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Monday, February 28, 2005

"O Aprendiz de Cabalista"de Cesar Vidal (Ésquilo)



Amor, traição e morte: os três principais ingredientes de um romance histórico que poderia ser adaptado para o cinema ou teatro


Este livro é um romance histórico, passado em plena Europa dos Descobrimentos, cuja narrativa se inicia em Itália de 1525, durante o reinado do imperador Carlos V. que ordena a prisão do rabino Hayim Cordovero, um erudito, profundo conhecedor não só da Torah e do Talmude, mas também da alquimia e dos segredos da Cabala.

Interrogado pela Inquisição começa, então, a contar a história da sua vida.

É desta forma que entramos no romance propriamente dito recuando, cerca de três décadas e meia, até ao reinado dos Reis Católicos, mais propriamente, à altura dos acontecimentos que originaram a publicação do édito de expulsão dos judeus das terras de Aragão e Castela.

Cordovero revive, até ao mais ínfimo detalhe, a forma como foi conduzido, para não dizer manipulado, o julgamento de Yucé Franco recordando, simultaneamente, todo o ambiente social de franca hostilidade da população autóctone face aos judeus, esmiuçando motivos, dissecando emoções colectivas, procurando explicação na questão do social, do individual, da conjuntura económica.

Mas, para o então jovem Cordovero toda a explicação lógica parece insuficiente.

Até surgir alguém que lança uma hipótese diferente, ousada e que se insere nas raízes culturais e místicas do povo semita, fortemente inculcadas no inconsciente colectivo do mesmo e, sobretudo na mente extremamente sensível de Hayim Cordovero.

Segue-se o recordar da dor da perda, do exílio aliado à angústia da instabilidade de um judeu errante, num êxodo europeu através da França, Alemanha e que termina com a prisão em Itália.

E é durante esse êxodo, que desenvolve a aquisição do conhecimento, que compreende que os Goyim (não judeus) não são todos iguais.

E que conhece o amor.

Um amor que eclipsa tudo o mais: preceitos religiosos, morais, culturais…uma afeição que se sobrepõe a todos os outros afectos…

A felicidade suprema tem, contudo, um preço. A Divindade, ciumenta, não tolera um amor que A relega para um segundo plano, nem a sociedade perdoa uma ventura tão perfeita quanto indiferente à infelicidade alheia, implicando a violação de todas as normas do código ético então em vigor.

A mão invisível do Destino abate-se, impiedosa, sobre as personagens num final trágico, inesperado e de grande intensidade dramática.

Nesta obra, os leitores travam conhecimento com o humanismo de Reuchlin através do debate filosófico entre o judeu e o reformista precursor de Lutero.

Mas também se torna perceptível o gérmen do anti-semitismo germânico então latente e que se manifestaria, de uma forma catastrófica, quatro séculos mais tarde.

“O Aprendiz de Cabalista” é um romance de prosa acessível, linear, de carácter analítico embora, por vezes especulativo, resvalando, esporadicamente, numa tónica um pouco sentimentalista.

A busca de uma explicação para o inexplicável, porque parte integrante da natureza humana. Egoísmo/Altruísmo, Bem e Mal são as duas faces da mesma moeda, arquétipos opostos que coexistem em maior ou menor proporção na alma humana, desde o início dos tempos.

O livro poderia ser considerado banal, uma vez que o tema não é, de forma alguma original, se não fosse o sentimento de angústia e suspense, em crescendo, à medida que nos vamos aproximando dos últimos parágrafos, nos quais o cenário vai, progressivamente, sendo invadido por uma aura de fatalidade, à maneira das tragédias clássicas.

Catártico.


Cláudia de Sousa Dias

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