"Equador" de Miguel Sousa Tavares (Oficina do Livro)
Um dos melhores romances publicados em Portugal no ano de 2003
Luís Bernardo é um jovem empresário lisboeta, no início do sec.XX. Dotado de visão estratégica, facilmente se apercebe que as potências estrangeiras tentam, sob a capa de um “humanismo hipócrita”, eliminar a concorrência dos produtores portugueses de cacau, alegando o uso ilegal do trabalho escravo…e incentivando o boicote à compra do cacau S. Tomense…
Mas a realidade não é diferente da dos outros países colonizadores…Luís Bernardo escreve um artigo a denunciar a situação…
… e é convidado pelo próprio Rei D. Carlos a ocupar o lugar de governador das ilhas de S. Tomé e Príncipe durante três anos, sendo-lhe atribuída a missão de averiguar se há ou não trabalho escravo na referida colónia e convencer o cônsul inglês de que o trabalho escravo em Portugal já faz parte do passado.
Neste seu primeiro romance, Miguel Sousa Tavares deixa transparecer, na sua escrita neutra, objectiva no relato dos factos, a influência do jornalismo; e do Direito, pelo rigor, precisão e eficácia típicos de um jurista, patentes quer na investigação relativamente às condições de trabalho dos negros, quer na condução do interrogatório feito às testemunhas pelo mesmo personagem, numa brilhante prestação forense.
Ao lermos “Equador” temos, em muitos momentos da narrativa, a sensação de estarmos a ler as notícias da época ou a “ouvir” um noticiário televisivo.
Outra das grandes vantagens de “Equador” é a de colocar alguns pontos nos ii, em alguns episódios mais recentes da nossa história, nomeadamente: a descolonização, a relação entre colonizadores e colonizados, a implantação da república – feita com base num golpe de estado, numa época em que ainda não havia eleições livres - a relação de Portugal com outros países colonizadores, supostamente nossos aliados, a situação económica interna na época em questão e respectivas relações económicas internacionais. Mas sobretudo, a mentalidade das classes dirigentes da altura, como travão ao desenvolvimento económico pela falta de visão em perceber e acompanhar o ritmo da evolução da História da Humanidade…e evitar a decadência...
Tudo isto é colocado em evidência de uma forma extremamente pertinente e clara em “Equador” através das atitudes das personagens, numa brilhante análise histórica, político-jurídica e social como, aliás, Miguel Sousa Tavares já nos habituou como mediador em debates televisivos, como entrevistador ou cronista.
O paralelismo da situação económico-política de há um século atrás com a actualidade é mais do que evidente, sobretudo no que respeita ao panorama internacional – uma vez que o comportamento de algumas das principais potências económicas no início do sec. XX tem-se mostrado constante até à actualidade, como é o caso da Inglaterra.
Quanto ao romance propriamente dito, Miguel Sousa Tavares esmerou-se na construção das personagens Luís Bernardo – inteligente, culto, de visão estratégica, sedutor e solitário, um outsider na sociedade lisboeta de então, onde se destaca pela diferença, colocando-se um século adiante dos seus pares.
Está, apesar de tudo, mais próximo de David, o cônsul inglês, pelas ideias, cultura e forma de estar.
David é um autêntico camaleão, um cidadão do mundo, com a capacidade de se adaptar a qualquer lugar ou circunstância, inteligentíssimo, empreendedor, fleumático e totalmente devotado à sua mulher, Ann.
Por sua vez, Ann é uma personagem esfíngica, extremamente bela, culta e viajada, diferente de todas as outras mulheres que povoam o quotidiano de Luís Bernardo…
Os dados estão lançados para a erupção de um emocionante romance ao mais puro estilo de Eça de Queiroz.
Este é um livro intenso, profundamente sensorial, onde se sente o pulsar da vida em cada folha de árvore, em cada gota de chuva, em cada grão de areia das magníficas praias de S.Tomé…
Na descrição do clima, da paisagem, dos sons, dos cheiros, transpira uma sensualidade telúrica que lateja em cada palavra…
Um livro onde idealismo e realidade chocam frontalmente numa guerra entre razão ou dever e emoção ou vontade.
Uma estreia brilhante.
Um estrondoso sucesso editorial.
Merecido.
Cláudia de Sousa Dias
Luís Bernardo é um jovem empresário lisboeta, no início do sec.XX. Dotado de visão estratégica, facilmente se apercebe que as potências estrangeiras tentam, sob a capa de um “humanismo hipócrita”, eliminar a concorrência dos produtores portugueses de cacau, alegando o uso ilegal do trabalho escravo…e incentivando o boicote à compra do cacau S. Tomense…
Mas a realidade não é diferente da dos outros países colonizadores…Luís Bernardo escreve um artigo a denunciar a situação…
… e é convidado pelo próprio Rei D. Carlos a ocupar o lugar de governador das ilhas de S. Tomé e Príncipe durante três anos, sendo-lhe atribuída a missão de averiguar se há ou não trabalho escravo na referida colónia e convencer o cônsul inglês de que o trabalho escravo em Portugal já faz parte do passado.
Neste seu primeiro romance, Miguel Sousa Tavares deixa transparecer, na sua escrita neutra, objectiva no relato dos factos, a influência do jornalismo; e do Direito, pelo rigor, precisão e eficácia típicos de um jurista, patentes quer na investigação relativamente às condições de trabalho dos negros, quer na condução do interrogatório feito às testemunhas pelo mesmo personagem, numa brilhante prestação forense.
Ao lermos “Equador” temos, em muitos momentos da narrativa, a sensação de estarmos a ler as notícias da época ou a “ouvir” um noticiário televisivo.
Outra das grandes vantagens de “Equador” é a de colocar alguns pontos nos ii, em alguns episódios mais recentes da nossa história, nomeadamente: a descolonização, a relação entre colonizadores e colonizados, a implantação da república – feita com base num golpe de estado, numa época em que ainda não havia eleições livres - a relação de Portugal com outros países colonizadores, supostamente nossos aliados, a situação económica interna na época em questão e respectivas relações económicas internacionais. Mas sobretudo, a mentalidade das classes dirigentes da altura, como travão ao desenvolvimento económico pela falta de visão em perceber e acompanhar o ritmo da evolução da História da Humanidade…e evitar a decadência...
Tudo isto é colocado em evidência de uma forma extremamente pertinente e clara em “Equador” através das atitudes das personagens, numa brilhante análise histórica, político-jurídica e social como, aliás, Miguel Sousa Tavares já nos habituou como mediador em debates televisivos, como entrevistador ou cronista.
O paralelismo da situação económico-política de há um século atrás com a actualidade é mais do que evidente, sobretudo no que respeita ao panorama internacional – uma vez que o comportamento de algumas das principais potências económicas no início do sec. XX tem-se mostrado constante até à actualidade, como é o caso da Inglaterra.
Quanto ao romance propriamente dito, Miguel Sousa Tavares esmerou-se na construção das personagens Luís Bernardo – inteligente, culto, de visão estratégica, sedutor e solitário, um outsider na sociedade lisboeta de então, onde se destaca pela diferença, colocando-se um século adiante dos seus pares.
Está, apesar de tudo, mais próximo de David, o cônsul inglês, pelas ideias, cultura e forma de estar.
David é um autêntico camaleão, um cidadão do mundo, com a capacidade de se adaptar a qualquer lugar ou circunstância, inteligentíssimo, empreendedor, fleumático e totalmente devotado à sua mulher, Ann.
Por sua vez, Ann é uma personagem esfíngica, extremamente bela, culta e viajada, diferente de todas as outras mulheres que povoam o quotidiano de Luís Bernardo…
Os dados estão lançados para a erupção de um emocionante romance ao mais puro estilo de Eça de Queiroz.
Este é um livro intenso, profundamente sensorial, onde se sente o pulsar da vida em cada folha de árvore, em cada gota de chuva, em cada grão de areia das magníficas praias de S.Tomé…
Na descrição do clima, da paisagem, dos sons, dos cheiros, transpira uma sensualidade telúrica que lateja em cada palavra…
Um livro onde idealismo e realidade chocam frontalmente numa guerra entre razão ou dever e emoção ou vontade.
Uma estreia brilhante.
Um estrondoso sucesso editorial.
Merecido.
Cláudia de Sousa Dias
6 Comments:
Este livro é genial, fantástico. Não esperava outra coisa de MST.
VALE MESMO A PENA LER
RITA
Também adorei!
Mas o livro de Richard Zimler "Meia-Noite" tb não fica atrás!
Bjs
É um romance fantástico e o MST um grande escritor. Apenas vi um episódio da série da TVI e penso que não foram felizes...
Também apreciei o livro de Richard Zimler - Meia-Noite ou o Principio do Mundo embora me pareça que umas dezenas de páginas a menos não tivesse sido má ideia.
sempre achei estranho que face ao fenómeno de vendas que foi este "equador", haver tão poucos comentários...
:-)
De zimler já nem falo. continuo a achar a obra sublime adorei cada palavra. foi para mim o melhor livro dele que li até agora.
se bem que não li os três últimos...
CSd
É um livro que elevou muito a qualidade dos escritores portugueses.
obrigada Dragonfly!
já fui ao teu blog mas ainda não tinha posts
mal posso esperar para ver...
beijinho
csd
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