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Monday, May 30, 2005

“Pompeii” de Robert Harris (Bertrand)


Pompeia, 79 D.C., Reinado do Imperador Tito Vespasiano.

Attilius, o aquarius, é o engenheiro das águas, o funcionário imperial encarregue de zelar pelo bom funcionamento do Acqua Augusta – o principal aqueduto romano que abastece as principais cidades da Península Itálica, incluindo as da famosa Baía de Nápoles, dominada pelo Vesúvio.

Mas uma anomalia ocorrida entre Pompeia e Nola deixa todas as cidades, a partir desse ponto, sem água. Geram-se tumultos. Também o aquarius, que cuidava do aqueduto, antes de Attilius, desaparece misteriosamente.

Cabe a Attilius levar a cabo a dupla missão de reparar a avaria, depois de identificar o problema e descobrir o que aconteceu ao siciliano Exomnius, o anterior aquarius.

À medida que prossegue nas suas investigações, auxiliado pelo impressionante conhecimento científico do Almirante Plinius – o célebre naturalista romano, autor da mais famosa enciclopédia da Antiguidade, a Naturalis Historia –, o engenheiro das águas apercebe-se de toda uma série de fenómenos naturais estranhos para a época, que o vulgo de então chamava de presságios: a presença de enxofre na água, nascentes que recuam, o solo que incha, mar chão…

…e acaba por perceber, já depois de reparada a avaria, que a falta de água é apenas uma pequena parte do verdadeiro problema: o Vesúvio, tal como o Etna na Sicília, é mais uma morada de Vulcano, o deus do fogo. Que parece estar prestes a explodir de cólera (problemas com a esposa Afrodite, nascida das águas?).

Preocupado, Attilius avisa as autoridades de Pompeia, que o ignoram e fazem tudo para que o facto não seja divulgado. O engenheiro descobre, então, todo um esquema de corrupção que permite a alguns oportunistas o enriquecimento fácil graças a situações como esta. Estes necrófagos do comércio e das finanças não estão dispostos a abdicar de mais uma oportunidade de aumentar as suas, já de si, gordíssimas, nutridíssimas fortunas. Os interesses económicos falam mais alto do que a necessidade de tomar providências para salvar o maior número de vidas possível.

A tragédia abate-se sobre Pompeia e Herculanum.

“Pompeii” é um romance técnico interessante, sobretudo para quem gosta das questões da Geologia – principalmente para sismólogos e vulcanólogos – que são descritas com precisão.

O Autor exibe um saber técnico impressionante.

Por outro lado, o leitor leigo nestas questões é amplamente auxiliado pelas epígrafes no início de cada capítulo, que lhe dão a explicação técnica daquilo que se vai passar, fornecendo pistas para interpretar os fenómenos ao mesmo tempo que a personagem principal e, por vezes, permitindo mesmo antecipar-se-lhe. Estas mesmas epígrafes são retiradas de obras especializadas em vulcanologia e mostram o quanto a bibliografia utilizada pelo Autor para elaborar a obra é significativa.

O Fogo e a Água são os elementos que dominam a obra. É graças ao equilíbrio \ desequilíbrio entre estas duas forças que se processa a dinâmica do desenvolvimento do romance. Attilius é também o responsável pela qualidade da água que percorre o Acqua Augusta, a mesma água da qual depende a sobrevivência de Attilius e da sua amada a uma tragédia desta dimensão.

Um romance cujo objectivo é a transmissão de conhecimento e ao qual é adicionada uma pitada de intriga policial e um toque de paixão, intriga, poder e corrupção (para catalisar o apetite do leitor, como não podia deixar de ser).

As personagens são quase todas planas apresentando, cada uma delas, uma virtude ou um defeito que se mantém ao longo da trama: a integridade e o rigor no trabalho de Attilius; a coragem de Corelia; a corrupção, a venalidade e a vulgaridade, de Ampliatus (pai de Corelia, o equivalente ao Trimalchion de Petronio no seu “Satyricon”); a fraqueza de Popidius; a malícia de Corax; a fidelidade de Polites; o saber e a lealdade de Plinius, que incarna as virtudes da antiga república romana…

Mas a personagem principal é o Vesúvio, cujo comportamento se altera ao longo da trama, originando o quebra-cabeças que Attilius e seus aliados têm de resolver.

“Pompeii” é um livro que fala de uma das mais comentadas catástrofes naturais ao longo de toda a história da humanidade (comparada apenas ao Dilúvio no Génesis bíblico ou ao Tsunami de 6 de Janeiro último).

E também do impressionante nível de evolução tecnológica no que se refere às obras de engenharia de uma civilização que, há dois mil anos atrás, segundo Trevor Hodge, construiu uma obra que “abastecia a cidade de Roma com substancialmente mais água do que aquela que era fornecida em 1985 à cidade de Nova Iorque”.

Um trabalho impressionante dos nossos antepassados romanos.

Contudo, insuficiente para impedir a tragédia.

Porque os deuses fazem sempre questão que nos lembremos que somos apenas homens.

Cláudia de Sousa Dias

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