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Sunday, April 07, 2013

“Cidade Proibida” Eduardo Pitta (Quidnovi)




Eduardo Pitta é poeta, ficcionista, autor de relatos, contos e, também, ensaísta. Nasceu em Lourenço Marques e viveu em Moçambique até 1975. É colunista na revista Ler e crítico literário na Sábado. Publicou dez livros de poesia entre 1974 e 2011, o romance Cidade Proibida de que hoje falamos, em 2007, uma trilogia de contos, Persona, com uma piscadela de olho a Ingmar Bergman, e um diário, tendo como pano de fundo a cidade de Veneza – Os dias de Veneza - , pintando- como uma série de quadros formando um painel ou então, um fresco, a ilustrar várias cenas emblemáticas da cidade. Publicou ainda o ensaio intitulado Fractura, em 2003, sobre a homossexualidade na Literatura Portuguesa.
Há poucas semanas atrás lançou, através da editora Tinta-da-China, o livro de viagens intitulado Cadernos Italianos, um périplo pelas cidades de Roma e Veneza, incluído na colecção de viagens dirigida por Carlos Vaz Marques.

Mas falemos de Cidade Proibida:trata-se de um romance de interditos. Para muitos, poderá parecer fracturante porque aborda temas incómodos para a franja mais conservadora da sociedade portuguesa, tais como o amor e a sensualidade erótica entre homens, o flagelo da Sida e consequentes alterações no quotidiano e nos comportamentos sexuais de todos os sujeitos, independentemente da orientação sexual, ao explorar as facetas do comportamento humanos que a moral católica insiste em ignorar.

Por outro lado, Cidade Proibida pretende traçar o retrato de uma franja muito específica da sociedade portuguesa: a elite económica lisboeta e respectivas ligações à esfera política e ao mundo da alta finança, ou seja, a elite económica da lisboeta e respectiva ligação ao gigantesco polvo financeiro que estende os seus tentáculos a nível mundial.

Outra dimensão explorada por Eduardo Pitta neste romance é a forma como esta mesma elite se relaciona com os outros elementos da mesma sociedade que pertencem a outros grupos socioeconómicos. Ou da quase ausência dessa mesma relação, nomeadamente, com a classe média e com a classe trabalhadora, salientando o esforço titânico da elite em preservar todo um modus vivendi no sentido de evitar a “contaminação” pela infiltração de elementos estranhos àquele grupo privilegiado. Esta homogamia das elites visa, como diria o sociólogo italiano Vilfredo Paretto, exercer pressão por parte das mesmas enquanto instaladas no Poder, no sentido de evitar a ascensão de novos elementos. Um exemplo deste tipo de atitude é a reacção da secretária de Martim, face aos namorados deste, não tanto pela relação homossexual em si, mas sobretudo pelas suas origens sociais, revelando uma fortíssima xenofobia social.

Eduardo Pitta empenha-se também, nesta obra, em equiparar os cenários de duas capitais europeias, as quais encerram em si dois pólos opostos no tratamento das questões das liberdades individuais: Lisboa e Londres. Esta última, a cidade onde Martim conhece Ruppert. Lisboa encontra-se no pólo oposto de Londres, sendo esta o lugar onde impera o sensualismo, sobretudo à noite onde não há lugar a inibições e todas as formas de desejo têm o seu lugar e forma de expressão, sem haver lugar à estigmatização moralista. Este é um facto facilmente constatado por Martim, na sua ronda pelos bares da capital britânica. Neste cenário, Londres surge valorizada em relação a Lisboa unicamente porque esta última privilegia a dissimulação do desejo, sempre que este se manifesta sem se enquadrar no perfil definido ela moral judaico-cristã.

A obra de Eduardo Pitta está normalmente conotada com a corrente de pensamento denominada de neo-expressionismo, a qual se associa a um “páthos autobiográfico” onde a voz do narrador se debate com as questões ligadas à identidade sexual. Esta corrente de pensamento e expressão artística marcou sobretudo as décadas de '70 e '80, cuja eclosão se deu em consequência da insatisfação do minimalismo. Como tal, os adeptos do neo-expressionismo procuraram sobretudo resgatar a figuração, a emoção declarada, a autobiografia, a memória, a psicologia, o simbolismo e a sexualidade. A pintura é salientada nesta corrente literária como meio de expressão transversal a todas as artes, sobretudo na Literatura e no Cinema. Sofrerá, também, a influência do pós-impressionismo e do surrealismo ao debruçar-se sobre as questões traumáticas e a relação com o passado, sendo que este último elemento é fundamental no desenvolvimento da relação de Ruppert e Martim no romance de que aqui tratamos.

Cidade Proibida é, pois, um romance que tem como tema central a identidade sexual e a forma como esta questão é encarada por três gerações diferentes ao longo da trama. O objectivo é dar ao leitor uma visão panorâmica da sociedade e da forma como a mesma vê as questões da sexualidade e da mobilidade social como se de um fresco se tratasse. Nesta visão panorâmica, é ainda evidente restos do pensamento do período do Estado Novo em algumas das personagens, sobretudo em relação à temática da descolonização.

Por tudo isto, Cidade Proibida torna-se um romance fascinante mostrando o mundo em que os Portugueses vivem de uma perspectiva não convencional. Enriquecedor é sair do “quadrado”.


Cláudia de Sousa Dias

07.03.2012 – 28.03.2013

7 Comments:

Blogger M. said...

E eu fiquei com muita vontade de o ler! Gosto muito deste género de literatura com perfume "urbano" (céus, já estou a sacrilegar!).
Beijinhos, minha crítica de eleição!
Madalena

11:33 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

E tem um sensualismo muito especial!

11:46 PM  
Blogger Orlando Castro said...

A QuidNovi – Edições e Conteúdos, SA, uma empresa portuguesa sediada na Rua 10 de Junho nº 54, Aveleda – Vila do Conde, editou em 2011 uma um obra, em 16 volumes, intitulada: “Guerra Colonial - A História na Primeira Pessoa”.

Esses livros foram distribuídos por três jornais portugueses (“Jornal de Notícias” e “Diário de Notícias” em 2011) e, em 2013, pelo jornal “i”.

Os dois autores destes 16 volumes (Paulo F. Silva e Orlando Castro), apesar de a obra ter sido distribuída em 2011, continuam, ao contrário do acordado com os administradores da QuidNovi (Ricardo Afonso e Francisco Melo), sem receber milhares de euros em dívida há dois anos.

Os meus cumprimentos,

1:46 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Pois...é lamentável.


Mas o Autor do livro em questão de falo aqui no post não tem culpa nenhuma. A minha missão é divulgar os autores, a respectiva obra.

O máximo que posso fazer por si é publicar este comentário.

Pelo que sei poderá não ser caso único.

Um abraço.


CSD

3:30 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Agora com uma reedição,pela Planeta e pala mão de Ana Maria Pereirinha, a obra fica mais visível. E valorizada pelo prefácio de Fernando Pinto do Amaral.

Deixo-vos o link com a opinião do escritor José Rentes de Carvalho a qual subscrevo na íntegra.

http://tempocontado.blogspot.co.uk/2014/01/cidade-proibida.html

CSD

12:59 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

E aqui está um texto espectacular sobre a obra que eu adorava ter escrito:

http://acriticoblog.wordpress.com/2014/02/03/cidade-proibida/

1:47 AM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

E a opinião de Daniel Santos:

http://qualquercoisa.blogs.sapo.pt/cidade-proibida-19276

2:21 PM  

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