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Tuesday, August 02, 2005

"Celtika" de Robert Holdstock (Contemporânea – Publicações Europa-América)


A civilização celta é o cenário cultural onde se desenrola o epílogo da história de Jasão e Medeia. Trata-se de uma tragédia que envolve paixão, traição, ciúme e vingança, retirada de uma das mais apaixonantes lendas da tradição grega e que prossegue, setecentos anos depois, com um único objectivo: recuperar o passado, resgatar a felicidade roubada.

Robert Hodstock elabora uma trama na qual as personagens que estiveram envolvidas na corrida ao Velo de Ouro, em plena Idade do Bronze, permaneceram como que encantadas, suspensas no Tempo, ao longo de sete séculos.

Um dos aliados de Jasão, o Argonauta, é o visionário Antíoco que, alguns séculos mais tarde, será o Mago Merlim, mentor do Rei Artur.

O feiticeiro reencarna várias vezes, em diferentes épocas da História, ampliando, de uma forma exponencial, a riqueza e o dinamismo do romance. Ao identificarmo-nos com Antíoco/Merlim ficamos com a sensação de imortalidade. O Tempo torna-se irrelevante, porque a morte é aqui encarada não como o fim, mas apenas como uma mudança de ciclo.

As personagens oriundas do mundo helénico movimentam-se num mundo onírico, situado no limiar do sonho e da realidade.

Merlim ou Antíoco irá, então, resgatar o herói grego do Sono da Morte no fundo do Lago que Grita, na Escandinávia, a região a que os antigos chamavam de Terra dos Hiperbóreos.

Neste passeio pelo supra-real, que nos faz transitar de época para época, de cultura para cultura, deparamo-nos com muitas situações, aparentemente insólitas, mas que remetem claramente para a teoria freudiana do inconsciente, da qual Holdstock se serve para enriquecer ainda mais a trama que constitui o romance.

A procura das motivações mais profundas que orientam o comportamento humano, a Esperança como o último alento de energia, escondida no fundo da caixinha de Pandora que é a mente humana, e nos impulsiona a agir, fazem com que o herói de Iolcos reúna as forças que já não tem para sair do Hades, do Reino das Sombras. É desta forma que enfrenta a depressão ultrapassando o trauma saindo vitorioso na luta contra o Desespero.

Merlim ocupa-se de sondar, estimular e trazer à superfície o último fio de esperança em Jasão, arrancando-o da inconsciência, do limbo onde jaz debaixo da superfície gelada do Lago que Grita, imune à passagem dos séculos, trazendo-o de volta à consciência e à razão. O acordar da morte gelada do Argonauta encontra sentido nas crenças druidas nas quais se insere a cultura de Merlim.

“Celtika”é um livro de forte sincretismo cultural e religioso que integra várias etapas da História que serviram para consolidar a cultura Europeia.

A reconstrução do navio “Argo” é disso exemplo pela junção da tecnologia celta, viking e grega da Idade do Bronze.

Uma viagem por terra e mar, através da Europa, povoada de seres hostis, humanos e sobrenaturais.

Com esta obra, Autor pretende, sobretudo, mostrar que há uma chave para a desumanização em personagens como Merlim, Jasão ou Medeia: as paixões incontroláveis e destrutivas como o ódio, a posse ou o medo de perder algo de precioso e raro que não se obtem facilmente: o Amor na sua forma mais perfeita.

Quando as paixões ultrapassam os limites da ética, provocando as Fúrias, gera-se uma espiral de violência que leva sempre à intervenção de Némesis, a deusa da Justiça Punitiva, cuja função é a de recolocar sempre as coisas no seu devido lugar.

A paixão recalcada também acaba por se revelar como portadora de armadilhas expressas na contradição dever/ querer ou sentir.

Mas o tema central da história é algo de extremamente actual que apesar das alterações culturais que a relação entre os sexos foi sofrendo ao longo da História, sempre afectou a humanidade: qual o destino a dar aos filhos de um casal quando, findo o amor, se impõe a quebra do vínculo conjugal? E quais os limites do ódio, do despeito que leva um cônjuge a magoar o outro utilizando os próprios filhos para o efeito?

Uma questão que preocupa a humanidade há já alguns milénios…

Um drama imune ao próprio tempo.


Cláudia de Sousa Dias

5 Comments:

Blogger Maria Heli said...

Continua a ser um prazer ler pelos teus olhos!

Estou mortinha por ler a tua opinião sobre o livro da Luísa Monteiro.
Logo mais, vou comprá-lo!

bjo (e obrigada pela força)

PS.sei que a amizade não se agradece, retribui-se :)

3:07 PM  
Anonymous Anonymous said...

Uma análise e uma crítica muito correctas! Já li o livro e se tivesse lido esta análise, mais rápido o teria lido!

4:54 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Obrigada Maria!

Vou redigi-lo daqui a pouquinho!

Além disso estou tb a acabar a leitura de uma antologia de contos eróticos!|

Não percas os próximos posts!

Bjo

CSD

5:17 PM  
Blogger Claudia Sousa Dias said...

Querido anonymous!

Ainda bem que acertei!

Espero que não demorem muito a publicar o segundo volume!

Csd

5:18 PM  
Anonymous Anonymous said...

Está muito boa a tua observação sobre o livro.
Mais uma vez obrigada.
Artur

8:59 PM  

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