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Friday, April 01, 2005

"Seraglio" de Janet Wallach (Fio da Navalha)


“Seraglio” é um romance histórico que relata a vida de Aimée du Buc de Rivery, filha de um aristocrata latifundiário da Martinica, prima de Josefina Bonaparte. Aimée foi, durante uma travessia no Mediterrâneo, capturada por corsários argelinos quando tinha apenas 13 anos e entregue ao bei da Argélia que a ofereceu como presente ao sultão Abdul Hamid, o imperador otomano.

A Autora pretendia, inicialmente, elaborar uma biografia da jovem, mas durante a sua estada na Turquia, onde efectuou a maior parte das suas pesquisas para a obra, decidiu , dada a quantidade de elementos romanescos aí encontrados, optar pelo romance histórico.

É então que Wallach, já dentro do domínio da ficção, começa por proporcionar um encontro entre um padre católico e o chefe dos eunucos negros do harém – Tulipa, o devotadíssimo servo da rainha-mãe.

Tulipa faz uma entrada triunfal em cena requisitando, sem deixar margem para qualquer tipo de recusa, o espantadíssimo padre Crisóstomo para uma entrevista forçada com a sultana moribunda, Aimée-Nakshidil, mãe adoptiva do sultão Mahmud.

Após a extrema-unção concedida à sultana, o eunuco tem um prolongado desabafo com o padre, durante o qual irá desfiar os episódios da atribulada vida da recém-falecida sultana: o rapto, o ultraje do exame para venda, a sua chegada ao harém, as dificuldades de adaptação – que implicam a aprendizagem de outra cultura e o esquecimento de toda a sua vida anterior -, as rivalidades, a competição e a inveja - , despoletadas, pelo seu aspecto físico tipicamente europeu – e, por fim, a ascensão ao poder depois de tornar-se a toda-poderosa sultana valide – a mãe adoptiva do sultão Mahmud e a única mulher em quem este pode confiar.

Paralelamente à vida romanesca daquela que se supõe ser Aimée du Buc de Rivery (hipótese que parece confirmar-se pelos registos de uma conversa que terá tido lugar entre Napoleão III e o sultão Mahmud aquando da visita deste último a Paris e durante a qual terá confidenciado ao chefe de estado francês que as suas avós eram parentes), a Autora dá-nos a conhecer as convulsões históricas que afectaram as relações entre o Império Otomano e o ocidente e, por conseguinte, entre o sultão e a sua concubina de origem francesa.

O Império Otomano é uma peça fundamental no complexo jogo do xadrez euro-asiático, funcionando como um pêndulo no intrincado jogo de interesses entre a França e a Inglaterra ou entre a Rússia e o Império Austro-Húngaro.

Todos estes condicionalismos afectam, obviamente, a vida da jovem dentro do ninho de víboras que é o harém otomano, tornando-a vulnerável à inveja e às intrigas palacianas. Intrigas essas que, aliadas à revolta dos Janízaros (a guarda pessoal do sultão), instigados pelos líderes religiosos fundamentalistas, ajudam a minar a estabilidade e a coesão do império.

O estilo de Janet Wallach é simples, maioritariamente denotativo, com uma estrutura narrativa clássica, na qual o narrador participante efectua uma regressão ao passado, contando a história ao seu interlocutor.

Quanto às personagens, temos uma heroína típica – Aimée ou Nakshidil – uma mulher que consegue ascender ao topo da hierarquia feminina pelas suas qualidades pessoais; uma vilã ou anti-heroína – Aisha – nome e aspecto de mulher-fatal ou mulher demónio segundo a tradição árabe., manipuladora, sem qualquer tipo de escrúpulos e que não olha a meios para atingir os seus fins; Tulipa, o aliado de Aimée, detentor de uma fidelidade absoluta; e os restantes homens possuidores de uma característica comum – a volubilidade em relação às mulheres para os quais elas são simples objectos. O papel da maternidade é exaltado em detrimento da sensualidade, devido à necessidade de gerar herdeiros que garantam a continuidade do império.

O harém era, na época, encarado como um refúgio para as jovens oriundas de famílias desfavorecidas e onde uma vida de pobreza e privações era de bom grado trocada por uma existência de luxo e solidão.

Wallach explora, socorrendo-se de documentos históricos e entrevistas, o mundo misterioso e desconhecido da sexualidade dos eunucos e das bizarras ligações ocorridas no mundo secreto, proibido e misterioso do harém.

Um retrato, simultaneamente, romântico e cruel de um estilo de vida num império desaparecido.

Para quem gosta de viajar no passado.

E não só.

Cláudia de Sousa Dias

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

AMEI ESTE LIVRO E AMEI A TUA CRÍTICA. PARABENS PELO BLOG
SANDRA

7:39 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Obrigada e espero ver-te por cá mais vezes!

Bjs!

5:39 PM  

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