“A Rapariga das laranjas” de Jostein Gaarder (Presença)
A beleza dos contos nórdicos está presente em mais uma estória do célebre autor norueguês relacionada com o tema da Morte.
Trata-se de um diálogo entre pai e filho post mortem, uma montagem semelhante ao mix de Nathalie Cole e Nat King Cole – Unforgetable.
O objectivo é o preenchimento da memória paterna, a recuperação do passado, das origens, por parte de um filho cujo pai não teve a oportunidade de acompanhar o seu crescimento.
Após a visita dos avós paternos de Georg Roed, este fica na posse de uma carta da autoria do seu próprio pai, acabada poucos dias antes da sua morte, onze anos antes. Nela, Jan Olav, relata uma bela história de amor, envolvendo uma misteriosa rapariga que parece nutrir um fascínio especial por laranjas…
A arquitectura do romance baseia-se, como já foi referido, numa montagem de duas histórias paralelas, contadas por dois narradores diferentes em duas épocas distintas.
A actualidade, onde se situa o jovem Georg, incide sobre as angústias típicas do adolescente. O choque causado pela descoberta da carta do pai, do qual não tem qualquer vestígio de memória visual, excepto em fotografias, o desvendar da personalidade paterna, através das emoções implícitas no seu discurso, juntamente com a angústia profunda de alguém cuja missão ficou apenas parcialmente cumprida.
Por outro lado, a história de Jan Olav, pai de Georg, é um conto epistolar de grande beleza, cuja narrativa se situa no início dos anos noventa do século vinte, altura da sua morte.
Este segundo narrador aproveita, ainda, para fazer uma regressão de algumas décadas com o intuito de contar o início da história de amor envolvendo a rapariga das laranjas…
À medida que o conto se desenvolve, a identidade da jovem vai sendo, progressivamente, revelada mostrando-se alguém muito próximo de Georg…
O discurso deste segundo narrador deixa adivinhar uma personalidade dotada de grande sensibilidade, um ser que atribui uma extrema importância aos afectos.
O tema da morte é recorrente em Jostein Gaarder, um eco da temática abordada em A Vida é Breve e O Enigma e o Espelho. Em A Rapariga das Laranjas há, também, uma fuga temporária às terras do sul: um curto exílio em Espanha – o país das laranjas – que, tal como o interregno na Grécia em O Enigma e o Espelho, nada mais é do que uma fuga temporária para escapar ao abraço gelado da Morte.
Há, neste episódio, uma nítida intertextualidade com o mito de Eros e Psique e com as personagens e situações presentes nos contos de fadas: o acesso à felicidade implica o cumprimento de regras prescritas pelos deuses ou pelas fadas.
A infracção das regras condiciona o acesso à felicidade.
As regras foram parcialmente infringidas. Logo, a felicidade é de curta duração.
Um dos aspectos mais interessantes da obra é a constatação da evolução tanto da situação política internacional como do progresso científico, permitindo ao leitor tomar consciência do profundo abismo e da transformação radical da forma de ver e de estar no mundo, impulsionada pelo considerável avanço tecnológico ocorrido no período que medeia o início dos anos 90 do século XX e os primeiros anos do novo milénio.
Utilizando uma linguagem acessível ao leitor médio, o Autor convida os seus leitores à reflexão, estimulando o gosto pelo Conhecimento.
A Rapariga das Laranjas é um livro que desperta a curiosidade em ultrapassar a fronteira entre os mundos e a viajar pelo universo até à origem do cosmos pela voz de um personagem que sabe que a sua actividade cerebral irá terminar a qualquer momento, ou seja, antes de compreender a totalidade.
Ou seja, sem acabar a leitura do grande Livro da Vida e da evolução do Universo.
Será a vida um eterno recomeço? Ou a Morte o fim definitivo?
Irresistível, tal como o mais antigo enigma que afecta a humanidade.
Cláudia de Sousa Dias
Trata-se de um diálogo entre pai e filho post mortem, uma montagem semelhante ao mix de Nathalie Cole e Nat King Cole – Unforgetable.
O objectivo é o preenchimento da memória paterna, a recuperação do passado, das origens, por parte de um filho cujo pai não teve a oportunidade de acompanhar o seu crescimento.
Após a visita dos avós paternos de Georg Roed, este fica na posse de uma carta da autoria do seu próprio pai, acabada poucos dias antes da sua morte, onze anos antes. Nela, Jan Olav, relata uma bela história de amor, envolvendo uma misteriosa rapariga que parece nutrir um fascínio especial por laranjas…
A arquitectura do romance baseia-se, como já foi referido, numa montagem de duas histórias paralelas, contadas por dois narradores diferentes em duas épocas distintas.
A actualidade, onde se situa o jovem Georg, incide sobre as angústias típicas do adolescente. O choque causado pela descoberta da carta do pai, do qual não tem qualquer vestígio de memória visual, excepto em fotografias, o desvendar da personalidade paterna, através das emoções implícitas no seu discurso, juntamente com a angústia profunda de alguém cuja missão ficou apenas parcialmente cumprida.
Por outro lado, a história de Jan Olav, pai de Georg, é um conto epistolar de grande beleza, cuja narrativa se situa no início dos anos noventa do século vinte, altura da sua morte.
Este segundo narrador aproveita, ainda, para fazer uma regressão de algumas décadas com o intuito de contar o início da história de amor envolvendo a rapariga das laranjas…
À medida que o conto se desenvolve, a identidade da jovem vai sendo, progressivamente, revelada mostrando-se alguém muito próximo de Georg…
O discurso deste segundo narrador deixa adivinhar uma personalidade dotada de grande sensibilidade, um ser que atribui uma extrema importância aos afectos.
O tema da morte é recorrente em Jostein Gaarder, um eco da temática abordada em A Vida é Breve e O Enigma e o Espelho. Em A Rapariga das Laranjas há, também, uma fuga temporária às terras do sul: um curto exílio em Espanha – o país das laranjas – que, tal como o interregno na Grécia em O Enigma e o Espelho, nada mais é do que uma fuga temporária para escapar ao abraço gelado da Morte.
Há, neste episódio, uma nítida intertextualidade com o mito de Eros e Psique e com as personagens e situações presentes nos contos de fadas: o acesso à felicidade implica o cumprimento de regras prescritas pelos deuses ou pelas fadas.
A infracção das regras condiciona o acesso à felicidade.
As regras foram parcialmente infringidas. Logo, a felicidade é de curta duração.
Um dos aspectos mais interessantes da obra é a constatação da evolução tanto da situação política internacional como do progresso científico, permitindo ao leitor tomar consciência do profundo abismo e da transformação radical da forma de ver e de estar no mundo, impulsionada pelo considerável avanço tecnológico ocorrido no período que medeia o início dos anos 90 do século XX e os primeiros anos do novo milénio.
Utilizando uma linguagem acessível ao leitor médio, o Autor convida os seus leitores à reflexão, estimulando o gosto pelo Conhecimento.
A Rapariga das Laranjas é um livro que desperta a curiosidade em ultrapassar a fronteira entre os mundos e a viajar pelo universo até à origem do cosmos pela voz de um personagem que sabe que a sua actividade cerebral irá terminar a qualquer momento, ou seja, antes de compreender a totalidade.
Ou seja, sem acabar a leitura do grande Livro da Vida e da evolução do Universo.
Será a vida um eterno recomeço? Ou a Morte o fim definitivo?
Irresistível, tal como o mais antigo enigma que afecta a humanidade.
Cláudia de Sousa Dias
10 Comments:
Este não conheço. Não prometo para já (há uma fila à espera... e alguns urgentes porque são de trabalho) mas vou lê-lo
Deixo beijos.
Obrigada Palavrinhas e um optimo Natal, para ti e para os teus!
Beijo grande!
CSD
pá, onde tens tu o mail que te quero enviar um postal diferenciado,cheio de tiques e taques, e coisa e tal e bagos de uva, e ando por aqui à nora, e detesto vir para aqui dizer que tenhas festas e coisas boas,e abraços e bolos, e afectos gloriosos, e lágrimas de encontros felizes,e um serão de lareira e ponche e tudo...páassimnãovalepá!!
e ainda não li esse,mas vou ler
e beijos
Feliz Natal para todos.
bj.
:)
JP, o meu mail é: claudia_sousa_dias@hotmail.com
Também te desejo tudo isso e também uma entrada no novo ano com molta passione!
baci a te e a Gianni!
CSD
Super Feliz Quente Doce Natal para ti Claudia!
e um Beijo grande
Baci anche per te, Diva mea!
CSD
Olá!... bem eu vou deixar aqui a minha sugestão: ''Os filhos da droga'' já leste??
Estou a ler agora esse livro e está sinceramente a ser emocionante!
Será que alguém me recomenda outro livro bom deste autor?
BJs *
a rapariga das laranjas é o livro mais bonito que ja li, e apesar de so ter 15 anos ja li livros muito bons :')
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