“A Mennulara” de Simonetta Agnello Hornby
“A Mennulara” de Simonetta Agnello Hornby
A Mennulara é a história da ingratidão, da inveja, da mesquinhez e avareza absolutas. Todos os impulsos mais baixos da natureza humana são, aqui, exibidos e postos a nu em toda a sua crueza.
Morta a “mennulara”, a “galinha dos ovos de ouro”, administradora do património da família Alfallipe, os herdeiros vêem-se totalmente desorientados e, subitamente, conscientes da sua inépcia no que respeita à gestão do património da família, cujo valor e conteúdo, inclusive, desconhecem. A tudo isto, junta-se a humilhação de, mesmo depois da morte de “Mennù”, sentirem-se, ainda, dependentes daquela que foi, durante mais de quarenta anos, sua empregada: primeiro como “mennulara” – apanhadora de amêndoas - depois, como criada de servir e, por último, como administradora.
Para cúmulo, os seus colegas e, mais tarde, subordinados, também não perdoam a afronta de “Mennú” ter voltado as costas “aos da sua classe” e passado para o lado dos “patrões”.
À rapacidade dos herdeiros face àquilo que suspeitam restar da herança, junta-se o mistério da origem do gordo pé-de-meia de “Mennù” – ao qual também tencionam, se possível, deitar a mão – e, por outro lado, da fonte de poder e autoridade da ex-empregada. O que despoleta as emoções mais negativas e as mais execráveis especulações no seio dos Alfallipe, rapidamente espalhadas pela pequena povoação como folhas ao vento. Depois de morta, a ex-governanta é alvo do mais completo processo de difamação proveniente de várias frentes. Os habitantes da vila falam e especulam a seu bel-prazer.
Um dos aspectos mais interessantes do romance é o facto de cada personagem imprimir, no retrato que tece de “Mennú”, a marca da sua própria personalidade, através da exposição dos seus próprios sentimentos, projectados nas qualidades e defeitos que nela conseguem identificar. A percepção que cada uma delas tem acerca do carácter da “mennulara” é nitidamente influenciada pelo prisma com que se olha a ex apanhadora de amêndoas da casa Alfallipe.
É por este motivo que A Mennulara é um romance que se reveste de uma contundente crítica social cujo objectivo é o de mostrar que a lealdade e o esforço dificilmente são reconhecidos pela “boa sociedade” que não possui “código de honra”.
Uma sátira social excelentemente bem construída, escrita por uma advogada anglo-italiana, perita nas questões de direito da família e herança. A acção é situada no período conturbado post Segunda Guerra Mundial, marcado pela dissolução do fascismo e pelo crescimento incontrolável das associações criminosas.
O “polvo” espalha os seus tentáculos por toda a Itália ameaçando derrubar as velhas elites. Uma possível aliança de “Mennú” com um uomo d’onore (ou seja, mafioso), aumenta as suspeitas da população relativamente à ilicitude dos seus negócios…
Somente o médico e o padre detêm as peças que reconstituem o puzzle da verdade…
Os nomes atribuídos à maior parte das personagens são de molde a criar uma espécie de trocadilho, carregado de ironia relativamente a determinadas características psicológicas das mesmas: “Pecorilla”, a ovelhinha de inteligência limitada, maria-vai-com-as-outras; “Leone”, o leão que só ruge em privado, sobretudo quando bate na mulher, Buonmaritto, o bom marido (traído) e assim por diante.
Uma deliciosa comédia recheada de humor negro, sem artifícios delicodoces.
Inquietantemente realista.
Cláudia de Sousa Dias
A Mennulara é a história da ingratidão, da inveja, da mesquinhez e avareza absolutas. Todos os impulsos mais baixos da natureza humana são, aqui, exibidos e postos a nu em toda a sua crueza.
Morta a “mennulara”, a “galinha dos ovos de ouro”, administradora do património da família Alfallipe, os herdeiros vêem-se totalmente desorientados e, subitamente, conscientes da sua inépcia no que respeita à gestão do património da família, cujo valor e conteúdo, inclusive, desconhecem. A tudo isto, junta-se a humilhação de, mesmo depois da morte de “Mennù”, sentirem-se, ainda, dependentes daquela que foi, durante mais de quarenta anos, sua empregada: primeiro como “mennulara” – apanhadora de amêndoas - depois, como criada de servir e, por último, como administradora.
Para cúmulo, os seus colegas e, mais tarde, subordinados, também não perdoam a afronta de “Mennú” ter voltado as costas “aos da sua classe” e passado para o lado dos “patrões”.
À rapacidade dos herdeiros face àquilo que suspeitam restar da herança, junta-se o mistério da origem do gordo pé-de-meia de “Mennù” – ao qual também tencionam, se possível, deitar a mão – e, por outro lado, da fonte de poder e autoridade da ex-empregada. O que despoleta as emoções mais negativas e as mais execráveis especulações no seio dos Alfallipe, rapidamente espalhadas pela pequena povoação como folhas ao vento. Depois de morta, a ex-governanta é alvo do mais completo processo de difamação proveniente de várias frentes. Os habitantes da vila falam e especulam a seu bel-prazer.
Um dos aspectos mais interessantes do romance é o facto de cada personagem imprimir, no retrato que tece de “Mennú”, a marca da sua própria personalidade, através da exposição dos seus próprios sentimentos, projectados nas qualidades e defeitos que nela conseguem identificar. A percepção que cada uma delas tem acerca do carácter da “mennulara” é nitidamente influenciada pelo prisma com que se olha a ex apanhadora de amêndoas da casa Alfallipe.
É por este motivo que A Mennulara é um romance que se reveste de uma contundente crítica social cujo objectivo é o de mostrar que a lealdade e o esforço dificilmente são reconhecidos pela “boa sociedade” que não possui “código de honra”.
Uma sátira social excelentemente bem construída, escrita por uma advogada anglo-italiana, perita nas questões de direito da família e herança. A acção é situada no período conturbado post Segunda Guerra Mundial, marcado pela dissolução do fascismo e pelo crescimento incontrolável das associações criminosas.
O “polvo” espalha os seus tentáculos por toda a Itália ameaçando derrubar as velhas elites. Uma possível aliança de “Mennú” com um uomo d’onore (ou seja, mafioso), aumenta as suspeitas da população relativamente à ilicitude dos seus negócios…
Somente o médico e o padre detêm as peças que reconstituem o puzzle da verdade…
Os nomes atribuídos à maior parte das personagens são de molde a criar uma espécie de trocadilho, carregado de ironia relativamente a determinadas características psicológicas das mesmas: “Pecorilla”, a ovelhinha de inteligência limitada, maria-vai-com-as-outras; “Leone”, o leão que só ruge em privado, sobretudo quando bate na mulher, Buonmaritto, o bom marido (traído) e assim por diante.
Uma deliciosa comédia recheada de humor negro, sem artifícios delicodoces.
Inquietantemente realista.
Cláudia de Sousa Dias
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