EGOÍSTA 51 – POESIA
A revista Egoísta
regressou o ano passado pelo Natal, com o número 51 após quase um
ano de pausa. Regressou com o esplendor do ouro numa capa de brilho
metálico, a remeter também para as festas do fim-de-ano, para as
luzes festivas dos lugares onde se dança e comemora a entrada num
novo ano. Abre-se ou reinaugura-se desatando uma fita, dourada
também. Ao virar a primeira página deparamo-nos com uma mão cujo
indicador aponta um poema de Sylvia Plath. Segue-se um magnífico
conjunto de fotografias de Annie Leibovitz a lembrar o barroco de
inspiração na técnica chiaroscuro de Caravaggio e, como
tema, a época anterior, o Renascimento aludindo a cenas da poesia
Shakespeariana, mais propriamente da peça Romeu e Julieta.
Uma fotografia de Maria João Gonçalves
capta a gravidez nua a que dá o nome de “Todo o Amor”, após o
que se procede à apresentação de todos os nomes de poetas e
artistas da imagem que fazem parte desta mini-antologia.
Passemos então aos poetas:
1 – E começamos ao correr de riscos
de Maria Teresa Horta em homenagem à Mulher Escritora num poema onde
a escrita é uma forma de libertação e, ao mesmo tempo, detonadora
de mudança.
2 – O minimalismo essencial de
Eduardo Pitta numa síntese perfeita num poema de formato haiku.
3 – “Os dois de Lanzarote” é o
poema de Armando da Silva Carvalho sobre o preço da Liberdade que é
o exílio em homenagem a José Saramago e Pilar del Río.
4 – “O Vento do Vale” de Lu Yun é
o poema que retrata a voz da terra, da folha morta, um poema de cores
outonais, a acompanhar o ritmo da valsa lenta dos dias, em harmonia
com as estações e com o Universo.
5 – “A Sombra Inicial” de Gastão
Cruz traz o renascer do verde por entre o cinzento do betão, num
acto de rebeldia da vida perante a morte. Ou o esforço titânico da
“sombra inicial da vida que se afasta do nada”. E é isso que
para o poeta define a poesia. Poema belissimamente ilustrado pelas
plasticidade das fotografias de Christophe Jacrot.
6 – Também os “Passageiros” de
Ricardo A. com fotografias que “roubam “ a Leonardo da Vinci a
técnica do sfumatto esboça
o traçado da ponte para o poema de António Ramos Rosa “É por ti
que escrevo” retirado do livro O teu Rosto –
uma sublime homenagem à Mulher, ao Amor e à Beleza do Universo.
7 –
Adrienne Rich traz-nos “dentro do baú perdi a memória”, poema
colorido por fotografias a sépia da autoria de Augusto Brázio, um
poema onírico onde as memórias se entrelaçam com o sonho de uma
língua matricial que una, religue todas as línguas. A eterna
ambição da omnisciência, do conhecimento do Absoluto, algures
entre o Amor e a Morte, em três actos.
8 –
João Rui de Sousa oferece-nos um poema patchwork
como se fosse construído a partir de letras, palavras recortadas dos
jornais “O Relógio da Amizade”, poema de grande beleza cheio de
nostalgia.
9 –
O conhecido “Adeus” de Eugénio de Andrade mostra-nos a mais bela
e eloquente forma de terminar uma relação. Um poema evocativo da
beleza do passado, pintada com as cores da paixão, desvanecidas no
“agora”.
10 –
Fotografias habilmente trabalhadas com a técnica do “pontilhado”
por João Vilhena criam um intermezzo
visual a anteceder o poema de Helga Moreira que mostra as razões da
persistência numa relação patológica, num poema de grande
intensidade dramática...
11 –
...e Maria do Rosário Pedreira brinda-nos com a sua “Arte Poética”
a que se pode perfeitamente chamar de “ a beleza de um amor no
quotidiano dos pequenos gestos”.
12 –
Manuel San Payo ilustra um poema disperso ao vento, de urzes e
sombras, solidões em grafitte de
Margarida Ferra nos deixas um poema de melancolia a soar como uma
carta de despedida.
13 –
E Fernando Pinto do Amaral desvenda-nos um “Segredo” ao
(in)confidenciar o amor de uma álgida noite de Inverno.
14 –
Entretanto, Rodrigo Prazeres Saias traz-nos mais um intermezzo,
um conjunto de ilustrações a que chama de “Natureza Morta” que
antecedem “A Vida”, poema de Nuno Júdice – criando um
flagrante contraste semiótico, baseado numa relação de antonímia
entre a composição poética e a composição visual que a antecede
– um poema de movimento, de luzes e sombras que executam um jogo
de encontros e desencontros extraído do livro Teoria Geral
do Sentimento.
15 -
Entretanto, Manoel de Barros usa a poesia para falar da relação das
palavras com os silêncios...
16 –
E António Cícero disserta sobre as declinações semânticas do
grafema/fonema “guardar” num poema com o mesmo nome. Para
“guardar” o signo na memória.
17 –
“Bela Cidade” é o poema de João Camilo, a descrever uma cidade
que poderia ser Lisboa, partindo para a indagação de um futuro que
caminha, tal como as estrelas em direcção ao nada.
18 –
“Morrer de Ingratidão” é o poema/soneto de Vasco Graça Moura,
que a Egoísta inclui
neste número em jeito de homenagem póstuma.
19 –
Alex Kanevsky traz-nos mais um intermezzo visual
com as ilustrações de uma colecção de obras suas chamada de
“People and their bodies”, lembrando a pintura de Cézanne. As
imagens surgem alternadas com as palavras de Rui Cóias “Caminho de
Jardins” - dois poemas de desamor.
20 –
Segue-se “A Pausa” de Antónia Pozzi, poema de libertação e
nostalgia, retirado do livro Morte de uma Gestação,
traduzido por Inês Dias.
21 –
Hilda Hildst oferece-nos um poema de beleza, proporções e
intensidade de tal forma próximo da Perfeição que se torna
impossível descrevê-lo.
22 –
Já António Saias atira-nos com uma pedra: um “Quartzo” que não
é diamante e nos obriga a reflectir sobre o diferencial entre
expectativas e realidade que leva à desilusão.
23 –
Mais uma série de fotografias vem deliciar-nos a vista antes do
próximo. Desta vez o tema é o mar e os barcos de pescadores que o
atravessam e cuja magia é convertida numa escala de cinzentos pela
mão de Pedro Cláudio. Mesmo antes da chegada de “A Pantera” de
Rainer Maria Rilke, traduzida por Vasco Graça Moura a falar sobre a
violência que é a privação da Liberdade para qualquer ser vivo.
24 –
“Palavras Minhas” é o poema de Pedro Tamen mostrando como se
lêem as palavras não pronunciadas que perpassam pela mente do ser
amado.
25 –
Jaime Rocha chega à Egoísta com um bouquet
perfumado intitulado “Primeiro Ciclo dos Lilases”
que é
como quem diz “o primeiro ciclo da morte”, com um je ne
sais quoi de Pasolini.
26 –
“Quem vem à Quinta-feira” é Filipa Leal com um poema onde
paixões, privações e vida profissional se atravessam e por vezes
se anulam, num eterno adiar da felicidade.
27 –
“Ginjal” é o título que abrange um conjunto de fotografias de
Helena Gonçalves, em mais um intermezzo a
anteceder os últimos poemas desta edição começando pelo de Ana
Luísa Amaral, um dos mais belos deste número da Egoísta
– “das mais puras memórias: ou de lumes” – um poema de
vida, de morte, de memória, amor e da eterna luta o horror da
aniquilação, da dissolução, da destruição. Da Guerra. Poema
feito de lume.
28 –
Amália Bautista contribui para esta edição com uma quadra – que
é um autêntico murro no estômago, uma provocação. A tradução
é de Inês Dias.
29 –
“Oslo” de Inês Dias é o poema da esperança, dos eternos sonhos
adiados de quem corre atrás dos sonhos.
30 –
Marina Tsvetáieva vem pela mão do tradutor Manuel de Seabra com um
poema que poderia ser o fado e a história da Severa pelos bairros de
Alfama ou da Mouraria-
31 –
O último poema desta edição da Egoísta
vem em prosa e é da Autoria de Fabiano Calixto. Um desfile
carnavalesco da tragédia da condição humana de que é composta a
vida e obra de sábio, artistas, filósofos e líderes carismáticos.
Espero
que consigam adquirir este número da Egoísta,
tendo em conta que é uma edição limitada, e um dos melhores
números de sempre da Revista. Bem-vinda de volta, Patrícia Reis. E
mais uma vez parabéns pelo excelente trabalho.
Cláudia
de Sousa Dias
17-11-2014