“Agostinho” de Alberto Moravia (Ulisseia)
A extrema sensibilidade de Alberto Moravia manifesta-se, em “Agostinho”, através do olhar de um adolescente. Agostinho está a sair da fase que Sigmund Freud apelida de “lactência” – período que medeia entre os seis e os doze anos e durante o qual os instintos sexuais estão como que adormecidos - e a entrar na fase genital, altura em que começa a ter os primeiros impulsos sexuais tal como se manifestam ao longo da idade adulta.
Moravia descreve, com altíssimo grau de precisão, toda a turbulência emocional do adolescente, dissecando emoções e explicando-as de forma a ficarmos com o mapa exacto das motivações que estão por trás das atitudes desta personagem.
O olhar da criança transforma-se, gradualmente, pela progressiva tomada de consciência acerca da sexualidade da própria mãe. Esta tomada de consciência é, simultaneamente, despoletada pela maledicência do seu grupo de pares - os amigos que encontra na rua - e pela crescente pulsão sexual que ocupa cada vez mais espaço no seu Eu interior obrigando-o a reparar na beleza e sensualidade maternas.
O complexo de Édipo e a influência de Freud, o pai da psicanálise, é mais do que evidente na escrita de Moravia.
À vaidade em ser o centro das atenções pela companhia de uma mulher bela (a presença magnífica da mãe, uma atraente viúva na plenitude da sua sensualidade) sucede-se a culpa pela dualidade de sentimentos e necessidade compulsiva de isolar ambas as facetas da mãe em compartimentos estanques. Isto faz com que tente direccionar a sua recente sexualidade genital para outro objecto sexual alternativo. Este é o principal objectivo de Agostinho, que irá orientar as suas atitudes ao longo da história, bem como a necessidade crescente de compreender-se a si próprio e aos que o rodeiam.
Outra vertente deste conto (que alguns autores preferem classificar de novela, apesar de Agostinho ser uma personagem mutável) é a socialização secundária de Agostinho que ocorre dentro do seu grupo de pares: os filhos dos banheiros e pescadores que encontra na praia, próxima da estância balnear, onde está a passar as férias de Verão em companhia da mãe.
Apesar das diferenças sociais, os elementos do grupo revelam-se essenciais para o seu amadurecimento.
A posição de Agostinho no grupo é periférica, devido não só à idade e constituição física frágil, mas também pelo facto de ser tão diferente dos restantes elementos. Essa mesma fragilidade e diferença são, simultaneamente, a sua fraqueza e a sua força. Agostinho conserva sempre alguma independência na sua forma de pensar, relativamente aos restantes elementos. Apesar de, para ele, a integração e necessidade de ser aceite, admirado e respeitado pelos outros ser fundamental. Para ser aceite é necessário, por vezes, contrariar comportamentos anteriormente adquiridos como, por exemplo, a forma de vestir ou o horário de chegar a casa.
E é no grupo que a ingenuidade de Agostinho começa a desaparecer. Este toma contacto com as implicações dos rumores, sofre as consequências directas da propagação dos boatos e apercebe-se que nem todos os adultos protegem as crianças. É no grupo que toma consciência de que há formas de paternalismo que escondem a tirania e o abuso sexual debaixo de uma máscara pseudo-protectora.
É, também através do grupo que o protagonista tentará proceder ao rito iniciático que irá marcar a sua entrada na idade adulta: a ida ao bordel.
As restantes personagens – ao contrário de Agostinho que é uma personagem modelada ou redonda (isto é, que sofre um devir ao longo da história) – são planas, mantendo as suas atitudes constantes ao longo da história.
“Agostinho” é um livro introspectivo que fala, sobretudo, das dores do crescimento e da transformação e desenvolvimento interpessoal.
Morávia, um dos grandes génios da literatura italiana do século XX descreve esse processo como ninguém, apesar da sua visão pessimista da realidade.
Este é um livro imperdível, para os amantes da boa literatura.
Belo, sensível e inteligente.
À imagem do EU do seu Autor.
Cláudia de Sousa Dias
Moravia descreve, com altíssimo grau de precisão, toda a turbulência emocional do adolescente, dissecando emoções e explicando-as de forma a ficarmos com o mapa exacto das motivações que estão por trás das atitudes desta personagem.
O olhar da criança transforma-se, gradualmente, pela progressiva tomada de consciência acerca da sexualidade da própria mãe. Esta tomada de consciência é, simultaneamente, despoletada pela maledicência do seu grupo de pares - os amigos que encontra na rua - e pela crescente pulsão sexual que ocupa cada vez mais espaço no seu Eu interior obrigando-o a reparar na beleza e sensualidade maternas.
O complexo de Édipo e a influência de Freud, o pai da psicanálise, é mais do que evidente na escrita de Moravia.
À vaidade em ser o centro das atenções pela companhia de uma mulher bela (a presença magnífica da mãe, uma atraente viúva na plenitude da sua sensualidade) sucede-se a culpa pela dualidade de sentimentos e necessidade compulsiva de isolar ambas as facetas da mãe em compartimentos estanques. Isto faz com que tente direccionar a sua recente sexualidade genital para outro objecto sexual alternativo. Este é o principal objectivo de Agostinho, que irá orientar as suas atitudes ao longo da história, bem como a necessidade crescente de compreender-se a si próprio e aos que o rodeiam.
Outra vertente deste conto (que alguns autores preferem classificar de novela, apesar de Agostinho ser uma personagem mutável) é a socialização secundária de Agostinho que ocorre dentro do seu grupo de pares: os filhos dos banheiros e pescadores que encontra na praia, próxima da estância balnear, onde está a passar as férias de Verão em companhia da mãe.
Apesar das diferenças sociais, os elementos do grupo revelam-se essenciais para o seu amadurecimento.
A posição de Agostinho no grupo é periférica, devido não só à idade e constituição física frágil, mas também pelo facto de ser tão diferente dos restantes elementos. Essa mesma fragilidade e diferença são, simultaneamente, a sua fraqueza e a sua força. Agostinho conserva sempre alguma independência na sua forma de pensar, relativamente aos restantes elementos. Apesar de, para ele, a integração e necessidade de ser aceite, admirado e respeitado pelos outros ser fundamental. Para ser aceite é necessário, por vezes, contrariar comportamentos anteriormente adquiridos como, por exemplo, a forma de vestir ou o horário de chegar a casa.
E é no grupo que a ingenuidade de Agostinho começa a desaparecer. Este toma contacto com as implicações dos rumores, sofre as consequências directas da propagação dos boatos e apercebe-se que nem todos os adultos protegem as crianças. É no grupo que toma consciência de que há formas de paternalismo que escondem a tirania e o abuso sexual debaixo de uma máscara pseudo-protectora.
É, também através do grupo que o protagonista tentará proceder ao rito iniciático que irá marcar a sua entrada na idade adulta: a ida ao bordel.
As restantes personagens – ao contrário de Agostinho que é uma personagem modelada ou redonda (isto é, que sofre um devir ao longo da história) – são planas, mantendo as suas atitudes constantes ao longo da história.
“Agostinho” é um livro introspectivo que fala, sobretudo, das dores do crescimento e da transformação e desenvolvimento interpessoal.
Morávia, um dos grandes génios da literatura italiana do século XX descreve esse processo como ninguém, apesar da sua visão pessimista da realidade.
Este é um livro imperdível, para os amantes da boa literatura.
Belo, sensível e inteligente.
À imagem do EU do seu Autor.
Cláudia de Sousa Dias
2 Comments:
BELO, SENSÍVEL E INTELIGENTE...
sensível e inteligente pareces ser.
Bela, não sei!
Mas gosto de te ler!
Obrigada anónimo.
Quanto ao último atributo, considero-me normal.
Mas se queres uma opinião mais obejectiva tens de perguntar a quem me conhece como por exemplo a Maria Heli do Blog amor-e-ocio.
Bjs
CSD
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