"A Rainha do Sul" de Arturo Pérez-Reverte (ASA)
Tradução de Helena Pitta
A articulação do jogo de interesses, inserido na teia do mundo do crime à escala mundial, numa história de amor, traição e vingança.
A Rainha do Sul é um romance obtido a partir do resultado de um exaustivo trabalho de investigação, levado a cabo pelo autor, sobre a estruturação de uma economia paralela, à escala global.
Para poder levá-lo a cabo, o Autor teve de proceder à indagação sobre a vida de uma conhecida narcotraficante residente em Espanha e originária do México, a qual operava através de uma empresa que, por sua vez, mantinha a fachada de transportadora internacional de mercadorias.
Apesar de o nome e as circunstancias presentes no romance serem fictícios, o Auto partiu de factos reais e de vários testemunhos de personalidades estreitamente ligadas à conhecida rede de narcotráfico. É por esse motivo que um romance como este consegue traçar, em linhas gerais, um quadro tão verosímil, da forma como se articula o tráfico de haxixe e cocaína envolvendo as principais redes internacionais do crime organizado: a ligação de Espanha a Marrocos e à à Colômbia, funcionando o Sul do país de "nuestros hermanos" como um espécie de entreposto para o comércio de estupefacientes com toda a Europa, em conexão com as associações criminosas italianas (a Máfia da Sicília, a Camorra de Nápoles e a N'Dranghetta da Calábria) e com o narcotráfico com a Europa de Leste.
Juntamente ao tráfico de drogas, o autor deixa, também, entrever um pouco as ligações ao "tráfico de carne humana", concretamente nos bares de alterne da já referida zona turística espanhola.
Nesta obra, temos a oportunidade de observar, também, com minúcia, o desenrolar do processo de lavagem de dinheiro, as operações de transporte de droga, chantagem e esquemas de fuga à Lei a que se junta, muitas vezes, um trabalho de "parceria" de parte das autoridades oficiais (polícia, tribunais, autarquias, governo) com os narcotraficantes.
O ritmo da história é contado a duas velocidades: em primeiro lugar, temos o investigador-repórter que entrevista os principais intervenientes na história, em contacto com Teresa Mendoza a protagonista e anti-heoína (embora, na realidade a trafique, passo o trocadilho, a que não conseguimos resistir). Aqui, a narrativa adquire um ritmo mais lento para dar ao leitor a oportunidade de analisar e avaliar os acontecimentos e o carácter das personagens e, por vezes, manifestar os seus próprios pensamentos e pontos de vista.
Por outro lado, temos a parte do romance propriamente dito que implica o lado criativo do autor, na qual, o narrador, omnisciente e não participante, facilita a reconstituição dos episódios vividos pela protagonista e as demais personagens. A partir daqui, podemos identificar uma vilã que acaba por cativar os leitores pela inteligência argúcia e capacidade de sedução - apesar dos meios duvidosos que emprega para conseguir os seus objectivos - que encarna uma versão feminina da personagem Edmond Dantés no romance O Conde de Monte-Cristo de Alexandre Dumas, que é aqui substituído por uma tratar-se de uma mulher-fatal cuja finalidade é a de triunfar num mundo de homens, no qual irá assumir o papel de vingadora pela morte do namorado, morto em consequência de um ajuste de contas, ditado pela infracção das regras do jogo. Depois de passar algum tempo na prisão, Teresa irá, tal como a personagem de Dumas, encontrar os meios para consumar a sua vingança e procurar uma posição de liderança no mundo dos negócios de transporte de estupefacientes.
Uma "Condessa de Monte-Cristo" dos finais do sec. XX, mas retratada ao estilo frio e cáustico de Reverte, mas cujo final diverge, felizmente, em muito do do romancista francês do século XVIII.
Um texto brilhante, pródigo na utilização da gíria e calão dos narcotraficantes e do ambiente tenso de quem vive constantemente no fio da navalha.
Cláudia de Sousa Dias
Labels: Repostagem repescada do arquivo morto de Fevereiro de 2005
7 Comments:
Bem na postagem anterior, de 2005, tinha já estes dois comentários:
2 Comments:
Cleopatra said...
Li.
Não está muito longe de algumas das nossas realidades.
Bom livro.
11:28 PM
Claudia Sousa Dias said...
Também concordo!
O autor fez um excelente trabalho de investigação.
Um beijo
CSd
Um texto infinitamente actual!
Beijinhos e bom domingo!
Madalena
sim... é verdade!
A Cleópatra que o diga, já que está no ramo jurídico e penal...
csd
escrita talentosa, a de Pérez-Reverte. Este título não li.
E já li há um bom par de anos...
:-)
csd
Gostei bastante;espero k não se importem k fique por aqui para seguir as sugestões literárias!
Gostei muito do blogue.
Não nos importamos absolutamente nada!
Seja bem-vindo ao meu refúgio literário...
csd
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