“As Aventuras de Maresia do Mar e outras Histórias para Aprender” de Francisco Moita Flores
Francisco Moita Flores estreia-se na escrita infanto-juvenil com esta publicação, a qual inclui quatro pequenas histórias que incidem em temas que fazem parte integrante do currículo escolar do ensino básico.
O Autor apresentou o mesmo livro, que conta com as belíssimas ilustrações de Ricardo Tércio, no passado dia 20 de Março na Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco.
Confesso ter tido alguma dificuldade em classificar esta obra, pelo facto de algumas histórias como As aventuras de Maresia do Mar ou mesmo Os Astros poderem ser facilmente recomendadas para crianças do primeiro ciclo do ensino básico; no entanto, uma delas poderá adequar-se ao 2º ou 3º ciclo e outra, mais adequada ao público adulto, se transformada em alegoria ou sátira às Nações Unidas, pelas razões que passaremos a explicar.
A primeira história, AS Aventuras de Maresia do Mar, começa por ser uma bonita metáfora, personificada numa viagem à volta do mundo de uma gota de água. Trata-se de uma história simples e concreta que operacionaliza conceitos relacionados com o ciclo da água. Um conto que poderia facilmente ser adaptado a um pequeno telefilme de animação.
A segunda história seleccionada para este volume é a alegoria às Nações Unidas, satirizada um pouco ao estilo de La Fontaine intitulada As aflições herbívoras que deixaram um onmívoro feliz. Esta história seria, no entanto, mais adequada a uma adaptação a uma peça de teatro, uma vez que se enquadra perfeitamente no género “farsa”. Trata-se de um conto que pode ser olhado em paralelo com a situação actual das Nações Unidas uma vez que, os animais que figuram na assembleia, estão agrupados e estratificados consoante o lugar que ocupam na cadeia alimentar, da mesma forma que, na ONU, as nações estão representadas e agrupadas conforme o lugar que ocupam na Economia Mundial. A analogia é interessante, sobretudo quando verificamos que, as diversas espécies de animais começam, quando a forme aperta, por se devorar uns aos outros. Exactamente como os humanos em tempos de crise. Mas o que levanta sérias dúvidas quanto à indicação deste conto para crianças é que, para problemas graves que afectam o mundo, como a luta pelo poder ou pela subsistência, a solução esteja na etilização por meio do Vinho do Porto, que surge aqui como um veículo de abertura dos laços de camaradagem entre os povos, eliminando a agressividade e estimulando a alegria. Para o público adulto, a sátira funcionaria na perfeição, mas, para os mais novos, a interpretação de uma história como esta pode transformar-se numa considerável distorção da realidade, see a leitura da mesma não for convenientemente orientada por um adulto, uma vez que, como sabemos, o consumo de álcool estimula, na maior parte dos casos, comportamentos agressivos, diminuindo a percepção de risco para o próprio e para os outros.
A terceira história intitula-se Os Astros, sendo, também, aquela que é detentora de maior conteúdo poético e literário.
A quarta história pode servir de base a um argumento de um pequeno filme de ficção científica para crianças, onde os principais personagens são... vírus e bactérias. Ou seja, os habitantes de Microlândia, trazida à luz do conhecimento humano pela invenção do microscópio no século XIX. Trata-se de uma história sobre a questão da sobrevivência dos microrganismos responsáveis pela debilitação e morte dos seres humanos no planeta e que nos dá, indirectamente, as soluções para a obtenção de um estilo de vida saudável.
O livro é um objecto belo pelas ilustrações de Ricardo Tércio, expressivas e de cores ora suaves e discretas, ora quentes, ou ainda apostando nos contrastes.
Cláudia de Sousa Dias
2 Comments:
Esse senhor lança-se a tudo, não haja dúvida e, ao que parece, com alguma qualidade ;)
Beijinhos e continuação de bom domingo pascoal!
Madalena
sim...alguma.
:-D
beijos
e boa Páscoa...
CSD
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