalar a paz de espírito de Martin , como o ventode Leste.
Catherine Clément explora, a partir do discurso destas duas mulheres, as diferenças abissais de carácter entre as duas figuras femininas, cujo único ponto em comum foi o de terem amado o filósofo, caído em desgraça após a vitória dos Aliados.
Martin Heidegger é-nos apresentado no seu leito de morte, em estado de coma,mas não totalmente inconsciente, atormentado por sonhos\pesadelos onde as memórias se sucedem num vórtice interminável quase que à velocidade da luz e atormentado pela impiedosa disputa que as suas duas mulheres insistem em prolongar até ao seu último suspiro.
O seu estado de semi-consciência permite-lhe ter uma vaga percepção de tudo aquilo que passa à sua volta. À medida que se aproximam os derradeiros momentos da sua vida, diluem-se as fronteiras entre passado e presente, confundem-se os pensamentos que se sucedem a uma velocidade suicida.
Tenta, desesperadamente, escapar à decadência - isto é, à maldição de ficar aprisionado num dado momento da história, sem acompanhar a evolução dostempos.
Mas o tempo engole-o.
E o seu afecto dividido dilacera-o.
Esta é uma história contada a três vozes, onde podemos testemunhar o pragmatismo, o extremo o sentido de dever e o espantoso grau de possessividade no discurso de Elfriede. Ao qual se contrapõe o cosmopolitismo, a efervescência e a passionalidade e um acutilante sentido de ironia em Hannah e as perigosas oscilações de ritmos na "voz" de Heidegger num discurso, ora de uma tranquilidade nostálgica, ora de uma turbulência de tufão do Pacífico, numa tentativa desesperada de escapar ao abraço da Morte.
Catherine Clément oferece, mais uma vez, ao seu público uma história de um sublime amor proibido, entre duas almas que são como duas chamas que ardem em campos opostos.
Entre duas pessoas que significam duas formas de estar na sociedade irremediavelmente antagónicas: o nazi e a judia.
Um romance dolorosamente belo.
Que nos fala de um amor de uma beleza impossível.
Feito à medida de seres superiores.
Como Martin e Hannah.
Cláudia de Sousa Dias
Uma história contada a três vozes onde duas mulheres se digladiam até ao último fôlego, pelo amor do filosofo ao serviço do regime nazi no seu leito de morte - o polémico Martin Heidegger - naquela que foi uma das mais belas histórias de amor do século XX.
Tendo já habituado o seu público a romances de extrema beleza, marcados poramores impossíveis, como em "A Senhora", "A Valsa Inacabada" e "Por amor da Índia", Catherine Clément apresenta-nos, desta vez, uma história de amor que se sobrepõe a todas as correntes ideológicas vigentes na época, tal como a águia que sobrevoa as nuvens planando sobre as colunas de ar ascendentes.
Catherine conta-nos o desenrolar de uma paixão que obrigou Martin Heidegger a ignorar as convenções religiosas da cultura cristã, que sanciona o adultério, e as imposições do regime nazi, que não só proíbiam como puniam implacavelmente as ligações afectivas entre arianos e judeus.
Da mesma forma, a lindíssima e misteriosa Hannah Arendt, uma intelectual brilhante que, pouco antes do deflagrar da segunda grande guerra, apaixonou-se pelo seu professor de filosofia, católico luterano e associado ao partido nazi, arriscando-se à censura da comunidade judaica a que pertencia.
Nesta obra , Catherine Clément explora, de uma forma pouco ortodoxa, os dois arquétipos inconciliáveis da esposa e da amante, as míticas Eva e Lillith incarnadas em Elfriede - a esposa ariana de loiríssimos cabelos, cristalinos e azulíssimos olhos, acérrima defensora do partido de Hitler, empenhadíssima na recuperação da nação alemã no período entre as duas grandes guerras, esposa e mãe perfeita, a viga mestra que suporta o lar onde reside Martin Heidegger, a guardiã da paz do filósofo.
E Hannah, a moreníssima estudante judia, errante, apátrida, dotada de uma inteligência invulgar, que simboliza o Oriente grego para o filósofo. Que, tal como a mulher-demónio Lillith, vem abalar a paz de espírito de Martin , como o ventode Leste.
Catherine Clément explora, a partir do discurso destas duas mulheres, as diferenças abissais de carácter entre as duas figuras femininas, cujo único ponto em comum foi o de terem amado o filósofo, caído em desgraça após a vitória dos Aliados.
Martin Heidegger é-nos apresentado no seu leito de morte, em estado de coma,mas não totalmente inconsciente, atormentado por sonhos\pesadelos onde as memórias se sucedem num vórtice interminável quase que à velocidade da luz e atormentado pela impiedosa disputa que as suas duas mulheres insistem em prolongar até ao seu último suspiro.
O seu estado de semi-consciência permite-lhe ter uma vaga percepção de tudo aquilo que passa à sua volta. À medida que se aproximam os derradeiros momentos da sua vida, diluem-se as fronteiras entre passado e presente, confundem-se os pensamentos que se sucedem a uma velocidade suicida.
Tenta, desesperadamente, escapar à decadência - isto é, à maldição de ficar aprisionado num dado momento da história, sem acompanhar a evolução dostempos.
Mas o tempo engole-o.
E o seu afecto dividido dilacera-o.
Esta é uma história contada a três vozes, onde podemos testemunhar o pragmatismo, o extremo o sentido de dever e o espantoso grau de possessividade no discurso de Elfriede. Ao qual se contrapõe o cosmopolitismo, a efervescência e a passionalidade e um acutilante sentido de ironia em Hannah e as perigosas oscilações de ritmos na "voz" de Heidegger num discurso, ora de uma tranquilidade nostálgica, ora de uma turbulência de tufão do Pacífico, numa tentativa desesperada de escapar ao abraço da Morte.
Catherine Clément oferece, mais uma vez, ao seu público uma história de um sublime amor proibido, entre duas almas que são como duas chamas que ardem em campos opostos.
Entre duas pessoas que significam duas formas de estar na sociedade irremediavelmente antagónicas: o nazi e a judia.
Um romance dolorosamente belo.
Que nos fala de um amor de uma beleza impossível.
Feito à medida de seres superiores.
Como Martin e Hannah.
Cláudia de Sousa Dias
2 Comments:
olá!estava na net à procura de opiniões sobre este mesmo livro e vim aqui ter a este blog.
Gostei muita maneira como descreveste o livro e apesar de ainda não o ter acabado ficaram exclarecidas algumas dúvidas.O fim do texto não podia estar melhor.
Obrigado pela ajuda.
que bom ver finalmente este livro comentado.
ainda bem que gostaste dele tantp quanto eu!
um abraço
CSD
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