"Plenilúnio" de António Muñoz de Molina (Editorial Notícias)
Tradução de Mário Ventura
Vida e obra
O
Autor do livro de que falamos hoje, Antonio Muñoz Molina
para além da carreira dedicada ao Jornalismo e ao Ensino, tem
publicada uma vasta obra literária a qual lhe granjeou já vários
prémios, sendo também membro da Real Academia Espanhola. Como
cronista, atingiu notoriedade com a coluna assinada nos jornais Die
Welt e El País. De entre os títulos de obras literárias
publicadas destacam-se: O Inverno em Lisboa (Prémio Nacional
da Literatura e Prémio da Crítica, 1988), Beltenebros, o
Cavaleiro Polaco (Prémio Planeta e Prémio Nacional de
Narrativa, 1992), Mistérios de Madrid, Nada do outro
Mundo, O Dono do Segredo, Ardor Guerreiro, El Robinson
Urbano e La Suerte del Éden. Para ele, o jornalismo e a
literatura, são actividades afins, às quais junta ainda o interesse
pela História da Arte, disciplina que chegou a leccionar na
Universidade de Granada, sendo que todas elas têm a escrita como
denominador comum. E é precisamente nesta região do Sul de Espanha,
a Andaluzia, que vamos encontrar o local principal de acção de
Plenilúnio, o romance de trata este post e que foi,
inclusivamente, adaptado ao cinema.
A temática e a génese da trama
Segundo as
palavras do autor, retiradas da entrevista dada a Justo Serna e
publicada no respectivo blogue, www.ojosdepapel.com
a ideia para o romance, que o autor dedica à sua esposa, a escritora
Elvira Lindo, havia surgido da seguinte forma:
Las primeras
pistas sobre (…) “Plenilunio” las tuve en 1987”. Muñoz
Molina há declarado que reparó en una fotografia publicada en un
periodico americano de un individuo de rostro bondadoso acusado de un
crímen horrible quando estaba com “El Jinete Polaco”, a raíz de
una noticia concreta que le impresionó. Esto le llevó a
cuestionarse si los rasgos del rotro y muy especialmente de la
mirada, delatan la conciencia del mal.
E assim surge o embrião do
protagonista de Plenilúnio,
um detective cuja vida pessoal está devastada pelo terrorismo
levado a cabo pela ETA e, por isso, é transferido do País Vasco,
mais propriamente da cidade de Bilbao. Trata-se de um homem habituado
a trabalhar casos relacionados com terrorismo e situações de
violência extrema, criminosos aos quais é normalmente difícil
seguir o rasto. A acção situa-se nas décadas que se seguiram
imediatamente à queda do franquismo, em plena transição
democrática mas em termos espaciais há uma modalização: o local
onde se movimenta o protagonista oscila entre Bilbao e o sul do País
onde é incumbido da missão de desvendar um crime de natureza sexual
que tem vindo a horrorizar a população de uma pequena cidade
anónima na Andaluzia: uma menina, de nome Fátima, aparece morta
após ter sido sadicamente violada e mutilada. A aparente
invisibilidade do assassino desperta o terror e o pânico na
população local, ao mesmo tempo que deixa que um rasto de pânico
tome conta das suas vidas. Pelo menos até o assunto ser parcialmente
esquecido e o predador voltar a atacar. Os crimes ocorrem sempre em
noite de lua cheia – de plenilúnio.
Ironicamente, fora a necessidade de uma
vida mais calma e obtenção de um quotidiano de relativa segurança,
impossíveis de serem à época usufruídos pelo polícia em Bilbao,
aliados a um sentimento de desalento provocados pela degradação da
estabilidade psicológica da esposa e a impossível tensão
psicológica,gerada a partir do trabalho de inspector que o levam a
esta cidade onde supostamente encontraria alguma paz, até pelo facto
de se tratar da cidade onde passou a adolescência num internato
jesuíta. No entanto, pouco depois de chegar o inspector, ao
deparar-se com este caso de contornos macabros, irá imediatamente
activar os traços obsessivos da sua personalidade fazendo do
predador sexual e assassino a sua própria presa. Na verdade um e
outro são, herói e vilão, implacáveis predadores, embora com uma
única diferença que os coloca em pólos opostos: a compaixão e
empatia no primeiro que está totalmente ausente no carácter do
segundo. E é nesta dicotomia, que Muñoz Molina constrói
toda esta narrativa polarizada. Nesta polarização assenta toda a
progressão da intriga, aumentando a tensão e os suspense até a um
ponto quase insuportável até se chegar, por fim, o desenlace da
trama, a um posterior anti-clímax, seguindo-se um inesperado fazendo
jus ao desenvolvimento espelhado de ambas as personagens que se
opõem, com um destino igualmente trágico para ambos.
A narrativa ou os vários planos
narrativos que se interceptam
No
site da Fnac1
comenta-se que:
Este
livro não é apenas um policial com personagens extremas, é,
também, um ensaio sobre as várias camadas de uma sociedade
apodrecida, onde há homens e mulheres que procuram uma urgente
resolução para os seus problemas, mas os agravam nessa procura.
A trama é desenvolvida a partir de
dois pontos de vista antagónicos, vertidos na terceira pessoa, um
narrador omnisciente, em cujo discurso estão embutidos os
pensamentos de dois outros enunciadores secundários – duas vozes
citadas indirectamente pelo narrador de terceira pessoa o qual é
conhecedor de todos os estados anímicos do herói quer do vilão.
Estes dois enunciadores têm ambos a sua actividade e pensamento
totalmente focalizados na respectiva obsessão: um deles, não apenas
na de encontrar o rasto do criminoso, mas sobretudo na compreensão
da natureza do mal (daí a compulsão em procurar o olhar do
assassino, saber como encara as pessoas, o mundo, a sociedade); e o
outro, que exprime no discurso, além do prazer da perseguição das
presas, uma inexcedível fome de poder e vingança face à sociedade
a qual, no seu entender, lhe nega as oportunidades e o destaque de
que julga ser merecedor. O sentimento de impunidade que inscrito no
discurso que lhe é imputado reforça-lhe a conduta e a
auto-confiança, estimulando-o a prosseguir no mesmo caminho, assenta
numa falsa sensação de segurança que lhe advém da
semi-invisibilidade, a coberto da noite de lua cheia, sua cúmplice e
testemunha. Esta pseudo-invisibilidade funciona como elemento de
distorção do real, tornando possível o estímulo a uma conduta que
baseada numa atitude de imprudente soberba, lhe permite arriscar
cada vez mais.
Plenilúnio pode ser
classificado como um romance negro, uma história trágica, onde o
discurso antagónico de ambos os enunciadores, que o narrador convoca
e incorpora no seu próprio discurso, alimenta a trama policial.
Mais: estes discursos polarizados de ambos as personagens
alimentam-se mutuamente, canibalisticamente, mantendo a tensão a um
nível quase insustentável de forma a prender o leitor que segue o
fio da trama de forma quase tão obstinada quanto as personagens
perseguem os seus próprios fins. Esta tensão só é aliviada de
quando em quando, pelo entrecruzar de outros planos narrativos, como
o relato da vida passada do narrador no País Vasco ou o
desenvolvimento da relação amorosa deste com Susana, a professora
de Fátima.
Esta é, no entanto uma escrita que
exige um leitor paciente, que goste de processar a escrita frase a
frase, seguindo o fio condutor e a linha de pensamento das
personagens. Vários leitores apontaram, já, esta característica do
romance, chamando a atenção para o ritmo pausado em que se vai
desenrolando a trama e, simultaneamente, para o grau de introspecção
das personagens principais2.
Tempo e espaço: relação entre a
época, o contexto histórico-social e o local da acção para a
construção de um romance de costumes tingido de “negro”
Poder-se-á dizer que Plenilúnio
surge
no nosso universo como um dos melhores romances
policiais que surgiram nos últimos quinze anos, apesar de o autor
preferir não enquadrar a obra neste género narrativo mas olhá-la
antes como um romance de costumes ou o retrato social de uma época.
O plot anda à volta de um
assassinato na Espanha pós-franquista, na altura em que o activismo
terrorista da ETA atravessava a sua fase mais agressiva e
mediática, invadindo os telejornais e obrigando o estado espanhol a
manter as suas forças de segurança em alerta máximo, sendo que é
neste contexto histórico-social que vamos encontrar o protagonista.
A cidade para onde
é transferido o inspector e onde ocorre o crime nunca é nomeada,
mas são vagamente descritos a sua localização no território e
relevo. O narrador menciona tratar-se de uma cidade “alta e
interior”, no vale do Guadiana e os subúrbios ou arredores da
mesma onde decorrem vários episódios da acção descrevem uma
paisagem muito semelhante à do Alentejo, árida e tórrida semeada
de sobreiros e olivais. Serrano (2010) arrisca dizer que se trata de
Úbeda, cidade Natal do autor, a que Molina atribui a designação
literária de Mágina nos seus romances e onde se pode facilmente
identificar alguns elementos característicos dessa mesma cidade como
a estátua do General Franco, o parque de Cava ou a parte
renascentista da mesma.
Para datar a acção
no tempo também é necessário usar o método dedutivo, por via
indirecta, que permite situar a acção na primeira metade dos anos
'90 do século XX. O facto de o romance ser publicado pela primeira
vez em 1997, faz com que a acção só possa ser anterior a essa
data, e a localização de todas as referências ao franquismo no
passado, colocam a acção no intervalo de tempo entre 1975 e 1995
pela referência a factos contemporâneos nas vozes quer do narrador
quer das personagens como a guerra na antiga Jugoslávia, ocorrida no
início da última década do século XX. Nota-se também a
influência do modus operandi e secretismo do assassino com o
do filme “O Silêncio do Inocentes”, referido também no texto
pelo narrador e do assassino de O Perfume de Patrick Süskind,
romance que teve grande impacto no público apreciador de literatura
contemporânea na mesma época, apesar de publicado alguns anos antes
(1985).
A par disto, o
romance dá especial destaque a vários temas que apaixonavam a
opinião pública, alguns deles tratados como tabu em décadas
anteriores na Península Ibérica: a violência e abuso sexual de
menores, a caducidade das relações pela extinção dos pilares
afectivos em que assentam, o terrorismo e a forma insidiosa como este
vai corroendo a vida dos cidadãos que são directamente por ele
afectados. Sem esquecer a dissecação e exposição detalhada da
forma de pensar do criminoso, mostrado aqui como um ser incapaz de
amar seja quem for excepto a si próprio, deixando ao leitor o
caminho aberto para canalizar toda a sua simpatia para as vítimas
que, em momento algum, tiveram hipótese de se defender. Molina
deixa também entrever a crítica implícita, no discurso do
narrador, face ao vampirismo da comunicação social cujo voraz
apetite pela audiências a leva a transformar um violador e assassino
numa estrela a ocupar lugar de destaque em noticiários e jornais. O
livro pode ser apresentado também na forma de manifesto contra a
violência quer individual perpetrada pelo criminoso solitário, que
colectiva levada a cabo por um grupo terrorista.
Personagens e trama: a relação
entre as personagens secundárias e o protagonista
O assassino é um
vendedor de peixe, de aparência perfeitamente anódina, lembrando a
sua caracterização psicológica e social do personagem de
Patrick Süskind em O Perfume (Das Parfum, Die
Gechichte eines Mörders, no
original), de 1985. O facto de, tal como o protagonista do
romance do autor alemão, o também anónimo oponente do protagonista
de Molina trabalhar remexendo nas vísceras dos peixes e tem as mãos
marcadas pelo trabalho que executa (mãos de unhas partidas e sujas,
com as quais também remexe nas entranhas das vítimas) aproxima-o de
Jean Baptiste Grenouille que nasceu precisamente debaixo da bancada
do peixe e, ao fazê-lo, leva de imediato a vida à própria mãe que
morre durante o parto. Mas ao contrário do personagem de Süskind
que já nasce a assassinar (embora ainda involuntariamente) o de
Molina é construído pela forma como a sociedade se
estratifica, exclui os menos favorecidos e os não amados. No
entanto, um e outro são seres que passam igualmente despercebidos
não só pelo aspecto físico de homem comum cuja aparência não é
propriamente cativante mas sobretudo pelo estatuto social que (não)
possuem, desempenhando um trabalho considerado, braçal, “sujo” e
por isso mesmo olhado, regra geral, como pouco edificante, mas
necessário à estrutura social. Na Andaluzia de Molina é
necessário haver alguém que trate do peixe para consumo e na Grasse
do romance de Süskind é necessário alguém que faça o
trabalho braçal e por vezes sujo da extracção das essências
exigindo um olfacto especialmente apurado. Também um e outro são
seres cuja parafilia se constrói ao longo do tempo pela incapacidade
ou inabilidade demonstrada para o amor.
O protagonista, o
inspector recé-chegado à cidade segundo as palavras de Anastacio
Serrano no seu artigo “Estudio Crítico de Plenilunio de
Antonio Muñoz Molina” publicado no blogue Erudición y
Crítica,3
aponta para outra dicotomia na narrativa: a criação do contraponto
desta trama “negra” com a história de amor desenvolvida e
envolvendo o inspector e Susana Grey, a professora de ambas as
vítimas que surgem no romance. O assassino-violador insinua que o
seu rival, o homem que o quer desmascarar e prender, teve um passado
de delator na Espanha franquista, colaborador da Polícia Política,
mas não há nada dentro do monólogo interior do mesmo inspector que
corrobore a tese do assassino, em cujo discurso se nota uma evidente
intenção de desvalorizar o único homem que é para si uma ameaça.
Serrano valida, no entanto as palavras do discurso do
assassino, sem comparar o ponto de vista deste com o discurso
interior quer da outra parte interessada quer das restantes
personagens, ponto de vista do qual nós preferimos distanciar-nos.
Logo a seguir
temos Susana Grey, a qual, além de formar o par romântico com o
inspector, tem uma relação próxima com uma das vítimas, Fátima,
a primeira criança violada e, posteriormente, assassinada. Serrano
descreve Susana como uma “mulher culta, apreciadora de literatura e
música”. É também ela o ponto de ligação entre o inspector e
as restantes personagens, uma vez que é simultaneamente namorada do
inspector, amiga do médico forense Ferreras, professora da criança
assassinada e da outra vítima sobrevivente e cliente do assassino.
Susana é uma mulher divorciada que está a refazer a sua vida e
“ultrapassar o fracasso matrimonial, o medo e a solidão”
(Serrano, 2010).
No nível
imediatamente a seguir temos duas personagens secundárias mas que
desempenham funções importantes na trama: o Padre Orduña,
sacerdote jesuíta reformado, antigo mestre do inspector, cuja
presença e atitudes têm como finalidade marcar o limite entre o
franquismo e a época de transição democrática (Serrano, 2010):
«Aparece
caracterizado como um padre trabalhador empenhado em conciliar o
cristianismo com o comunismo. Trata-se de uma figura arquetípica dos
últimos anos da ditadura. Trata-se de um homem de outra época, a
realidade desenraizou-o e não encontra lugar na nova sociedade. O
seu papel no romance consiste em contextualizar a infância do
inspector, que é filho de um homem perseguido durante a guerra civil
e ao qual, não conseguiu transmitir os seus ideais. Cumpre também a
função de escutar o inspector numa espécie de confissão laica
mediante a qual ficamos a conhecer as suas frustrações e
debilidades.» (tradução minha)
A segunda
personagem que se encontra também neste patamar de importância na
trama é o médico Ferreras que desempenha duas funções no romance:
a primeira, a de fornecer os detalhes da morte e violação das duas
crianças. A segunda é a de informar o leitor do passado de Susana,
recém-chegada à cidade, pois era amigo do marido desta até à
altura em que aquele decide partir com a jovem que era então sua
namorada. Para Serrano, este é um personagem que passa uma
imagem de homem jovial, impulsivo e um pouco fanfarrão.
Quanto à esposa
do inspector, também ela anónima, esta desempenha um papel marginal
mas que ajuda a compreender a atitude do inspector no tempo em que se
desenrola a narrativa, à construção da sua caracterização
psicológica e a compreender a enorme carga de solidão e melancolia
que perpassa quer no seu discurso quer nas atitudes. Outro papel
marginal mas essencial é o de Fátima, a primeira vítima, a criança
assassinada que o inspector só conhece depois de morta, através do
depoimento da professora, de fotos e de vídeos caseiros, fornecidos
pelos pais. É originária de uma família operária e também a
melhor aluna da turma. Na mesma situação encontra-se Paula, a
segunda menina atacada pelo violador e que sobrevive por uma unha
negra. Ao revelar uma coragem e força extremas torna-se essencial
para o desenvolvimento da trama e a identificar o assassino.
Todas as
personagens de Plenilúnio, excepto Susana, mostram-se
resignadas ou, de certa forma, conformistas no tocante à procura da
felicidade, como faz notar Serrano (2010):
(...) El
inspector há llevado una vida dura en Bilbao, que há provocado la
enfermedad mental de su mujer. El asesino muestra su frustración
familiar y vital. El Padre Orduña acusa el fracaso de sus ideales y
el olvido a que está sometido. Susana Grey, la maestra, lleva una
vida solitaria, provocada por el fracaso matrimonial y por el
abandono de su hijo en la adolescencia. Susana es el único personage
que luta contra su vida gris. Ella lleva la iniciativa en la relación
amorosa com el inspector y además toma la determinación de
abandonarlo todo para un cambio de vida en Madrid.
(…) Susana,
la maestra, representa a la mujer moderna, y liberada de las ataduras
de la época de la dictadura.»
Esta
caracterização positiva da única personagem feminina no romance, a
única também a ter esta componente tão favorável tem como
consequência a aproximação com o leitor, numa primeira instância,
e posterior identificação com ela. Esta disposição para atribuir
a caracterização favorável e positiva à única personagem
feminina do romance aproxima Antonio Muñoz Molina do também
romancista Umberto Eco, o esteta e semiólogo italiano, que
optou por dar o mesmo tratamento às personagens femininas que
aparecem nos seus romances O Pêndulo de Foucault publicado
dez anos antes de Plenilúnio, voltando a fazê-lo na
sua mais recente obra ficcional, Número zero.
Espaços interiores e as personagens
Mas as casas e os espaços interiores,
públicos e privados, onde se movimentam as personagens têm, também
um papel fundamental no romance. Estas não servem apenas para ajudar
à caracterização das personagens mas também para ajudar à
caracterização social pela forma como são apresentados os espaços
públicos, ajudando à contextualização e à construção da
atmosfera social onde se passa a acção e ao traçar de todo um
retrato social de época que caracteriza o bildungsroman
o que Molina consegue de forma magistral.
O Papel da Noite e da Lua
O romance é desenvolvido, na sua maior parte, durante durante as
horas nocturnas, sendo os acontecimentos mais importantes passados
sob a vigilância da lua cheia, tais como os ataques às vítimas do
pedófilo-assassino vendedor de peixe ou o encontro amoroso entre
Susana e o Inspector. Somente a partir do antepenúltimo capítulo,
após a superação do temor colectivo do assassino, é que a
história começa a passar-se à luz do dia. A lua, inclusivamente, é
mencionada em quase todos os capítulos, surgindo logo no título,
sendo que é nos capítulos onde a tensão psicológica se encontra
no seu ponto culminante que a Lua aparece cheia. Serrano (2010)
chama a atenção para o facto de ser a mesma Lua ser também a peça
chave para a resolução do crime, uma vez que é a intuição do
inspector que lhe revela que o assassino irá atacar novamente na
noite de lua cheia. Ainda segundo Serrano, todo este
protagonismo da Lua nos momentos de maior terror no romance está
associado à crença popular de que a lua cheia incita as pessoas ao
Mal.
O romance foi amplamente premiado em
vários países acumulando o Prémio Euskadi de Plata (1997), o
Prémio Femina Étranger, para o melhor romance estrangeiro publicado
em França (1998), o Prémio Elle (1998) e o Prémio Crisol
(1998). No ano 2000, estreou a sua adaptação ao cinema, realizado
por Imanol Uribe. A adaptação esteve a cargo de Elvira
Lindo, esposa do autor e a interpretação de Miguel Ángel Solá
(inspector), Fernando Fernán-Gomez (Padre Orduña) e Juan Diego
Botto (o assassino-violador).
A tradução para esta edição da
Editorial Notícias não está, infelizmente, à altura da qualidade
da prosa de Molina nem da extrema complexidade do enredo, não
apenas por ser um trabalho de conversão para a Língua Portuguesa
demasiado literal, mas também por não ter em conta as diferenças
semânticas existentes entre muitas palavras comuns ao Português e
ao Castelhano, ou mesmo a diferença de valor pragmático que vai da
língua de Cervantes à língua de Camões.
Uma última palavra para a capa do
livro que ilustra de forma brilhante a tragicidade e a atmosfera
“negra” do romance: um quadro de Goya representando Cronos
(o Tempo) a devorar os seus filhos. Também o Tempo, a longo prazo no
romance, se encarrega de devorar as vidas das personagens,
destruindo-lhes lentamente os sonhos e tornando a vida desprovida de
sentido.
Aguarda-se nova tradução e reedição
da obra que recoloque Antonio Muñoz Molina de volta aos
escaparates das livrarias portuguesas.
Londres, 20 de Abril de 2013
Cláudia de Sousa Dias
3 http://erudicion.blogspot.pt/2010/12/estudio-critico-de-plenilunio-de.html
Webgrafia consultada:
https://es.wikipedia.org/wiki/Antonio_Mu%C3%B1oz_Molina
http://www.goodreads.com/author/show/39280.Antonio_Mu_oz_Molina
http://erudicion.blogspot.co.uk/2010/12/estudio-critico-de-plenilunio-de.html
http://www.edu.xunta.gal/centros/iesmilladoiro/system/files/TEMA%20Plenilunio%202015.pdf
http://www.edu.xunta.gal/centros/iesmilladoiro/system/files/TEMA%20Plenilunio%202015.pdf
http://www.quelibroleo.com/plenilunio
http://www.fnac.pt/Plenilunio-ANTONIO-MUNOZ-MOLINA/a12318