"O Bosque dos pigmeus" de Isabel Allende (Difel)
Tradução de Maria Helena Pitta
“O Bosque dos Pigmeus” é o último volume da trilogia intitulada "As memórias da Águia e do Jaguar " que inclui também os títulos “A cidade dos deuses selvagens” e “O Reino do Dragão de Ouro”.
Desta vez, a acção passa-se no coração da selva africana algures entre o Quénia e o Ruanda, território fértil em conflitos étnicos, onde um grupo de guerrilheiros submete a tribo dos bantos e o pequeno povo da floresta: os pigmeus.
Os guerreiros dominam a população pelo medo, principalmente por fazerem acreditar possuir poderes sobrenaturais, o que implica mais uma missão (quase) impossível a ser levada a cabo por Nádia e Alexander. Que encarnam, respectivamente, o espírito da Águia e do Jaguar – os seus animais totémicos – em mais uma das atribuladas viagens da avó Kate – antropóloga e escritora ao serviço da revista International Geographic.
Neste terceiro volume, Allende explora, de uma forma acessível ao público adolescente, padrões de cultura, crenças e rituais de algumas tribos africanas, tais como: o casamento, o tratamento dos mortos, ritos de passagem, rituais de guerra, de voodu, de magia branca e negra, o mercado, vestuário…Trata-se de um caleidoscópio de cores, sons, etnias e de grande conteúdo para os apaixonados pela antropologia.
Para além disso, “O Bosque dos Pigmeus” é uma crítica velada aos regimes tirânicos e uma denúncia à ambição desenfreada daqueles que se servem dos mais frágeis para enriquecer rapidamente. A Autora chama a atenção, através do olhar crítico da avó Kate, para as atitudes etnocêntricas e de relativismo cultural da civilização do ocidente face às outras culturas, com o objectivo de sensibilizar as camadas etárias mais jovens para o respeito pelas outras culturas.
O misticismo típico de Isabel Allende, está patente na hipersensibilidade de Alex e Nádia e na relação destes com o seu respectivo animal totémico (influência do xamanismo dos índios americanos) que lhes possibilita estabelecer o contacto por via telepática com algumas das personagens dos volumes anteriores mesmo que localizadas em outros continentes ou que já não estejam entre os vivos! Afinal a magia é indissociável da literatura de Isabel Allende…que conjuga o animismo africano, com o xamanismo dos ameríndios e o budismo do oriente num sincretismo de crenças, personificando a coexistência pacífica dos povos baseada no respeito mútuo e mesmo na troca de elementos culturais…o triunfo do interculturalismo.
Mas enquanto que em “A cidade dos deuses selvagens” o drama é a tónica dominante, em “O reino do dragão de ouro” predomina a incrível sensação de adrenalina e perigo constante num ambiente eternamente agreste (sobretudo para a brasileira Nádia), n’ “O bosque dos pigmeus” sobressai a nota cómica pela presença de situações caricatas e altamente hilariantes como é o caso do episódio com o elefante ou a aterragem no meio da selva por uma extravagante piloto africana.
As personagens principais têm, por sua vez, uma faceta altamente cómica, primando pela excentricidade de hábitos e comportamentos:
- a avó Kate, antropóloga irreverente, de espírito cáustico, mal-humorada, fumadora de cachimbo e grande apreciadora de vodka;
- Angie Niderera, a exótica e exuberantíssima, piloto africana, insubmissa e protagonista de algumas de algumas das mais hilariantes cenas da obra;
- o irmão Fernando, missionário católico, obstinado, precipita o grupo na aventura no coração da selva;
- Maurice Membelé, chefe guerreiro e religioso explora bantos e pigmeus, para viver do contrabando.
O ritmo da narrativa é galopante num estilo corrido, sem muitas pausas, de grande riqueza de imagem o que possibilita a visualização do ambiente e das situações.
Uma obra pedagógica para quem gosta de conhecer outras culturas.
Uma trilogia que é um marco, na carreira da Autora.
O primeiro volume da trilogia "As Memórias da Águia e do Jaguar" é a estreia de Isabel Allende na literatura juvenil parte de uma história dramática onde a instabilidade do ambiente familiar em casa do jovem Alexander Cold, motivada pela doença que afecta a mãe, obriga a que este tenha que ficar temporariamente sob a tutela de uma excêntrica avó.
Não se trata, de facto, de uma avó tradicional. Andarilha e de espírito indomável, a avó de Alex é uma consagrada antropóloga, e viagem permanente - ou quase - pela regiões mais remotas do globo.
Deta vez, irá arrasta o neto até ao coração da selva amazónica com o objectivo de estudar a cultura de uma tribo quase desaparecida e descobrir a origem de uma estranha criatura semi-humana que tem o hábito de dilacerar os intrusos.
O jovem Alexander participará, juntamente com a avó e os restantes elementos que integram uma equipa da International Geographic, numa série de aventuras que incluem a descoberta de espécies fantásticas, o contacto com o misticismo da cultura tribal dum povo que vive na mais perfeita simbiose com o seu meio ambiente, a descoberta de novos focos de afectividade e até a possibilidade de encontrar um tratamento alternativo para a doença que desencadeou o drama familiar do protagonista.
Allende mostra-nos, de forma brilhante, como as mais básicas pulsões do inconsciente humano - as paixões e os desejos - podem desencadear o conflito que torna, muitas vezes, impossível a coexistência de duas civilizações diferentes.
Neste romance, a Autora, originária do Chile foge um pouco ao seu estilo habitual, conseguindo cativar a atenção do público adolescente aliando graças a uma prosa acessível mas simultaneamente mais madura, linguagem cuidada e conceitos mais de ajustados à evolução do panorama das ciências antropológicas, juntando o verosímil ao maravilhoso, através da conjugação de temas que dominam a actualidade - como a ecologia, a cobiça, o racismo, a luta pelo poder. Estes elementos são condimentados com a fantasia que povoa o imaginário da autora e delicia os mais novos, conferindo a esta obra uma candura irresistível, dotada daquela magia que seduz o público de todas as idades.
Deta vez, irá arrasta o neto até ao coração da selva amazónica com o objectivo de estudar a cultura de uma tribo quase desaparecida e descobrir a origem de uma estranha criatura semi-humana que tem o hábito de dilacerar os intrusos.
O jovem Alexander participará, juntamente com a avó e os restantes elementos que integram uma equipa da International Geographic, numa série de aventuras que incluem a descoberta de espécies fantásticas, o contacto com o misticismo da cultura tribal dum povo que vive na mais perfeita simbiose com o seu meio ambiente, a descoberta de novos focos de afectividade e até a possibilidade de encontrar um tratamento alternativo para a doença que desencadeou o drama familiar do protagonista.
Allende mostra-nos, de forma brilhante, como as mais básicas pulsões do inconsciente humano - as paixões e os desejos - podem desencadear o conflito que torna, muitas vezes, impossível a coexistência de duas civilizações diferentes.
Neste romance, a Autora, originária do Chile foge um pouco ao seu estilo habitual, conseguindo cativar a atenção do público adolescente aliando graças a uma prosa acessível mas simultaneamente mais madura, linguagem cuidada e conceitos mais de ajustados à evolução do panorama das ciências antropológicas, juntando o verosímil ao maravilhoso, através da conjugação de temas que dominam a actualidade - como a ecologia, a cobiça, o racismo, a luta pelo poder. Estes elementos são condimentados com a fantasia que povoa o imaginário da autora e delicia os mais novos, conferindo a esta obra uma candura irresistível, dotada daquela magia que seduz o público de todas as idades.
A sequela de "A Cidade dos Deuses Selvagens", como segundo volume da trilogia "AS Memórias da Águia e do Jaguar" vem mitigar a sensação de algo que ficou "inacabado"quando chegamos ao último parágrafo do referido romance desta autora sul-americana.
Em "O Reino do Dragão de Ouro" conseguimos ficar a par de alguns aspectos que ficaram por concluir no volume anterior entre os quais: a vitória na primeira fase da luta contra a doença que afectou a mãe de Alexander e o reencontro do jovem com Nádia, a sua amiga de terras de Vera Cruz.
Os dois jovens são, mais uma vez, recrutados pela excêntrica avó Kate, antropóloga e jornalista da revista "International Geographic", para mais uma viagem de investigação a um dos locais mais inacessíveis do planeta: o minúsculo reino do Dragão de Ouro no coração dos Himalaias.
Desta vez, para além de se depararem novamente com a possibilidade de conviverem com uma forma de civilização totalmente diferente daquela onde nasceram sua, os dois adolescentes terão de suportar as dificuldades de um dos climas e relevos mais adversos do globo, sobretudo para quem está habituado a zonas mais temperadas como Alexander ou mesmo tropicais como Nádia.
O livro cativa o leitor pelo facto de oferecer, de uma forma bastante acessível, a possibilidade de comparar culturas diferentes e observar a forma como estas podem coexistir sem que haja propriamente choque de culturas. Este surge quando, de um dos lados ou de ambos, nasce a ambição desmedida e o desrespeito pela vida humana. Nesta linha de pensamento, tomamos contacto, através do lama Tensing, com a filosofia do budismo que encarna os valores da compaixão, do respeito pela natureza, pela vida e pela paz.
Neta obra, à semelhança do volume anterior, há também espaço para a fantasia que se traduz na exploração da lenda do Vale do Yeti (O Abominável Homem das Neves) e do Dragão de Ouro, a estátua milenar da sabedoria que protege o pequeno reino escondido entre os picos da cordilheira mais alta do mundo.
Esta série, destinada a um público sem idade, conclui-se com o volume seguinte.
Em "O Reino do Dragão de Ouro" conseguimos ficar a par de alguns aspectos que ficaram por concluir no volume anterior entre os quais: a vitória na primeira fase da luta contra a doença que afectou a mãe de Alexander e o reencontro do jovem com Nádia, a sua amiga de terras de Vera Cruz.
Os dois jovens são, mais uma vez, recrutados pela excêntrica avó Kate, antropóloga e jornalista da revista "International Geographic", para mais uma viagem de investigação a um dos locais mais inacessíveis do planeta: o minúsculo reino do Dragão de Ouro no coração dos Himalaias.
Desta vez, para além de se depararem novamente com a possibilidade de conviverem com uma forma de civilização totalmente diferente daquela onde nasceram sua, os dois adolescentes terão de suportar as dificuldades de um dos climas e relevos mais adversos do globo, sobretudo para quem está habituado a zonas mais temperadas como Alexander ou mesmo tropicais como Nádia.
O livro cativa o leitor pelo facto de oferecer, de uma forma bastante acessível, a possibilidade de comparar culturas diferentes e observar a forma como estas podem coexistir sem que haja propriamente choque de culturas. Este surge quando, de um dos lados ou de ambos, nasce a ambição desmedida e o desrespeito pela vida humana. Nesta linha de pensamento, tomamos contacto, através do lama Tensing, com a filosofia do budismo que encarna os valores da compaixão, do respeito pela natureza, pela vida e pela paz.
Neta obra, à semelhança do volume anterior, há também espaço para a fantasia que se traduz na exploração da lenda do Vale do Yeti (O Abominável Homem das Neves) e do Dragão de Ouro, a estátua milenar da sabedoria que protege o pequeno reino escondido entre os picos da cordilheira mais alta do mundo.
Esta série, destinada a um público sem idade, conclui-se com o volume seguinte.
“O Bosque dos Pigmeus” é o último volume da trilogia intitulada "As memórias da Águia e do Jaguar " que inclui também os títulos “A cidade dos deuses selvagens” e “O Reino do Dragão de Ouro”.
Desta vez, a acção passa-se no coração da selva africana algures entre o Quénia e o Ruanda, território fértil em conflitos étnicos, onde um grupo de guerrilheiros submete a tribo dos bantos e o pequeno povo da floresta: os pigmeus.
Os guerreiros dominam a população pelo medo, principalmente por fazerem acreditar possuir poderes sobrenaturais, o que implica mais uma missão (quase) impossível a ser levada a cabo por Nádia e Alexander. Que encarnam, respectivamente, o espírito da Águia e do Jaguar – os seus animais totémicos – em mais uma das atribuladas viagens da avó Kate – antropóloga e escritora ao serviço da revista International Geographic.
Neste terceiro volume, Allende explora, de uma forma acessível ao público adolescente, padrões de cultura, crenças e rituais de algumas tribos africanas, tais como: o casamento, o tratamento dos mortos, ritos de passagem, rituais de guerra, de voodu, de magia branca e negra, o mercado, vestuário…Trata-se de um caleidoscópio de cores, sons, etnias e de grande conteúdo para os apaixonados pela antropologia.
Para além disso, “O Bosque dos Pigmeus” é uma crítica velada aos regimes tirânicos e uma denúncia à ambição desenfreada daqueles que se servem dos mais frágeis para enriquecer rapidamente. A Autora chama a atenção, através do olhar crítico da avó Kate, para as atitudes etnocêntricas e de relativismo cultural da civilização do ocidente face às outras culturas, com o objectivo de sensibilizar as camadas etárias mais jovens para o respeito pelas outras culturas.
O misticismo típico de Isabel Allende, está patente na hipersensibilidade de Alex e Nádia e na relação destes com o seu respectivo animal totémico (influência do xamanismo dos índios americanos) que lhes possibilita estabelecer o contacto por via telepática com algumas das personagens dos volumes anteriores mesmo que localizadas em outros continentes ou que já não estejam entre os vivos! Afinal a magia é indissociável da literatura de Isabel Allende…que conjuga o animismo africano, com o xamanismo dos ameríndios e o budismo do oriente num sincretismo de crenças, personificando a coexistência pacífica dos povos baseada no respeito mútuo e mesmo na troca de elementos culturais…o triunfo do interculturalismo.
Mas enquanto que em “A cidade dos deuses selvagens” o drama é a tónica dominante, em “O reino do dragão de ouro” predomina a incrível sensação de adrenalina e perigo constante num ambiente eternamente agreste (sobretudo para a brasileira Nádia), n’ “O bosque dos pigmeus” sobressai a nota cómica pela presença de situações caricatas e altamente hilariantes como é o caso do episódio com o elefante ou a aterragem no meio da selva por uma extravagante piloto africana.
As personagens principais têm, por sua vez, uma faceta altamente cómica, primando pela excentricidade de hábitos e comportamentos:
- a avó Kate, antropóloga irreverente, de espírito cáustico, mal-humorada, fumadora de cachimbo e grande apreciadora de vodka;
- Angie Niderera, a exótica e exuberantíssima, piloto africana, insubmissa e protagonista de algumas de algumas das mais hilariantes cenas da obra;
- o irmão Fernando, missionário católico, obstinado, precipita o grupo na aventura no coração da selva;
- Maurice Membelé, chefe guerreiro e religioso explora bantos e pigmeus, para viver do contrabando.
O ritmo da narrativa é galopante num estilo corrido, sem muitas pausas, de grande riqueza de imagem o que possibilita a visualização do ambiente e das situações.
Uma obra pedagógica para quem gosta de conhecer outras culturas.
Uma trilogia que é um marco, na carreira da Autora.
Uma estreia brilhante no campo da literatura juvenil.
Cláudia de Sousa Dias
Cláudia de Sousa Dias
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