Série “Roma sub-rosa” de Steven Saylor – “A Sentença de César” (Quetzal)
Capa: Sangue Romano, o primeiro volume da série
O décimo volume da série “Roma sub-rosa” de Steven Saylor, vem relatar-nos, mais uma vez, as aventuras de Gordiano, o Descobridor, desta vez na terra dos faraós. Gordiano é o detective romano mais requisitado pelos grandes senhores de Roma: Cícero, Catilina, Cláudia Pulcra, César, Pompeu…e muitos outros.
Gordiano é um verdadeiro Sherlock Holmes nos últimos decénios do período da República Romana. Os seus Dr.Watson são quase sempre detectives de palmo e meio cuja vitalidade, curiosidade, traquinice e tendência para se meterem em confusões acabam sempre por se revelarem indispensáveis, obrigando Gordiano a tropeçar na verdade, ou nas pistas que a ela o conduzem, valendo-se do seu acutilante espírito dedutivo aliado à sua quase infalível intuição.
No que toca á acção, encontramos, sempre em primeiro plano, Gordiano e a sua família. Esta é composta pela sua esposa Betesda, pelos seus dois filhos adoptivos, Eco e Meto, pela sua única filha de sangue, Diana e, por último, pelos dois pequenos e hiper-traquinas escravos, Mopso e Ândrocles, os mais recentes membros do agregado que, nesta última aventura, se entretêm a vaguear pelos misteriosos labirintos de passagens secretas do palácio de Cleópatra, em Alexandria.
Desta vez, Gordiano vê-se compelido a descobrir quem terá tentado envenenar César e Cleópatra para salvar a vida ao seu filho Meto, a quem as circunstâncias apontam como o principal suspeito.
Mas as descobertas de Gordiano acabam, invariavelmente, por conduzir à Verdade. E esta, por provocar uma inflexão de cento e oitenta graus no curso da história…
Como se isso não bastasse, tem ainda de desfazer as brumas que envolvem o desaparecimento da sua esposa que o acompanhou ao Egipto com o objectivo de encontrar a cura para a sua estranha doença nas águas do Nilo…
Esta colecção de dez volumes que compõem a série “Roma Sub-Rosa” (que é o mesmo que dizer “Roma secreta”, pois os romanos tinham o Hábito de pendurar uma rosa no tecto quando queriam ter uma conversa confidencial ficando, nessas circunstâncias, obrigados a guardar segredo acerca dos conteúdos abordados) é um autêntico casamento entre a história e a ficção. O Autor elabora, a partir da História oficial, uma História paralela, construindo hipóteses alternativas que poderiam estar na base de alguns acontecimentos históricos que conhecemos, mas cujas causas poderão ter ficado para sempre enterradas no segredo dos deuses.
As personagens históricas são aquelas que solicitam os serviços de Gordiano, directa ou indirectamente. Gordiano é, em toda a obra, a única personagem com profundidade suficiente para ser considerada modelada ou redonda, isto é, aquela acerca da qual nos apercebemos sempre, em primeira mão, de todas as mudanças de humor ou estado de espírito.
As personagens históricas movimentam-se em cena dando muito pouco de si no que respeita à sua vida interior, aparecendo-nos como nos filmes, como se fossem deuses, acima dos míseros mortais.
As personagens ficcionais, no que toca à família de Gordiano, são os seus coadjuvantes mas cuja importância e protagonismo vão diminuindo à medida que crescem ou envelhecem, deixando de poder acompanhar o detective romano nas suas andanças.
Os temas abordados neste último volume têm camuflada a sua vertente polémica já que se debruçam sobre a problemática da pena de morte, sobretudo quando as provas que incriminam alguém são meramente circunstanciais, a arbitrariedade nos julgamentos, os regimes despóticos e a anexação disfarçada de uma nação com o aparente motivo de a pacificar, fazendo lembrar o que se passa entre os EUA e o Iraque na actualidade. De facto, ao lermos algumas passagens de “A Sentença de César” parece mesmo que estamos a ouvir um noticiário da altura em que G.W.Bush ordenou a invasão do Iraque!
De qualquer forma trata-se de uma obra imperdível para quem gosta do género policial histórico e pela sua vertente lúdico-pedagógica.
Porque Roma é eternamente sedutora.
Principalmente se for sub-rosa…
Cláudia de Sousa Dias
1 Comments:
E que todos os espectáculos sejam somente com "feras amansadas"!
CSD
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