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Tuesday, August 23, 2011

“Animal Volátil” de Rosa Alice Branco e Casimiro de Brito (Edições Afrontamento)



Animal Volátil nasceu de um desafio que se traduziu numa troca de emails entre ambos os Autores, de onde emergiu um diálogo poético sobre o amor, a solidão e a morte, enquadrados numa paisagem outonal e de luz crepuscular, que em tudo faz lembrar a paz dos campos elísios.

Emoções como a saudade e a nostalgia afloram à pele, evocando a Memória, tecendo quadros de rara beleza.

O teor do diálogo ressalta e entroniza a Amizade a partir da qual o amor pelas letras e pelas palavras apela à exploração das mais diversas facetas da vida, desmontando tabus e, sobretudo, esse tema tão complexo e rico: o amor. Este, é aqui discutido, debatido, recordado, pintado
nos seus múltiplos desdobramentos: o amor-amizade, o amor-romântico, o amor filial, o
companheirismo no amor e, claro, o Eros.

Os diálogos são sempre pautados por uma grande beleza imagética, projectando quadros tranquilos, de uma serena luminosidade, dourada e tépida, deixando entrever um estado de espírito no qual domina a disposição em disfrutar da tranquilidade de um Jardim da Hespérides, após o tempo instável e tumultuoso de um verão emocional, marcado por abruptas oscilações.

Os poemas são compostos essencialmente pela beleza arcádica, pautada pelo forte sentido de harmonia estética de ambos os autores, esperando serem desvendados por todos aqueles que amam e partilham da poesia no quotidiano…


“O poema, tal como a amizade, é uma coisa animal: há um momento em que nasce não se sabe o quê, uma gota, uma sílaba furtiva que depois se desenvolve, se vertebra, vértebras quase invisíveis que se cruzam em vias labirínticas e não se sabe muito bem que caminhos ou descaminhos seguem, mas levam a algum lugar, a alguma coisa."

Casimiro de Brito sobre Animal Volátil

Para Rosa Alice Branco, a Poesia é, ela própria, a essência do animal volátil de que trata este belíssimo diálogo poético.

Deixo-vos com três poesias extraídas deste "Animal" que se materializa e volatiliza a duas vozes e quatro mãos.


Animal Volátil


Animal andrógino que dança


até à morte, a mais volátil, a do jardim


das delícias.


(pág. 9)



Longe das Abelhas



As palavras são mais do que palavras


e menos peso


por isso sobem a montanha com se descessem


a linha dos juncos e dos choupos


e veio de ar a linha de água.



Está tudo intacto a própria certeza se mantém


no horizonte onde a terra toca o corpo


e quando a chuva cai a beleza penetra-a


e faz caminhos


nos caminhos


onde a gravidade não tem peso e a língua


se esquiva à vigilância do pensamento.



As palavras não ocupam o espaço interior


qua as consome ou o tempo


mais cedo que as deseja.


Mas há formas entre elas no vazio onde respiro


o teu poema


com os ossos leves


e o pulso delicado de um animal.


(pág. 12)



A Alegria dos Pés na Terra Molhada



Quando as palavras se deixam possuir


como se fossem raízes e ossos leves que trepam


à montanha


ouço a infância, o som do berlinde, a flauta


do anjo anunciador da chuva


e a formiga da mãe a enxotar-me


para a escola onde aprendi


a ler no quadro da janela


as metamorfoses do céu. A poesia escreve-se


copiando os mestres, imitando mal


as fontes naturais: as patas


da água


descendo pela serra, a melopeia silenciosa


do azeite; a boca do vento


nas telhas da velha casa


do monte, a chama interior


dos cavalos


e dos cães da família: de manhã


pela mão do avô


eu partia de visita às árvores


e aos pássaros - esta é uma cerejeira, aquela,


a dona nogueira, olha


um picanço! a que parece muito cansada


é a figueira, Vamos comer um? O avô


pegava nele como se fosse um animalzinho


acabado de nascer, um pássaro com pétalas e já morto


na boca sedenta e logo


saciada. Um figo é uma


dádiva do sol e da terra e da nossa


humilde fome, e tudo são figos, ah não comas,


não comas nunca nada


sem fome. Ouço -


aprendo nesses dias a ouvir


o melhor da infância: água


na língua


quando a morte é gémea


e se aproxima.



(págs. 13-14)



Cláudia de Sousa Dias

17.06.2011

2 Comments:

Blogger M. said...

Muito interessante essa forma de composição!
Beijinhos,
Madalena

11:46 AM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

E lindíssimos poemas para recitares...mais logo coloco um ou dois para veres...


bj


csd

12:25 PM  

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