“Gineceu” de Cristina Nobre Soares (Papiro)
Um livro de short sories, contadas no feminino e editadas a partir da pré-publicação no blogue.
As estórias de Cristina Nobre Soares têm como protagonistas mulheres do povo, ou de origens humildes, cujo quotidiano e interesses são confinados ao espaço doméstico. De onde decorre uma certa incapacidade de conseguirem olhar de forma mais abrangente o mundo que as rodeia, isto é, fora da sua esfera de interesses mais imediatos.
Quase todas vêem no casamento (excepto, talvez a filha da protagonista da primeira estória) a porta de saída para os problemas económicos e o portal de entrada para a vida adulta, ou seja, fora da alçada dos pais ou da família de orientação. O casamento e o espaço doméstico – o gineceu – é o local para onde tentam evadir-se de um quotidiano de pobreza, tanto material quanto de espírito. Trata-se, no entanto, de uma libertação que acaba, quase sempre, por se revelar um equívoco e conduzir a uma vida de prisão, limitações e quando não mesmo a uma escravidão socialmente consentida, sobretudo quando não se possui habilitações que permitam maior flexibilidade na procura de emprego. Seguindo esta linha de raciocínio,pode-se ler este “Gineceu” como uma fotografia que caracteriza o Portugal, não só do Estado Novo, mas do século XX, já na transição para o século XXI e primeira década do novo milénio: o Portugal pequenino e mesquinho (característica que engloba ambos os géneros, embora a Autora só se refira directamente ao feminino) onde as mulheres são quase sempre as servas e nunca as senhoras (dominae).
A ideia está patente na cisão – poder-se-á mesmo dizer divórcio entre mentalidade feminina e masculina, inclusive nas gerações mais jovens, nas quais,rapazes e raparigas parecem ter sido objecto de inculcação dos mesmos estereótipos e preconceitos de gerações anteriores.
No“Gineceu” designação atribuída aos aposentos destinados exclusivamente às mulheres na Grécia Antiga) de Cristina Nobre Soares, destaca-se a criatividade e enquadramento histórico, na primeira estória, a qual recria os acontecimentos de um 25 de Abril de1974 como uma lufada de ar fresco a aliviar um apertadíssimo e sufocante espartilho de restrições a que a ausência de independência económica vota o género feminino.
Uma fracção de luz, no obscurantismo secular de uma cultura oitocentista.
Cláudia de Sousa Dias
As estórias de Cristina Nobre Soares têm como protagonistas mulheres do povo, ou de origens humildes, cujo quotidiano e interesses são confinados ao espaço doméstico. De onde decorre uma certa incapacidade de conseguirem olhar de forma mais abrangente o mundo que as rodeia, isto é, fora da sua esfera de interesses mais imediatos.
Quase todas vêem no casamento (excepto, talvez a filha da protagonista da primeira estória) a porta de saída para os problemas económicos e o portal de entrada para a vida adulta, ou seja, fora da alçada dos pais ou da família de orientação. O casamento e o espaço doméstico – o gineceu – é o local para onde tentam evadir-se de um quotidiano de pobreza, tanto material quanto de espírito. Trata-se, no entanto, de uma libertação que acaba, quase sempre, por se revelar um equívoco e conduzir a uma vida de prisão, limitações e quando não mesmo a uma escravidão socialmente consentida, sobretudo quando não se possui habilitações que permitam maior flexibilidade na procura de emprego. Seguindo esta linha de raciocínio,pode-se ler este “Gineceu” como uma fotografia que caracteriza o Portugal, não só do Estado Novo, mas do século XX, já na transição para o século XXI e primeira década do novo milénio: o Portugal pequenino e mesquinho (característica que engloba ambos os géneros, embora a Autora só se refira directamente ao feminino) onde as mulheres são quase sempre as servas e nunca as senhoras (dominae).
A ideia está patente na cisão – poder-se-á mesmo dizer divórcio entre mentalidade feminina e masculina, inclusive nas gerações mais jovens, nas quais,rapazes e raparigas parecem ter sido objecto de inculcação dos mesmos estereótipos e preconceitos de gerações anteriores.
No“Gineceu” designação atribuída aos aposentos destinados exclusivamente às mulheres na Grécia Antiga) de Cristina Nobre Soares, destaca-se a criatividade e enquadramento histórico, na primeira estória, a qual recria os acontecimentos de um 25 de Abril de1974 como uma lufada de ar fresco a aliviar um apertadíssimo e sufocante espartilho de restrições a que a ausência de independência económica vota o género feminino.
Uma fracção de luz, no obscurantismo secular de uma cultura oitocentista.
Cláudia de Sousa Dias
9 Comments:
Vou lê-lo de certeza.
Boa semana.
beijinhos
obrigada, Maria.
;-)
para ti também
beijos
csd
Nice blog.
!
Tenho-o. E, facilmente faria minhas, as palavras da CSD.
muito obrigada LN e Spectrum.
abraço.
csd
uma constipação demolidora não me deixou ir à apresentação. Nem encontrei ainda o livro.
Passei para te ler :)
Beijinhos
T.
obrigada, Teresa!
um grande bdeijinho.
csd
Vou procurar ...
iv
ok...fica feita a divulgação.
csd
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