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Monday, May 23, 2011

“Aubrey Bearsley” pour Patrick Bade (Parkstone)



Aubrey Beardsley está conotado com aquilo que, no início do século X X, se chamava de artiste de fin-de-siécle. Foi ilustrador de obras de Oscar Wilde até à altura em que as relações de amizade entre ambos se começaram a deteriorar, sobretudo após o escritor ter detestado as ilustrações de Beardsley no seu Livro Amarelo, lançando o exemplar pela janela.




Os desenhos de Beardsley são caracterizados por apresentarem, quase sempre, uma requintada perversão das situações contadas nas histórias que ilustra. Na altura em que estas eram publicadas nas principais revistas literárias causaram algumas ondas de choque na púdica sociedade vitoriana. O trabalho de Beardsley caracterizava-se pela elegância dos traços patente nas figuras esguias, num certo preciosismo ao retratar os cenários e por uma certa ambiguidade sexual nas atitudes e nos gestos das personagens. Na mesma ordem de ideias, o conteúdo ideológico da obra manifesta-se como uma objecção frontal às certezas morais, observadas pela sociedade vitoriana ainda no século XX que representavam a moralidade pequeno-burguesa.




Dados Biográficos




Aubrey Beardsley nasceu na cidade balnear de Brighton, a sul de Londres. Sofreu desde tenra infância sérios problemas de saúde – tuberculose – dos quais viria a falecer antes de completar vinte e seis anos, tendo sido, desde cedo, fortemente incentivado pela mãe no amor às artes e à cultura. Segundo Patrick Bade, percebemos que o ingresso de Beardsley no meio beneficiou muito de uma certa permissividade social em Brighton, uma espécie de Riviera britânica. O núcleo ideal para que um jovem fisicamente debilitado desenvolvesse o gosto pelo desenho. Principalmente o desenho de conteúdo provocador, de cariz erótico, mas desenhado com a harmonia e pureza ática de Eduard Burne-Jones, Dante Gabriel Rossetti, ou ainda das figuras dos antigos vasos deixados como vestígios da antiga cultura helénica.




Patrick Bade, explora, também, no volume de que aqui tratamos, as fontes de inspiração que servem para compor o estilo de ilustração de Beardsley ao enfatizar que:




“…o artista plástico parece ter-se inspirado nos interiores de orientalistas dos pavilhões dos jardins de inverno ingleses, dotando o seu próprio trabalho de uma atmosfera intimista próxima do serralho otomano.




A todas estas influências estéticas junta-se ainda a atitude das mulheres de cabaret, tantas vezes retratadas por Toulouse-Lautrec que surgem retratadas com os contornos específicos das estruturas de cariz pré-rafaelita de Beardsley.




Na altura, foram muitos os jovens do meio intelectual anglo-saxónico e parisiense que padeciam do mal da tuberculose e ficavam largas temporadas quer em Brighton, quer em outras estâncias termais europeias, acabando por ficar a conhecer-se. Dentre eles estava também, o poeta John Keats, o qual veio a falecer praticamente com a mesma idade de Beardsley.




Os desenhos deste artista são quase sempre a preto e branco. Neste caso, Beardsley e Burne-Jones aproximam-se pela distanciação do materialismo grosseiro do século XIX. No entanto Burne-Jones cria um mundo onírico e belo, ao passo que o seu colega troca o belo pelo obsceno. Ambos produzem, no entanto, figuras andróginas e algo neurasténicas de acordo com o ponto de vista de Bade. Ou seja, inequivocamente belas, mas infelizes, melancólicas e com ar muito pouco saudável. As vestes, alongadas, deixando adivinhar corpos frágeis, exibindo olheiras, expressões ausentes, aparência diáfana.




Beardsley afasta-se, entretanto dos pré-rafaelitas, acabando por parodiar o modernismo ao exagerar a ambiguidade de género nos trabalhos destes seus colegas e dando grande destaque à cabeleira que em, Beardsley chega, nesta fase, a atingir o grotesco, como nas ilustrações de Tristão e Isolda. Este destaque dado à cabeleira vai sobretudo buscá-lo a Dante Gabriel Rossetti, pintor da corrente simbolista - art noveau – o qual dá à cabeleira feminina o protagonismo quer como arma de sedução quer de destruição. Beardsley acabará por parodiar Rossetti através da obra Beata Beatrix pervertendo-a, através da transformação do êxtase perante a morte na expressão de prazer com que esta saboreia um cigarro, degustando-o em prolongadas travas, onde a cabeleira tentacular da mulher em Beardsley parece ter vida própria, adquirindo um efeito cómico na alusão à cabeleira de Jane Morris , amante de DGR na ilustração O beijo de Judas.




Beardsley e “Salomé” de Oscar Wilde




Mas é a partir de 1890 que ocorre o boom da propagação das revistas ilustradas em Inglaterra, como é o caso da Studio ou a Revue Blanche em Paris ou a Pan em Berlim. O Autor deste livro explora a evolução do estilo ilustrativo de AB, quer nas transformaçõpes sofridas pelo contacto com as diferentes influências estéticas, quer quer pela necessidade de provocação face a uma sociedade em cujas regras e convenções sociais já não acreditava. Com a ilustração da peça Salomé, Beardsley começa a distanciar-se dos pré-rafaelitas aproximando-se de Whistler e da arte pictórica japonesa. A tendência jocosa de Bearsley não deixa de transparecer no trabalho não resistindo a introduzir uma caricatura de Wilde, na figura da Rainha Herodias.




A princesa Salomé é um ícone apreciado por artistas plásticos de vários quadrantes, instituindo-se como um arquétipo a personificar as divindades associadas à luxúria, assim como da histeria ou um protótipo de “beleza maldita, bem ao gosto de Beardsley.




Entretanto, o ilustrador começa a ser afectado por rumores sobre uma suposta ligação amorosa com Wilde, em consequência da orientação homossexual deste último, para além de entrar em atritos com o amante do escritor, o qual foi encarregue de traduzir da sua obra, escrita originalmente em Francês, para a língua inglesa. Como resultado, Beardsley resolve escarnecer de Wilde nas suas ilustrações de Salomé. Para Patrick Bade, houve sempre algo de “discípulo perverso” em Beardsley , que em 1893 se gaba de que as suas ilustrações de “Les histoires Variés - edição de contos eróticos de Lucien serem "aquilo que de melhor se publicou até à data em termos de técnica e concepção", sem deixar de acrescentar também serem estas “as mais indecentes”. A partir de então, Beardsley começa a ter problemas em publicar, encetando uma guerra sem tréguas com os seus editores e respectivas intenções censórias.




A primeira versão de A toilette de Salomé foi totalmente rejeitada, devido à nudez de uma hermafrodita que servia café. Por outro lado, a pose dos braços de Salomé insinuava que esta estaria a masturbar-se por debaixo da mesa. Mas o maior factor de escândalo na ilustração em causa consistia no pequeno tufo de pêlos púbicos que irrompia de entre as pernas do jovem sentado. A interdição da exibição dos pêlos púbicos manteve-se em Inglaterra até ao início dos anos 1970. A segunda versão de A toilette de Salomé, apesar de um pouco mais polida, não deixa de introduzir, também, um certo toque subversivo pela menção do nome de Zola e do Marquês de Sade na pilha de livros disposta debaixo da mesa da sensual princesa. Um crítico do Times descrevia estas ilustrações como fantásticas, grotescas, a maior parte delas ininteligíveis e repugnantes.




O autor deste ensaio ilustrado, salienta ainda que uma característica inquestionável do trabalho de Aubrey Beardsley é o prazer insaciável em jogar com anacronismos. Daí a menção de Autores do século XVIII e XIX a integrar uma cena dos Evangelhos e a presença de móveis ao estilo contemporâneo no cenário assim como a aproximação ao estilo de ilustração das gravuras ao estilo japonês, o qual contrastava de forma violenta com os cânones da nudez arte ocidental - uma nudez mais tímida, idealizada e depilada, face aos desenhos japoneses que realçavam os detalhes dos relevos das ancas e do púbis, atingindo em cheio a púdica sensibilidade vitoriana.




Beardsley, o cosmopolita




Beardsley seria, para a opinião pública da época, a imagem perfeita de um esteta e simultaneamente um dândi, rótulo que lhe ficou para a posteridade. Durante uma estadia em Paris, onde conheceu Wilde, o ilustrador dedicou-se exaustivamente à leitura. A sua obra acabou, também, por sofrer a influência de outros artistas como Manet, Degas, Whistler e escritores como Baudelaire e Huysmans.




O autor deste ensaio ilustrado, Patrick Bade frisa a importância da vida socia,l nas várias capitais europeias, para a carreira do ilustrador com destaque para Paris, onde frequantava as tertúlias às terças-feiras nas quais, além de Wilde, estavam também presentes autores da craveira de Marcel Proust.




Sexualidades em Beardsley




Para Patrick Bade, a orientação sexual de Beardsley é um mistério, uma vez que este parece sentir-se fascinado por todo o género de comportamentos sexuais mais estranhos desde a flagelação, ao travestismo, até às bestialidades…




Aubrey Beardsley chega a elaborar um romance imaginário que deixa inacabado “Sous la coline” – Downhill – onde descreve uma Vénus a masturbar o seu licórneo antes do pequeno almoço. O simbolismo sexual, expresso no seu monograma a representar a penetração sexual seguida de ejaculação sugere ao Autor deste ensaio uma orientação sexual definida e claramente identificada, sem no entanto deixar de adoptar uma série de “tiques” associados à homossexualidade que confundem a opinião pública. O gosto pelo travestismo e pela fusão do masculino e do feminino estão fortemente representados na sua obra.




Já no final da vida, a situação de desemprego obriga-o a trabalhar para um editor de arte erótica, em obras extremamente difíceis de colocar no mercado, a quem o ilustrador apelidava de O erotomaníaco mais culto da Europa – Leonard Smithers. Beardsley esperava que Smithers publicasse o seu romance Downhill, baseado na vida de uma beldade do século XVI, sobre Vénus e o Tanhäuser – a obra-prima da decadência de fim de século, debruçando-se minuciosamente sobre todas a s formas de sexualidade humana, onde o amor, por seu lado, é visto como um artifício. Mas com a publicação de A Rebours dá-se uma revolução estética na vida de Beardsley.




Para o clássico Lysistrata de Aristófanes, Smithers pede a AB a ilustração da peça que descreve como o episódio da greve de sexo das mulheres de Atenas e Esparta como protesto face à guerra entre as duas cidades-estado. O mesmo editor exigiu ao ilustrador uma produção explicitamente erotizada.




Beardsley procurou inspirar-se nos antigos vasos gregos do British Museum bem como de colecções particulares a cujo estilo adiciona a voluptuosidade das gravuras japonesas, o que resultou numa mistura explosiva.




Últimos Projectos




Depois de Lysistrata, Aubrey Beardsley, é convidado a ilustrar vários livros eróticos, datando as suas figuras com um certo ar caricatural que muitas vezes desvirtuava as obras, pervertendo-as ou deturpando-lhes o significado.




Beardsley em desespero de causa, sem conseguir outro género de trabalho e pressionado pela necessidade urgente de se submeter a tratamentos médicos dispendiosos, passa a executar trabalhos que se revestem de uma pujante vulgaridade, distanciando-se muito das divertidas sátiras iniciais. Nove dias antes do seu falecimento, o ilustrador teria escrito a Smithers implorando-lhe que destruísse todas as cópias das ilustrações de Lysistrata e dos trabalhos de conteúdo obsceno que se lhe seguiram.




Ao longo de toda a vida, Aubrey Beardsley demonstrou uma extraordinária capacidade de reinventar e renovar o próprio estilo. O elogio fúnebre mais comovente durante as exéquias foi o do antigo colaborador Oscar Wilde, numa carta de condolências dirigida a Smithers.







A obra é contada toda ela com um certo tom de divertida maledicência mito ao mais puro estilo do "gossipery" britânico a condizer com a deliciosa malícia das ilustrações do malogrado artista da viragem do século XIX - XX.




1 de Fevereiro de 2011

3 Comments:

Blogger M. said...

Uma pena ter morrido tão novo :( E que péssimo feitio tinha Oscar Wilde!
Beijinhos, profícua semana!
Madalena

9:47 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

amanhã coloco uma galeria de imagens no rendez-vous...
:-)

um beijo

11:54 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Mas este é apenas um resumo da obra...

10:45 AM  

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