"O Tamanho do Mundo" de Helena Malheiro (Oficina do Livro)
“As vozes que percorrem estes textos esvaziam o mundo (…) porque procuram nele outras esferas. Essa alternativa é revestida de beleza, perfeição e unidade”. Eunice Cabral in “Público”
“O Tamanho do Mundo”é uma colectânea de quinze mini-contos, com um denominador comum: o espaço onde se movimentam as personagens situa-se para além da fronteira da realidade, do tempo presente, explorando outras dimensões do consciente humano.
Dédalo, o protagonista do primeiro conto, é um criador, um inventor de outros mundos; um arquitecto-escritor, que traça o rumo, o caminho das personagens que transitam entre os mundos por ele construídos…
Dédalo é um construtor/desconstrutor de personalidades, ora moldando-as, ora desenquadrando-as dos seus limites permitindo-lhes circular livremente num espaço onírico, sem os limites impostos pela lógica do quotidiano.
A prosa é extremamente rica, o estilo é poético, dolorosamente belo, já que a temática central são as feridas da alma, como podemos adivinhar pelas escolhas das duas maravilhosas epígrafes da autoria de Rimbaud e David Mourão-Ferreira, à laia de introdução.
O mundo de Helena Malheiro está impregnado de beleza, de saudade e esperança, embora os seus limites transcendam por completo o imaginário banal.
Trata-se de um mundo cujo eixo foi descentrado e que, por isso, surpreende o leitor a cada minuto. Este é, constantemente, obrigado a sair do seu “quadrado”, ou seja a abandonar a sua lógica habitual.
São contos onde prevalece o arracional e, por isso, transmitem a sensação de estarmos a percorrer um labirinto de espelhos, na tentativa de descortinarmos quais são as imagens “verdadeiras” e quais são as “falsas”.
É um livro narrado a várias vozes. Dédalo, o deus-criador, e as suas personagens permitem-nos destrinçar as dimensões do quotidiano onde estas se movem. É através do seu monólogo interior que nos apercebemos dos diferentes pontos de vista entre elas, as cognições, a forma de perceber, interpretar e sentir o que as rodeia, o que as une e separa, o significado que atribuem às coisas e às situações.
Dédalo é a projecção da personalidade da Autora, no momento em que procede ao acto de criar, na sujeição à situação de tensão pela necessidade auto-imposta de produzir uma obra perfeita, exaustiva que não deixe nada por dizer. Por isso, o texto de Helena Malheiro é tão compacto, tão denso.
Dédalo, o criador, que escreveu durante sete dias sem parar, até sucumbir à exaustão, abandona o seu mundo, perfeitamente ordenado, passando então a espelhar as desordens emocionais das suas personagens, à semelhança do caos no seu escritório após a obra acabada. Por último decide, ele próprio, espelhar-se nas suas próprias personagens assumindo-se tão imperfeito como a sua criação.
A história que se segue, “Ela”, é uma alegoria que fala da Felicidade ou da Alegria, transfigurada em forma de mulher. “Ela” é omnipresente na infância, mas, na vida adulta, só está presente quando acompanhada pelo amor. Porque um e outro são inseparáveis, caminham pela vida de mãos dadas. Com a dor da ausência, resta a Esperança, como o fio último que liga à vida antes de ser cortado pelas Parcas.
Segue-se “O Tamanho do Mundo”, a história de uma viagem interminável e infinda, de dois residentes num palácio italiano que, para os seus minúsculos habitantes, possui o tamanho do mundo inteiro. Estamos, obviamente em presença de dois seres cuja visão da realidade transpõe os limites de uma construção arquitectónica à qual estão fisicamente confinados mas que, através da visualização, se transportam para lá dos muros onde habitam (ver capa).
“Invenção” é mais um conto onde participa a personagem Nuno presente em “Dédalo”. Aqui ficamos a saber um pouco mais acerca da sua vida dupla, que se reflecte na (des)estabilidade emocional da sua companheira. São peças que vão completar (ou complicar ainda mais) o já intrigante quebra-cabeças que é o retrato desta personagem. Este é um casal onde a paixão está já ausente e onde os muros entre os dois impõem a sua presença de uma forma cada vez mais opressiva levando-os a refugiarem-se no seu próprio mundo e a adquirirem formas de reagir cada vez mais próximas da esquizofrenia. Um ciúme obsessivo, sufocante, aliado ao sentimento de exclusão dos projectos profissionais do ser amado. E, por outro lado, a realidade simétrica, inversa como que do outro lado de um espelho, a inversão de papéis, da percepção. Como se de uma ilusão de óptica se tratasse e, através da segregação de fundo, as coisas tomassem uma forma completamente diferente - como afirmam os teóricos da Psicologia da Gestalt. O conto não é mais do que a descrição do processo de projecção dos próprios sentimentos no outro, como mecanismo de defesa do ego.
“A Quinta Velocidade” é uma viagem que efectuamos ao volante de um Alfa Romeo, atravessando a Europa Central numa corrida louca onde ocorre, literalmente, a fusão completa entre homem e máquina, numa simbiose perfeita atravessando, pela eternidade, a fronteira entre os mundos.
“O Outro lado” mostra como as variações da intensidade da luz alteram a perspectiva (a forma como percebemos o real), bem como o nosso estado anímico. É o olhar do vigilante do museu que se apercebe de todas estas nuances ao longo do dia…Até reparar num detalhe que nunca lá tinha estado antes…Um crime na tela…Um aviso? Um presságio?
“Tarantelle” é a magia da dança em Florença, cuja protagonista tem muito a ver com Dédalo do primeiro conto (como aliás todas elas uma vez que todas são desdobramentos do labiríntico Dédalo) pela omnisciência relativamente à situação de todas as outras personagens. A dança é a fuga à realidade de um relacionamento desgastado, desfeito, simbolizada pela imagem da “torre demasiado inclinada” presente no postal do companheiro. A angústia está, pelo contrário, patente pela constante referência à cor amarela associada ao adjectivo “pesado”. A indiferença pesa nesse mesmo relacionamento, acentuada pelo imobilismo e pelas expressões vazias das estátuas na torre do Palazzo Vecchio, na cidade onde se encontra. A beleza intemporal de um passado idílico está implícita na referência à estátua de David de Miguel Ângelo - “…o olhar de David de Miguel Ângelo, brancura de mármore a rasgar a noite e o tempo” - , fazendo pensar tratar-se da recordação do objecto amado.
“Espelhos” é um intrincado triângulo amoroso em que os dois vértices da base são, provavelmente o desdobramento da mesma personalidade sendo o conto uma parábola que fala da necessidade de aceitação do amante por inteiro, amando mesmo as suas limitações.
“O Grande livro do acaso”é um conto que explora, tal como o título indica a relação entre acaso e determinismo. Este conto tenta mostrar como todos os nossos actos são previamente previstos e determinados por uma entidade superior, uma élite ou comunidade detentora de conhecimento absoluto e sabedoria infinita, usando, para o efeito, um argumento lógico que faz lembrar um pouco o “Fédon” de Platão. Aliás, toda a obra é de cariz nitidamente platónico, pela distinção entre o mundo real e o supra-real.
Facto que observamos perfeitamente em “Luas Pretas” onde temos, mais uma vez, o supra-real, povoado de seres perfeitos, um mundo ideal onde impera o Belo, a Arte e o Sublime, o mundo dos “numes”. Por outro lado, o mundo real, onde a lua é branca, é o mundo imperfeito, onde as pessoas sentem necessidade de se camuflarem, de se confundirem com a maioria, sob pena de serem excluídas, eliminadas, pela não aceitação da diferença.
“Loto” apresenta, novamente, a temática do binómio acaso/determinismo e da procura da fórmula da sorte, seja ela no jogo ou no amor…
“Yptagor ou o Segredo” fala de uma descida aos infernos, a um mundo subterrâneo onde se pretende que a doença da Guerra, que tem origem no vírus do Poder, esteja enterrada. Yptagor é um arqueólogo vindo, tal como Ulisses e Orfeu, da Hélade e que trabalha na descoberta de mundos passados, em colaboração com Luapa (anagrama de Paula, irmã da Autora). Juntos vão trabalhar de forma a manter a Guerra encerrada no seu túmulo intemporal, já que esta não faz falta aos humanos, atrasando consideravelmente a sua evolução. A limpidez e profundidade do olhar verde de Yptagor, simbolizam aqui, a esperança e a redenção da humanidade.
Em “A Noite”, o feitiço da noite simboliza o sonho, a paixão intensa e fugaz, “…a magia da noite é triste e enganadora”, mas cuja recordação é indelével – “És noite nunca apagada”. O fogo verde de um olhar que não se apaga. Um conto que fala de saudade.
“Á procura do Sol” é uma parábola na qual o sol é sinónimo de alegria e bem estar, que influencia o estado anímico, tal como o amor. Morre-se de frio no Inverno sazonal e morre-se de amor no Inverno dos afectos. Para a personagem Lynn, o amor é sempre tão fugaz como o sol de Inverno; “…o Vento gelado que vem do Norte” significa a ausência, o abandono, o esfriar da paixão.
A cura é longa. O Verão vai demorar muito a chegar. A mágoa vai demorar muito a desaparecer. Porque é sempre difícil partir, romper com o passado.
Em “Itinerários”, o narrador dialoga consigo próprio como se diante de um espelho encontrasse o seu alter-ego. Alguém tenta entrar na sua esfera, mas ele fecha-se no seu próprio mundo. Trata-se de um “eu” fragmentado, como Dédalo, que se refugia na própria solidão,
O livro termina com o criador dos mundos imaginários a fechar o seu próprio livro, que é uma gaveta da sua própria mente, um ego que se desdobra em muitos outros, cada qual uma esfera que contém em si várias outras à semelhança de uma “matrioska” ou aquilo a que, clinicamente, se atribui a designação de múltipla personalidade.
Um livro, de certa forma, transgressor onde a arte de criar expande as suas raízes, quebrando limites.
Um verdadeiro psico-puzzle.
Cláudia de Sousa Dias
“O Tamanho do Mundo”é uma colectânea de quinze mini-contos, com um denominador comum: o espaço onde se movimentam as personagens situa-se para além da fronteira da realidade, do tempo presente, explorando outras dimensões do consciente humano.
Dédalo, o protagonista do primeiro conto, é um criador, um inventor de outros mundos; um arquitecto-escritor, que traça o rumo, o caminho das personagens que transitam entre os mundos por ele construídos…
Dédalo é um construtor/desconstrutor de personalidades, ora moldando-as, ora desenquadrando-as dos seus limites permitindo-lhes circular livremente num espaço onírico, sem os limites impostos pela lógica do quotidiano.
A prosa é extremamente rica, o estilo é poético, dolorosamente belo, já que a temática central são as feridas da alma, como podemos adivinhar pelas escolhas das duas maravilhosas epígrafes da autoria de Rimbaud e David Mourão-Ferreira, à laia de introdução.
O mundo de Helena Malheiro está impregnado de beleza, de saudade e esperança, embora os seus limites transcendam por completo o imaginário banal.
Trata-se de um mundo cujo eixo foi descentrado e que, por isso, surpreende o leitor a cada minuto. Este é, constantemente, obrigado a sair do seu “quadrado”, ou seja a abandonar a sua lógica habitual.
São contos onde prevalece o arracional e, por isso, transmitem a sensação de estarmos a percorrer um labirinto de espelhos, na tentativa de descortinarmos quais são as imagens “verdadeiras” e quais são as “falsas”.
É um livro narrado a várias vozes. Dédalo, o deus-criador, e as suas personagens permitem-nos destrinçar as dimensões do quotidiano onde estas se movem. É através do seu monólogo interior que nos apercebemos dos diferentes pontos de vista entre elas, as cognições, a forma de perceber, interpretar e sentir o que as rodeia, o que as une e separa, o significado que atribuem às coisas e às situações.
Dédalo é a projecção da personalidade da Autora, no momento em que procede ao acto de criar, na sujeição à situação de tensão pela necessidade auto-imposta de produzir uma obra perfeita, exaustiva que não deixe nada por dizer. Por isso, o texto de Helena Malheiro é tão compacto, tão denso.
Dédalo, o criador, que escreveu durante sete dias sem parar, até sucumbir à exaustão, abandona o seu mundo, perfeitamente ordenado, passando então a espelhar as desordens emocionais das suas personagens, à semelhança do caos no seu escritório após a obra acabada. Por último decide, ele próprio, espelhar-se nas suas próprias personagens assumindo-se tão imperfeito como a sua criação.
A história que se segue, “Ela”, é uma alegoria que fala da Felicidade ou da Alegria, transfigurada em forma de mulher. “Ela” é omnipresente na infância, mas, na vida adulta, só está presente quando acompanhada pelo amor. Porque um e outro são inseparáveis, caminham pela vida de mãos dadas. Com a dor da ausência, resta a Esperança, como o fio último que liga à vida antes de ser cortado pelas Parcas.
Segue-se “O Tamanho do Mundo”, a história de uma viagem interminável e infinda, de dois residentes num palácio italiano que, para os seus minúsculos habitantes, possui o tamanho do mundo inteiro. Estamos, obviamente em presença de dois seres cuja visão da realidade transpõe os limites de uma construção arquitectónica à qual estão fisicamente confinados mas que, através da visualização, se transportam para lá dos muros onde habitam (ver capa).
“Invenção” é mais um conto onde participa a personagem Nuno presente em “Dédalo”. Aqui ficamos a saber um pouco mais acerca da sua vida dupla, que se reflecte na (des)estabilidade emocional da sua companheira. São peças que vão completar (ou complicar ainda mais) o já intrigante quebra-cabeças que é o retrato desta personagem. Este é um casal onde a paixão está já ausente e onde os muros entre os dois impõem a sua presença de uma forma cada vez mais opressiva levando-os a refugiarem-se no seu próprio mundo e a adquirirem formas de reagir cada vez mais próximas da esquizofrenia. Um ciúme obsessivo, sufocante, aliado ao sentimento de exclusão dos projectos profissionais do ser amado. E, por outro lado, a realidade simétrica, inversa como que do outro lado de um espelho, a inversão de papéis, da percepção. Como se de uma ilusão de óptica se tratasse e, através da segregação de fundo, as coisas tomassem uma forma completamente diferente - como afirmam os teóricos da Psicologia da Gestalt. O conto não é mais do que a descrição do processo de projecção dos próprios sentimentos no outro, como mecanismo de defesa do ego.
“A Quinta Velocidade” é uma viagem que efectuamos ao volante de um Alfa Romeo, atravessando a Europa Central numa corrida louca onde ocorre, literalmente, a fusão completa entre homem e máquina, numa simbiose perfeita atravessando, pela eternidade, a fronteira entre os mundos.
“O Outro lado” mostra como as variações da intensidade da luz alteram a perspectiva (a forma como percebemos o real), bem como o nosso estado anímico. É o olhar do vigilante do museu que se apercebe de todas estas nuances ao longo do dia…Até reparar num detalhe que nunca lá tinha estado antes…Um crime na tela…Um aviso? Um presságio?
“Tarantelle” é a magia da dança em Florença, cuja protagonista tem muito a ver com Dédalo do primeiro conto (como aliás todas elas uma vez que todas são desdobramentos do labiríntico Dédalo) pela omnisciência relativamente à situação de todas as outras personagens. A dança é a fuga à realidade de um relacionamento desgastado, desfeito, simbolizada pela imagem da “torre demasiado inclinada” presente no postal do companheiro. A angústia está, pelo contrário, patente pela constante referência à cor amarela associada ao adjectivo “pesado”. A indiferença pesa nesse mesmo relacionamento, acentuada pelo imobilismo e pelas expressões vazias das estátuas na torre do Palazzo Vecchio, na cidade onde se encontra. A beleza intemporal de um passado idílico está implícita na referência à estátua de David de Miguel Ângelo - “…o olhar de David de Miguel Ângelo, brancura de mármore a rasgar a noite e o tempo” - , fazendo pensar tratar-se da recordação do objecto amado.
“Espelhos” é um intrincado triângulo amoroso em que os dois vértices da base são, provavelmente o desdobramento da mesma personalidade sendo o conto uma parábola que fala da necessidade de aceitação do amante por inteiro, amando mesmo as suas limitações.
“O Grande livro do acaso”é um conto que explora, tal como o título indica a relação entre acaso e determinismo. Este conto tenta mostrar como todos os nossos actos são previamente previstos e determinados por uma entidade superior, uma élite ou comunidade detentora de conhecimento absoluto e sabedoria infinita, usando, para o efeito, um argumento lógico que faz lembrar um pouco o “Fédon” de Platão. Aliás, toda a obra é de cariz nitidamente platónico, pela distinção entre o mundo real e o supra-real.
Facto que observamos perfeitamente em “Luas Pretas” onde temos, mais uma vez, o supra-real, povoado de seres perfeitos, um mundo ideal onde impera o Belo, a Arte e o Sublime, o mundo dos “numes”. Por outro lado, o mundo real, onde a lua é branca, é o mundo imperfeito, onde as pessoas sentem necessidade de se camuflarem, de se confundirem com a maioria, sob pena de serem excluídas, eliminadas, pela não aceitação da diferença.
“Loto” apresenta, novamente, a temática do binómio acaso/determinismo e da procura da fórmula da sorte, seja ela no jogo ou no amor…
“Yptagor ou o Segredo” fala de uma descida aos infernos, a um mundo subterrâneo onde se pretende que a doença da Guerra, que tem origem no vírus do Poder, esteja enterrada. Yptagor é um arqueólogo vindo, tal como Ulisses e Orfeu, da Hélade e que trabalha na descoberta de mundos passados, em colaboração com Luapa (anagrama de Paula, irmã da Autora). Juntos vão trabalhar de forma a manter a Guerra encerrada no seu túmulo intemporal, já que esta não faz falta aos humanos, atrasando consideravelmente a sua evolução. A limpidez e profundidade do olhar verde de Yptagor, simbolizam aqui, a esperança e a redenção da humanidade.
Em “A Noite”, o feitiço da noite simboliza o sonho, a paixão intensa e fugaz, “…a magia da noite é triste e enganadora”, mas cuja recordação é indelével – “És noite nunca apagada”. O fogo verde de um olhar que não se apaga. Um conto que fala de saudade.
“Á procura do Sol” é uma parábola na qual o sol é sinónimo de alegria e bem estar, que influencia o estado anímico, tal como o amor. Morre-se de frio no Inverno sazonal e morre-se de amor no Inverno dos afectos. Para a personagem Lynn, o amor é sempre tão fugaz como o sol de Inverno; “…o Vento gelado que vem do Norte” significa a ausência, o abandono, o esfriar da paixão.
A cura é longa. O Verão vai demorar muito a chegar. A mágoa vai demorar muito a desaparecer. Porque é sempre difícil partir, romper com o passado.
Em “Itinerários”, o narrador dialoga consigo próprio como se diante de um espelho encontrasse o seu alter-ego. Alguém tenta entrar na sua esfera, mas ele fecha-se no seu próprio mundo. Trata-se de um “eu” fragmentado, como Dédalo, que se refugia na própria solidão,
O livro termina com o criador dos mundos imaginários a fechar o seu próprio livro, que é uma gaveta da sua própria mente, um ego que se desdobra em muitos outros, cada qual uma esfera que contém em si várias outras à semelhança de uma “matrioska” ou aquilo a que, clinicamente, se atribui a designação de múltipla personalidade.
Um livro, de certa forma, transgressor onde a arte de criar expande as suas raízes, quebrando limites.
Um verdadeiro psico-puzzle.
Cláudia de Sousa Dias
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