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Blog sobre todos os livros que eu conseguir ler! Aqui, podem procurar um livro, ler a minha opinião ou, se quiserem, deixar apenas a vossa opinião sobre algum destes livros que já tenham lido. Podem, simplesmente, sugerir um livro para que eu o leia! Fico à espera das V. sugestões e comentários! Agradeço a V. estimada visita. Boas leituras!

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Bibliomaníaca e melómana. O resto terão de descobrir por vocês!

Saturday, May 12, 2007

“Em Directo do Calvário” (O Evangelho segundo Gore Vidal) de Gore Vidal (Dom Quixote)


Uma vez que a obra em questão não se trata de um ensaio, o subtítulo deixa-nos, por si só, adivinhar o tema como sendo uma sátira social, onde se cruzam e comparam valores e estruturas socio-económicas entre duas épocas cronologicamente separadas por dois milénios de distância no tempo, se é que ele existe...

A revista
Newsweek considerou Em directo do Calvário como

«A mais escandalosa novela de Vidal…uma sistemática subversão de todos os valores excepto, evidentemente, o da inteligência, o da perspicácia e o da imaginação».

Dados biográficos:

Gore Vidal nasceu em 1925 e escreveu o seu primeiro romance quando se encontrava no estrangeiro, aquando da Segunda Guerra Mundial. Contava, então, dezanove anos.

Escreveu vários romances que se tornaram best-sellers ao longo de quatro décadas. Foi activista político, candidato pelo Partido Democrata na região norte do estado de Nova Iorque, onde obteve mais votos do que qualquer outro democrata em mais de meio século.

Durante o último quartel do século XX, abraçou a tarefa de contar a história dos estados Unidos, através das experiências vividas por uma família (Nota do Editor).

Fortemente elogiado por nomes como Gabriel García Márquez ou Ítalo Calvino, Gore Vidal obtém, ainda, em 1982, o Prémio Nacional de Crítica Literária, com a seguinte menção: «A tradição norte-americana do saber independente, motivado pela curiosidade é mantida viva pelo espírito e pelo grande poder de expressão do cristianismo em Gore Vidal».

A trama

Num extraordinário golpe de ousadia e um nível de criatividade impensável e sem precedentes, Gore Vidal transporta os leitores de Em Directo do Calvário para uma alucinante viagem no tempo, utilizando o método do teletransporte até ao século primeiro da era Cristã – época da fundação do cristianismo na Europa.

A possibilidade de colocar alguém que vive no dealbar do terceiro milénio, período crucial, que se manifesta num ponto de viragem da História não só em termos geopolíticos, mas também no âmbito do desenvolvimento tecnológico e científico que permitem alterar, de forma significativa, o passado e o presente. O que se repercute no futuro, acabando por desencadear consequências devastadoras – por exemplo, um vírus no computador que começa a efectuar alterações e a destruir os evangelhos e a alterar a História.

O protagonista é um produtor de uma importante cadeia de televisão norte-americana que pretende transmitir a crucificação em directo do Calvário.

Mas, ao efectuar a regressão a uma época passada, ele começa por contactar, juntamente com a sua equipe técnica, o apóstolo Paulo e o seu discípulo Timóteo, que viveram alguns anos depois da ocorrência da Crucificação propriamente dita e que mantêm uma relação, no mínimo, inusitada. Timóteo, de aspecto helénico e beleza alexandrina, não deixa ninguém indiferente, apesar do materialismo sibarita que rege a sua conduta, mesmo após abraçar, nomeado por Paulo, a sua função de bispo cristão. Já Paulo é o calculismo em pessoa que gere os donativos à Igreja com o talento para a usura de um típico banqueiro judeu.

A que se junta o seu talento como orador e capacidades histriónicas para conseguir angariar novos fiéis, a fazer lembrar alguns líderes evangélicos dos nossos dias...

O sentido crítico, a pertinência da análise comparativa da política, da economia e do tecido social, de duas civilizações tão díspares como as de Roma e da Judeia, conferem um novo olhar, uma nova perspectiva, impregnada de um realismo nu e cru, quase que forçam a uma visão mais ampla do desenvolvimento da História da Europa e do Médio Oriente, ao longo dos dois últimos milénios.

A luta pelas audiências entre duas cadeias de televisão através da disputa pela exclusividade da filmagem de Em Directo do Calvário, leva à tentação irresistível de interferir no curso do rio da História e alterar, de forma radical, o rumo dos acontecimentos…

A cena do jardim de Getsémani adquire, então contornos impensáveis, de uma audácia sem limites, onde a principal personagem dos Evangelhos revela algumas facetas completamente desconhecidas da sua personalidade…

A verdade é forjada por um Lúcifer, vindo da nossa era, de forma a lançar a confusão, a dissimulação e a distorção dos factos, ao construir uma verdade aparente, apoteótica, dissimulada à velocidade da luz através de uma pequena caixa quadrada: a televisão.

O resultado reflecte-se no desaparecimento dos documentos originais e na alteração dos textos devido a um vírus informático, colocado propositadamente por alguém com intenções obscuras, na unidade central de processamento de uma rede de computadores. As consequências mais imediatas são a insegurança crescente no planeta, em pleno século XXI, pela alimentação constante de posições extremistas a antagónicas entre duas formas opostas de estar no mundo: o laicismo e a teocracia.

Em Directo do Calvário acaba por ser, na realidade, uma fortíssima crítica implícita ao Partido Republicano e ao apoio dos EUA ao sionismo que, por vezes, leva à tomada de decisões políticas que aumentam a clivagem entre Oriente e Ocidente, colocando em risco a segurança do Planeta.

A análise de Vidal é fria, crua e sem qualquer apego a valores civilizacionais. A escrita é marcadamente irónica, terrena, cheia de sarcasmo, de uma virilidade destituída de devaneios e conflitos existenciais, denotando uma mente de espírito prático, sem vestígios de ambição de atingir a perfeição espiritual.

Vidal utiliza abundantemente o vernáculo na escrita, com a intenção de desferir uma estocada definitiva no véu da ignorância nas massas ideologicamente dependentes de gurus que lançam o conflito com o único objectivo de dividir para reinar.

O cinismo nihilista aplicado à Antiguidade, com o qual o Autor constrói a caracterização de personagens como Nero, Petroneo, Timóteo ou Paulo só se pode comparar com a forma virulenta com que tece as suas críticas à sociedade mediatizada dos tempos modernos.

Um romance onde a inteligência, o pensamento critico e, nas entrelinhas, a moderação ideológica, são os deuses supremos a serem colocados no pedestal do templo que é o cérebro humano, de forma a tornar possível a coexistência a nível global.

Um livro apelativo, porque estimulante do pensamento, da capacidade de raciocínio da Dúvida.

Incómodo por chocar com os mais profundos dogmas e ideias pré-concebidas.

E, por isso, de leitura compulsiva e indispensável aos amantes do saber.


Cláudia de Sousa Dias


Cláudia Sousa Dias

20 Comments:

Blogger o alquimista said...

Os teus olhos estão repletos de palavras, são imenso oceano de profundo sentir, guardam a mágoa, a esperança que te impedem o partir, olhos que vêm para além do infinito...

Boa semana

Doce beijo

7:20 PM  
Blogger P said...

Cláudia,
Obrigado pelo estimulante comentário que deixaste no meu post de 5 de maio. Ainda que não haja em mim ambição, nem me reconheça qualidade literária (até porque não me compete fazê-lo), é muito compensador saber que aquilo que escrevo, como uma necessidade, não deixe algumas pessoas indiferente. Obrigado
(e obrigado pelo teu blog!)

10:32 PM  
Blogger Toutinegra Futurista said...

Sei que sou pouco regular mas não prescindo de deixar um cumprimento especial à Cláudia!
Excelente livro. Lido e terminado!

11:32 PM  
Blogger Isabel Victor said...

Leio-te como sempre, com vontade de entrar dentro do livro que descreves ou fugir com ele debaixo do braço, mas ...
fico-me pelas intenções

Deixo-te um beijo de boa vizinhança

11:52 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Obrigada Alquimista!

És um verdadeiro feiticeiro!

Baudolino, o que eu disse é sentidíssimo os teus poemas têm, de facto qualidade literária para dar e vender: aliás eu já fiz uma pequena seleção dos poetas da blogosfera que, no meu entender, mereciam ser publicados. Não em edições de autor mas em edições que cheguem de facto aos leitores dos quatro cantos do país: Lilly Rose, Elipse, Baudolino, Nilson, Un Dress, Inominável, Pedro Ribeiro - o Xamã - Ai!
de certeza que me estoua esquecer de mais uns quantos que depois vou ficar com pena de não me ter lembrado...! Fora aqueles que escrevem prosa-ficção, de altíssima qualidade:Bastet, JP,Maria Heli, a minha caríssima toutinegra comas suas viagens pelo mundo...

POr falar em ti, Toutinegra, ainda bem que gostaste do Vidal!Inicialmente fiquei com a cabeça à roda pela introdução de tanto novos elementos da nossa era na época em questão!

Já me tinha lembrado, antes de ler o Vidal de fazer um romance histórico tentando imaginar como se sairia Júlio Cesar se tivesse ao seu dispor as tecnologias dos dias de hoje: telemóvel, internet, helicópteros para comandar as tropas...

Isabel, tenho a certeza que um dia chegará a tua vez - umas férias grandes, por exemplo, enquanto que eu vou estar a trabalhar 54 h por dia sem ter tempo par ler uma linha que seja!

Um beijo a todos!

CSD

11:02 AM  
Blogger Miss Alcor said...

Bem, este é mesmo escolhidinho a pensar em mim!
Adorei! E não conhecia! Quando tiver oportunidade, aqui vou eu comprá-lo!

2:26 PM  
Blogger Flávia Criola said...

Olha lindsa, não sei como, mas o meu nome no display passou a ser flávia...

Não sei o que é que se passa...


CSD

2:29 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Acho que já resolvi o problema!

Não sei é como é que essa flávia entrou no meu blog!

CSD

2:31 PM  
Blogger un dress said...

ai cláudia...escreves de modo que tenho que ficar a saborear lentamente as palavras.

e depois, fico a conhecer os livros.

não posso lê-los, é certo, mas fico lá dentro nas tuas palavras. na tua leitura!! que é um diverso modo de leitura.

no que respeita ao que escreveste lá em casa, a resposta é sim. sim... :)


beijO*

6:36 PM  
Blogger Silence Storm said...

Gore Vidal, uma voz dissonante que deveria ser ouvida mas para a qual, confesso, nunca tive grande pachorra...

2:40 PM  
Blogger Nilson Barcelli said...

Cláudia, escreve lá esse romance do Júlio César com acesso às novas tecnologias. Parece ser uma boa ideia...
Obrigado por me teres incluído na tua short list. Não sei se mereço, mas agradeço-te reconhecido.
A análise que fazes deste livro, como habitualmente, só dá vontade de ir a correr a uma livraria comprá-lo.
Beijos.

11:17 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Não sei se nem quando isso vai ser...!

Mas vou poderar a sugestão...!

E fazer muita pesqueisa...


Beijo


CSD

1:54 PM  
Anonymous Anonymous said...

De blog em blog, cheguei aqui. Constacto com muito agrado que partilhamos a mesma profissão e o gosto pela escrita. O meu traduzido na tentativa de "poetar", o teu na crítica literária que, pelo que pude verificar, é de excelente qualidade.

Voltarei com mais tempo para me dedicar a ler com atenção as sugestões que nos trazes. Até lá deixo-te o meu abraço e o convite a que me visites nos meus espaços.

Excelente fim de semana.


Mel de Carvalho
in
www.noitedemel.blogs.sapo.pt
www.maresiademel.blogs.sapo.pt

3:01 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Manuel logo que possível conta com a minha visita!

Talvez ainda hoje...

Logo depois de eu postar mais um pequeno texto no Arabie...

Um abraço


CSd

3:34 PM  
Blogger Isabel Victor said...

vim à procura de novidades ... de ler pelos teus olhos (preguiçosamente)

mas ...
deixo-te um beijo de boa noite

2:27 AM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Ontem tive um casamento...

Entre amanhã e terça...

AAmanhã de manhã passo a computador e à tardinha já devo ter postado...


Se tudo correr bem...


CSD

9:02 PM  
Blogger jp(JoanaPestana) said...

:)*

9:29 PM  
Blogger Rui leprechaun said...

Mas que Senhora culta e sábia tão cheia de vida...

...e ainda linda e querida...

...de todos apetecida! :)

Olha, nem vai muito a propósito desse livro que comentas e não li, mas já que o tema até é religioso e também falas aqui de poesia, deixo-te um excerto do "Hino a Ísis", que faz parte dos manuscritos egípcios de Nag Hammadi, descobertos em 1945.

Porque eu sou a primeira e a última
Eu sou a venerada e a desprezada
Eu sou a prostituta e a santa
Eu sou a esposa e a virgem
Eu sou a mãe e a filha
Eu sou os braços de minha mãe
Eu sou a estéril, e numerosos são meus filhos
Eu sou a bem-casada e a solteira
Eu sou a que dá à luz e a que jamais procriou
Eu sou a consolação das dores do parto
Eu sou a esposa e o esposo
E foi meu homem quem me criou
Eu sou a mãe do meu pai
Sou a irmã de meu marido
E ele é o meu filho rejeitado
Respeitem-me sempre
Porque eu sou a escandalosa e a magnífica

1:29 AM  
Blogger Isabel said...

Querida Claudia fico verdadeira, genuinamente impressionada com a tua capacidade de fazer critica literária.
Não é fácil e tu consegues fazer uma análise completa, com todos os componentes de uma critica literária de boa qualidade e ainda mais um pózinhos de pre-lim-pim-pim que são a tua personalidade e a tua sensibilidade a falar.
Neste momento estou a ler "Kafka à beira mar" de Haruki Murakami, e estou completamente entregue e deslumbrada com a escrita mas este parece-me muito o meu tipo de livro... gosto de livros incómodos e qua me façam pensar.
Por vezes são apenas incómodos e vendem por isso, a tua critica faz-me crer que este é mais que isto.
Já consta da minha lista.

Um enorme beijinho

Isabel

11:07 AM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Gnomo leprechaun, obrigada pelo poema.

Isabel,fico contente de ter despertado o interesse por Gore Vidal.

Mukarami, já ando há algum tempo para comprar, mas estou à espera dos preços mais apetecíveis da feira do livro...

Um beijo grande


CSD

11:33 AM  

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