"Um mal antigo" de Paul Doherty (Bertrand)
Um romance histórico, medieval situado na Inglaterra do século XIV. Um livro que é um óptimo entretenimento, que enfeitiça pelo seu suspense in crescendum.
Durante uma peregrinação a Cantuária, um grupo de peregrinos reúne-se, à noite, à volta de uma mesa numa estalagem e, para passar o serão, decidem, cada qual, contar uma história.
Mas é um misterioso cavaleiro, acompanhado do seu lindíssimo filho adolescente quem monopoliza a atenção dos restantes peregrinos, despertando neles o fascínio mórbido, típico do ser humano, pelo horror ao explorar aquilo que de mais profundo, atávico e, por isso mesmo, incontrolável se esconde no inconsciente humano: o Medo.
É desta forma que o cavaleiro eclipsa por completo a voz dos restantes peregrinos propondo-se contar “um conto de mistério que nos gele o sangue, nos faça parar o coração e nos ponha os cabelos em pé”.
Consegue-o.
Com um conto de crime e morte “povoado de horrores saído das profundezas do Inferno”.
Trata-se de descobrir o(s) assassino(s) que vêm a assolar a cidade universitária de Oxford, semeando o terror na população ao fazer recair as suspeitas nos estudantes universitários que, por tradição, possuem já o hábito de causar distúrbios: estes envolvem-se, constantemente, em rixas com os restantes habitantes da cidade. O clima de ódio adensa-se e, tal como a Peste, ameaça multiplicar as mortes servindo, desta forma, os interesses do verdadeiro e maléfico assassino cujo objectivo último é o de disseminar o ódio.
O livro é uma viagem pelas lendas que povoam o universo medieval, habitando o imaginário das gentes da época, num sincretismo religioso que mescla o cristianismo com as lendas celtas pré-cristãs, enriquecidas com os mitos das longínquas e misteriosas terras do extremo leste europeu como a Moldávia e a Valáquia trazidas por imigrantes ou fugitivos. Lendas que nos falam de demónios ou drakuls , vampiros, strigoi - conceito incluído na demonologia medieval utilizado para descrever tanto os mortos-vivos como os espíritos malignos que se apoderam de uma alma viva.
Todas as personagens são fruto da época em que se situa o romance, pelo facto de atribuírem, quase sempre, uma explicação sobrenatural a tudo aquilo que não conseguem explicar. Daí a sua fragilidade sendo, por isso, extremamente manipuláveis e que, para conseguirem conservar a sanidade mental, só têm um único refúgio possível: a sua fé.
Dame Edith Mohun, a principal aliada dos dois protagonistas do conto, cuja cegueira a obrigou ao aperfeiçoamento dos restantes sentidos, nomeadamente o olfacto, a audição e o sentido cinestésico é, por isso, considerada como sendo detentora de poderes sobrenaturais.
Sir Godfey é o cavaleiro encarregue pelo rei de resolver o mistério e eliminar o assassino e Alexander MacBain, o erudito escrivão, uma peça fundamental para o desenvolvimento e conclusão da trama.
O estilo de Paul Doherty é completamente veiculado para provocar no leitor um sentimento de ansiedade que despoleta um arrepio na espinha servindo-se brilhantemente da adjectivação. Utiliza-a não só para ilustrar o ambiente lúgubre à volta da mesa, onde se sentam os peregrinos enquanto escutam a história, mas também para sugerir, na descrição do cenário à volta da estalagem, o perigo expresso pelo silêncio anormal e pelo estado de alerta do gato que, desconfiado, procura lugar que lhe sirva de refúgio, esgueirando-se logo que surge a primeira oportunidade. E para mostrar a desolação do campo de batalha após a carnificina, logo no início da narrativa do cavaleiro. Todos os adjectivos são intencional e inteligentemente utilizados de forma a imprimir no leitor a sensação de medo, terror e repugnância mas que, simultaneamente, exercem nele um fascínio hipnótico que o agarra à narrativa e o colocam na expectativa de saber o que se vai passar a seguir.
Mas…por vezes a curiosidade, para o gato, é fatal…
Uma obra que só não é aconselhável a quem sofrer de esquizofrenia.
Ou insónias…
Cláudia de Sousa Dias
Durante uma peregrinação a Cantuária, um grupo de peregrinos reúne-se, à noite, à volta de uma mesa numa estalagem e, para passar o serão, decidem, cada qual, contar uma história.
Mas é um misterioso cavaleiro, acompanhado do seu lindíssimo filho adolescente quem monopoliza a atenção dos restantes peregrinos, despertando neles o fascínio mórbido, típico do ser humano, pelo horror ao explorar aquilo que de mais profundo, atávico e, por isso mesmo, incontrolável se esconde no inconsciente humano: o Medo.
É desta forma que o cavaleiro eclipsa por completo a voz dos restantes peregrinos propondo-se contar “um conto de mistério que nos gele o sangue, nos faça parar o coração e nos ponha os cabelos em pé”.
Consegue-o.
Com um conto de crime e morte “povoado de horrores saído das profundezas do Inferno”.
Trata-se de descobrir o(s) assassino(s) que vêm a assolar a cidade universitária de Oxford, semeando o terror na população ao fazer recair as suspeitas nos estudantes universitários que, por tradição, possuem já o hábito de causar distúrbios: estes envolvem-se, constantemente, em rixas com os restantes habitantes da cidade. O clima de ódio adensa-se e, tal como a Peste, ameaça multiplicar as mortes servindo, desta forma, os interesses do verdadeiro e maléfico assassino cujo objectivo último é o de disseminar o ódio.
O livro é uma viagem pelas lendas que povoam o universo medieval, habitando o imaginário das gentes da época, num sincretismo religioso que mescla o cristianismo com as lendas celtas pré-cristãs, enriquecidas com os mitos das longínquas e misteriosas terras do extremo leste europeu como a Moldávia e a Valáquia trazidas por imigrantes ou fugitivos. Lendas que nos falam de demónios ou drakuls , vampiros, strigoi - conceito incluído na demonologia medieval utilizado para descrever tanto os mortos-vivos como os espíritos malignos que se apoderam de uma alma viva.
Todas as personagens são fruto da época em que se situa o romance, pelo facto de atribuírem, quase sempre, uma explicação sobrenatural a tudo aquilo que não conseguem explicar. Daí a sua fragilidade sendo, por isso, extremamente manipuláveis e que, para conseguirem conservar a sanidade mental, só têm um único refúgio possível: a sua fé.
Dame Edith Mohun, a principal aliada dos dois protagonistas do conto, cuja cegueira a obrigou ao aperfeiçoamento dos restantes sentidos, nomeadamente o olfacto, a audição e o sentido cinestésico é, por isso, considerada como sendo detentora de poderes sobrenaturais.
Sir Godfey é o cavaleiro encarregue pelo rei de resolver o mistério e eliminar o assassino e Alexander MacBain, o erudito escrivão, uma peça fundamental para o desenvolvimento e conclusão da trama.
O estilo de Paul Doherty é completamente veiculado para provocar no leitor um sentimento de ansiedade que despoleta um arrepio na espinha servindo-se brilhantemente da adjectivação. Utiliza-a não só para ilustrar o ambiente lúgubre à volta da mesa, onde se sentam os peregrinos enquanto escutam a história, mas também para sugerir, na descrição do cenário à volta da estalagem, o perigo expresso pelo silêncio anormal e pelo estado de alerta do gato que, desconfiado, procura lugar que lhe sirva de refúgio, esgueirando-se logo que surge a primeira oportunidade. E para mostrar a desolação do campo de batalha após a carnificina, logo no início da narrativa do cavaleiro. Todos os adjectivos são intencional e inteligentemente utilizados de forma a imprimir no leitor a sensação de medo, terror e repugnância mas que, simultaneamente, exercem nele um fascínio hipnótico que o agarra à narrativa e o colocam na expectativa de saber o que se vai passar a seguir.
Mas…por vezes a curiosidade, para o gato, é fatal…
Uma obra que só não é aconselhável a quem sofrer de esquizofrenia.
Ou insónias…
Cláudia de Sousa Dias
2 Comments:
terrifico.
Sim!
Mas lê-se bem.
É uma história engraçada para contar à lareira em noite de haloween...!
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