"O Código DaVinci" de Dan Brown (Bertrand)
Um misterioso assassínio ocorre diante de um quadro de Caravaggio, numa das mais visitadas galerias do Louvre. O conservador do museu é encontrado morto nas circunstâncias mais peculiares.
Nu, colocado na posição do Homem de Vitrúvio, uma das mais conhecidas obras de Leonardo DaVinci, com um pentáculo desenhado no ventre, a vítima deixa uma série de pistas codificadas a marca d’água. À sua volta, e nas obras do antigo Grão-Mestre do Priorado do Sião, uma verdadeira trilha de enigmas a serem decifrados pelo Professor Robert Langdon, simbologista de Harvard e pela criptóloga Sophie Neveu. Os dois seguem o rasto do misterioso e espectral assassino e descobrem algo impensável: um tesouro de sabedoria envolto num ninho de víboras…
Um ano após o lançamento deste best-seller em Portugal, parece, à primeira vista, já nada haver mais a dizer sobra a obra.
No entanto, esta trama, brilhantemente urdida, onde os acontecimentos se sucedem em catadupa num tempo narrativo de 24 horas, obriga o leitor a agarrar-se avidamente às páginas do livro que quase se viram por si próprias.
O livro é uma caixinha de surpresas. Um verdadeiro labirinto de Creta povoado de enigmas por decifrar que mostram, por etapas, o caminho a seguir. Um labirinto onde espreita um Minotauro, sob a forma de um membro fanático da Opus Dei - Silas, o monge psicopata.
Que, apesar de tudo, nada mais é do que um mero testa de ferro do verdadeiro assassino, que se esconde na sombra…
E é este o verdadeiro ponto de polémica no livro de Brown: o Autor critica, de forma extremamente contundente, a organização, chama a atenção para a prática de castigos corporais por parte de alguns dos seus membros, para a subalternização das mulheres que fazem parte da organização, para as técnicas consideradas agressivas no que toca à angariação de fiéis (insinuando a utilização de processos de lavagem cerebral), para a cobrança do dízimo, para a sua fulgurante ascensão económica. Define a Opus Dei como “uma seita religiosa de cariz católico”, a ala mais conservadora do catolicismo, defendendo os seus valores mais tradicionais. Iliba, contudo, de uma forma extremamente inteligente, a organização dos crimes perpetrados no romance.
O que sobressai no romance de Dan Brown, e que tem vindo a ser objecto de estudo e dissecação por parte dos seus principais detractores, é nada mais nada menos do que uma visão antropocêntrica dos Evangelhos. Que tem as suas raízes no Iluminismo cuja ideia-chave pretende transmitir que “A Bíblia não foi enviada do céu por fax”, “...é obra do homem e não de Deus” e “...a história oficial nada mais é do que o ponto de vista dos vencedores, quando há um choque entre duas facções diferentes, sejam elas duas culturas duas classes sociais, duas religiões, etc”…
Mais uma pedrada no charco e uma verdadeira provocação ao Vaticano, na medida em que uma das personagens principais do livro afirma que Cristo delegou em Maria Madalena e não em Pedro a responsabilidade de fundar a sua Igreja…o que não foi muito bem aceite pelos seus discípulos (já é do conhecimento geral a ginofobia inerente à religião judaica…).
No entanto, o que são factos e o que é ficção?
A tese do casamento entre Jesus e Maria Madalena é baseada em textos apócrifos censurados no Concílio de Niceia pelo Imperador Constantino, dos quais sobreviveram alguns exemplares, encontrados recentemente num mosteiro copta. O objectivo de Constantino seria o de unificar o Império, instituindo um deus absoluto incarnado num homem que fizesse desta forma a ponte entre o humano e o divino. Isto implicaria a destruição do seu lado humano…
Trata-se de uma tese que já foi divulgada em romances anteriormente publicados como ”O Pêndulo de Foucault” de Umberto Eco e “Jesus na Fogueira” de Catherine Clément, que contudo não atacaram a pedra basilar do Vaticano, isto é, a anti-tese daquilo que foi dito antes, ou seja, que Cristo delegou em Pedro a responsabilidade da fundação da sua Igreja.
Por outro lado, o facto de Cristo ter ou não deixado uma linhagem que, a partir de Maria Madalena, se fundiu com a dos reis Merovíngios é uma hipótese que, até à data, não tem elementos sólidos que a confirmem.
Convém, não esquecer que o Código DaVinci é, antes de mais, um romance policial genialmente construído, embora com um final que, ao aproximarmo-nos das últimas páginas, se adivinha um pouco previsível. É um estimulante exercício mental que permite a desconstrução de mitos que nos são inculcados desde a infância, obrigando-nos a considerar a possibilidade de verdades alternativas.
Um livro herético, audaz.
Uma trombeta que anuncia o despertar de uma nova era?
Cláudia deSousa Dias
Nu, colocado na posição do Homem de Vitrúvio, uma das mais conhecidas obras de Leonardo DaVinci, com um pentáculo desenhado no ventre, a vítima deixa uma série de pistas codificadas a marca d’água. À sua volta, e nas obras do antigo Grão-Mestre do Priorado do Sião, uma verdadeira trilha de enigmas a serem decifrados pelo Professor Robert Langdon, simbologista de Harvard e pela criptóloga Sophie Neveu. Os dois seguem o rasto do misterioso e espectral assassino e descobrem algo impensável: um tesouro de sabedoria envolto num ninho de víboras…
Um ano após o lançamento deste best-seller em Portugal, parece, à primeira vista, já nada haver mais a dizer sobra a obra.
No entanto, esta trama, brilhantemente urdida, onde os acontecimentos se sucedem em catadupa num tempo narrativo de 24 horas, obriga o leitor a agarrar-se avidamente às páginas do livro que quase se viram por si próprias.
O livro é uma caixinha de surpresas. Um verdadeiro labirinto de Creta povoado de enigmas por decifrar que mostram, por etapas, o caminho a seguir. Um labirinto onde espreita um Minotauro, sob a forma de um membro fanático da Opus Dei - Silas, o monge psicopata.
Que, apesar de tudo, nada mais é do que um mero testa de ferro do verdadeiro assassino, que se esconde na sombra…
E é este o verdadeiro ponto de polémica no livro de Brown: o Autor critica, de forma extremamente contundente, a organização, chama a atenção para a prática de castigos corporais por parte de alguns dos seus membros, para a subalternização das mulheres que fazem parte da organização, para as técnicas consideradas agressivas no que toca à angariação de fiéis (insinuando a utilização de processos de lavagem cerebral), para a cobrança do dízimo, para a sua fulgurante ascensão económica. Define a Opus Dei como “uma seita religiosa de cariz católico”, a ala mais conservadora do catolicismo, defendendo os seus valores mais tradicionais. Iliba, contudo, de uma forma extremamente inteligente, a organização dos crimes perpetrados no romance.
O que sobressai no romance de Dan Brown, e que tem vindo a ser objecto de estudo e dissecação por parte dos seus principais detractores, é nada mais nada menos do que uma visão antropocêntrica dos Evangelhos. Que tem as suas raízes no Iluminismo cuja ideia-chave pretende transmitir que “A Bíblia não foi enviada do céu por fax”, “...é obra do homem e não de Deus” e “...a história oficial nada mais é do que o ponto de vista dos vencedores, quando há um choque entre duas facções diferentes, sejam elas duas culturas duas classes sociais, duas religiões, etc”…
Mais uma pedrada no charco e uma verdadeira provocação ao Vaticano, na medida em que uma das personagens principais do livro afirma que Cristo delegou em Maria Madalena e não em Pedro a responsabilidade de fundar a sua Igreja…o que não foi muito bem aceite pelos seus discípulos (já é do conhecimento geral a ginofobia inerente à religião judaica…).
No entanto, o que são factos e o que é ficção?
A tese do casamento entre Jesus e Maria Madalena é baseada em textos apócrifos censurados no Concílio de Niceia pelo Imperador Constantino, dos quais sobreviveram alguns exemplares, encontrados recentemente num mosteiro copta. O objectivo de Constantino seria o de unificar o Império, instituindo um deus absoluto incarnado num homem que fizesse desta forma a ponte entre o humano e o divino. Isto implicaria a destruição do seu lado humano…
Trata-se de uma tese que já foi divulgada em romances anteriormente publicados como ”O Pêndulo de Foucault” de Umberto Eco e “Jesus na Fogueira” de Catherine Clément, que contudo não atacaram a pedra basilar do Vaticano, isto é, a anti-tese daquilo que foi dito antes, ou seja, que Cristo delegou em Pedro a responsabilidade da fundação da sua Igreja.
Por outro lado, o facto de Cristo ter ou não deixado uma linhagem que, a partir de Maria Madalena, se fundiu com a dos reis Merovíngios é uma hipótese que, até à data, não tem elementos sólidos que a confirmem.
Convém, não esquecer que o Código DaVinci é, antes de mais, um romance policial genialmente construído, embora com um final que, ao aproximarmo-nos das últimas páginas, se adivinha um pouco previsível. É um estimulante exercício mental que permite a desconstrução de mitos que nos são inculcados desde a infância, obrigando-nos a considerar a possibilidade de verdades alternativas.
Um livro herético, audaz.
Uma trombeta que anuncia o despertar de uma nova era?
Cláudia deSousa Dias
5 Comments:
Fantástico. Assim, já não preciso de ler livros :) estou a brincar.
Mas é sempre bom ter um blog onde fazem o resumo do tanto que para aí se edita.
Eu já tinha vindo aqui, pois "vi-te" no amor e ócio, mas como não tenho blog, não podia comentar. Agora sim, foste mais democrática e deste voz ao povo.
Mas ainda não li o CÓDIGO. Não tenho coragem :)
parabéns
CAVALO DE FERRO
Eu tb não queria ler o "código", mas li, ou antes, devorei. Foram três dias de leitura compulsiva! mMAs caso tivesse lido a sua critica, provavelmente, o "impacto" do livro não seria tão grande! É sem dúvida um livro bem escrito e que sabe cativar, mas não passa disso. Pura distracção!
anonymous 4:56 Am
Não concordo... totalmente!
Pelo seguinte: alguns dardos são muitíssimo bem lançados!
E por isso mesmo é que causa toda a polémica de que tem vindo a ser alvo.
Só por isso vale a pena...
Bjs
Ó Cláudia!
Também já li... finalmente! E, depois disso, devorei igualmente o "Anjos e Demónios".
Tudo o que diz respeito à religião me interessa, e o ponto de vista gnóstico que Dan Brown defende e realça, em ambos os romances, agrada-me muito, claro!
Mas não considero nada previsível o final de "O Código da Vinci", que, aliás, me parece excelente. É que não é nada fácil pôr um ponto final num "thriller" e o autor sai-se muitíssimo bem dessa dificuldade.
Bem, agora só me falta começar a saga do "Harry Potter", vejamos o que há de interessante por aí...
Quanto ao autor americano, vai lançar nova obra no próximo ano "The Solomon Key". Cá estarei para a ler...
...com emoção e prazer...
Rui leprechaun
(...porque é tão bom conhecer! :))
Parabéns pelo blog!
Realmente o livro foi fantástico e me despertou o interesse sobre Opus Dei, Iluminismo e tudo sobre o tema.
Achei muito informativo e uma ficção empolgante.
Sugiro que leia DIA DE CONFISSAO - Alan Folsom.
Um abraço
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