Um romance escrito a
duas vozes, a história de Sara e Mariana: duas mulheres “banais”
que nunca chegam a sê-lo, porque de banais não têm nada. Em
primeiro lugar, porque não se enquadram nos estereótipos sociais do
meio de onde são originárias: Mariana provém de uma família
abastada, tradicional, apegada às convenções, larga um noivo de
“boas famílias”, aprovado pela família, para abraçar uma
carreira de actriz e viver uma paixão censurada pela “boa”
sociedade com um homem casado; Sara provém de uma família de classe
média-alta, que prefere optar não por uma profissão estável e bem
remunerada, mas antes pela errática carreira de actriz, seguindo os
passos da mãe enquanto jovem, antes de casar, para dar à luz Sara e
o seu gémeo. Além do mais, Sara e Mariana possuem um apurado
sentido crítico na forma como olham a sociedade e, em especial, o
meio artístico onde se movimentam. Na verdade, nem a si mesmas
parecem, à primeira vista, levar-se a sério ou, pelo menos, não
demasiado, troçando amiúde bastante mais de si próprias do que dos
outros. No entanto, ambas são diferentes na forma como reagem às
dificuldades e perseguem os seus objectivos. A Sara, move-a, por
exemplo, a demanda da amiga desaparecida, a qual todos pensam ter
falecido. Já a Mariana, impele-a antes a fuga à pressão, exercida
pela sociedade, para não se anular e lutar pela sua sobrevivência,
para se reencontrar com o próprio Eu, numa procura obsessiva pela
autenticidade. Em comum, têm ambas o desejo e paixão por uma vida
plena de intensidade, a qual ameaça escapar-se-lhes por entre os
dedos. Une-as ainda um amor (e um desamor também) passado que depois
se desdobra no presente, apanhando o leitor de surpresa, e se
repercute no desenvolvimento da narrativa como uma figura geométrica
ou fractal, a partir de um ponto de intersecção, como numa sala de
espelhos, onde a imagem de ambas se multiplica e repete como numa
sequência periódica, em busca desse ideal amoroso, representado
pelo o gémeo de Sara, loucamente amado por ambas. As convenções de
uma sociedade claustrofóbica de onde são oriundas (sobretudo
Mariana) sufocam-nas, pois, a uma e outra, mas cada qual reage de
forma diametralmente oposta, para não se deixar formatar pelas
expectativas dos outros. Uma procura a distância, a outra luta
contra ela.
O livro nasce a
partir de uma experiência piloto, encenada pelas autoras, que vem já
da estreita colaboração de ambas na
revista
Egoísta, publicação onde Patrícia Reis exerce as
funções de editora. Foi precisamente nesta revista que as duas
autoras de Gramática do Medo haviam
encetado um primeiro ensaio de escrita a quatro mãos para o número
53, subordinado à temática “Anjos”. Gramática do Medo
é
o resultado da
experiência desenvolvida, partindo
da
ideia iniciada na revista, mas apenas em termos estruturais, para ser
aplicada depois
a
um romance a duas vozes. Na verdade são
mais que duas vozes, este é um romance nitidamente polifónico,
embora
haja dois
pontos de vista predominantes na narrativa, o das duas protagonistas,
a cujas vozes é imputada a maior parte do conteúdo enunciativo. O
resultado é uma prosa reflexiva, intimista onde cada uma das
protagonistas dialoga com a outra e consigo própria em simultâneo.
Ambas são como que gémeas siamesas cujos corpos não se podem
separar.
Dados
Biblio-biográficos das Autoras
Maria
Manuel Viana
é natural de Figueira da Foz e licenciada em Filologia Românica
pela Universidade de Coimbra – Faculdade de Letras. Foi, durante
trinta e cinco anos, professora de Português e Francês,
coordenadora do Centro de área Educativa em Castelo Branco e
Presidente da Comissão Distrital de Protecção de Menores,
vereadora da cultura e coordenadora do Gabinete para a Igualdade.
Como tradutora, tem no currículo a
conversão para Português obras de autores como Ignacio
Martínez de Pisón,
Enrique Vila-Matas,
Peter Hanke, Clara
Usón
e muitos outros. É autora dos romances A
Paixão de Ana B.
(2002), Damas,
Asas e Valetes
em co-autoria com Ana
Benavente (2007),
O Verão de todos
os silêncios
(2011) e Teoria
dos Limites
(2014), antes de publicar Gramática
do Medo (2016)
também em regime de co-autoria,
desta
vez com Patrícia
Reis.
Patrícia
Reis,
que assina também a obra de que hoje tratamos, nasceu em Lisboa e
tem já um longa carreira ligada ao jornalismo, à edição e,
também, como escritora de ficção, dirigida quer
ao público adulto, quer ao público infanto-juvenil. Escreveu
para O Independente,
para o Expresso e
para a Sábado,
tendo estagiado na Time
(EUA). É, desde 2000, editora da revista Egoísta.
Publicou a novela
Cruz de Almas (2004),
os romances Amor
em segunda Mão (2006),
Morder-te o
Coração
(2007), No
Silêncio de Deus
(2008) Antes de
ser feliz
(2009), Por este
mundo acima
(2011), Contracorpo
(2013), a biografia Vasco
Santana, o Bem-Amado
(2004) e um romance fotográfico em parceria com João
Vilhena,
Beija-me (2006).
A novela O que
nos separa dos outros por
causa de um copo de
Whisky
(2014) arrebatou, por unanimidade, o Prémio Nacional de Literatura
da Fundação Lyons. E ainda autora do blogue O
Vão Combate.
Estado
da Arte: O que diz a crítica a Gramática do Medo
Após
algum desconcerto inicial na imprensa “mainstream” fruto
alguma estupefacção manifestada por determinadas
vozes críticas face à capa do livro (DN, de
25 de Junho de 2016),
ou mesmo
de alguma
confusão manifesta relativamente às instâncias narrativas (blogue
Bom-dia). As
autoras haviam já levantado
um pouco o véu acerca da construção deste romance, escrito a
quatro mãos, para
a secção “Livros” da revista Sábado,
cerca
de um mês antes,
em
entrevista a Catarina Homem Marques.
Maria Manuel Viana começava
por esclarecer que “as personagens não somos nós, mas são
duplicações nossas”. E Patrícia
Reis
acrescentava,
por sua vez:
“elas são absolutamente banais, como nós; sabem é que têm um
poder de escolha, que não teriam há 41 anos”. Mas
No Diário de Notícias, João Céu e Silva
mostra alguma consternação face à capa de Gramática do Medo,
sem dúvida impactante, feita a partir de um óleo de Dino Valls.
E,
enquanto Céu e Silva a classifica de “obscenamente
bela”, a autora do blogue
Bom-dia já só a vê como “perturbadora”.
Perturbadora? Sê-lo-á sim, no nosso entender, mas não
devido ao nu frontal – como é sugerido pelo jornalista do DN –,
de uma das gémeas, mas antes pela sugestão de sofrimento, implícita
na jovem que está “vestida” com a gaze à volta dos seios e
pelos instrumentos cirúrgicos a ela associados como acessórios, a
que se junta a sugestão de que o corpo da gémea nua, atravessado
por ferros, mostra trata-se esta de um clone, espécie de cordeiro
sacrificial, criado para salvar a gémea doente.
Outros críticos, fora da imprensa
mainstream haviam já
optado por uma análise mais profunda, revelando bastante maior
acuidade na apreensão do sentido da obra, embora num caso ou outro
continue a haver alguma confusão relativamente aos dois principais
enunciadores do texto, as protagonistas Sara e Mariana, um das
características que confere maior complexidade à obra. O que leva,
por vezes, a alguma dificuldade em destrinçar a qual destas duas
entidades imputar o que é dito, como faz notar a autora do blogue
bom-dia, que passamos a citar:
«Estamos perante uma obra onde tudo se esbate, onde pouca coisa
tem contornos muito definidos e onde imperam contrastes,
antagonismos, relações pautadas por um lado pela indiferença,
distância e apatia e, por outro, pela dependência pela união e por
um
medo irracional de ver-se separado, de laços quebrados.
Sem o seu avesso. Desde relações supostamente normais até aquelas
condenadas, antinatura, a obra serve-se de Mariana e Sara para
levar-nos a questionar até que ponto a nossa identidade está
amarrada aos outros, ao social, ao comum.»
É, no entanto, David Pimenta, na secção Mil Folhas do blogue
Deus me Livro quem, no nosso entender, mais acerta no alvo, ao
falar no papel da ficção para a compreensão do mundo como uma das
grandes molas impulsionadoras da acção deste livro. David Pimenta
explora a narrativa através da análise psicológica e social das
personagens, da técnica do contraste utilizada na narrativa para
atingir o tema central à volta do qual gravitam as duas
protagonistas: o significado de uma amizade onde “o elemento
primordial e unificador é o medo”.
Análise da Obra – Enunciação e Conteúdo
Este é um romance mais complexo do que poderia parecer à
primeira vista tanto para quem lê a sinopse ou mesmo algumas das
recensões publicadas quer na imprensa de referência quer na web. A
começar na questão da enunciação e da percepção acerca que quem
narra o quê. Apesar de os estilos narrativos e a estética da
escrita de ambas as autoras serem bastante diferentes, elas vão-se
aproximando à medida que a narrativa avança.
Maria Manuel Viana
é dona de uma prosa literária inconfundível pela sua
complexidade, vertendo uma caudalosa torrente de palavras, frases
complexas, cheias de modulações de voz, com orações coordenadas e
subordinadas, pontos de vista que ora se encaixam ora se sobrepõem,
a dar voz a um narrador normalmente de terceira pessoa que cita outro
de forma directa, indirecta, em discurso indirecto livre ou mesmo em
quasi-pec (do conceito de Alain Rabatel
quasi
pris-en-charge). Por vezes, o ponto de vista do narrador
aproxima-se de tal forma da personagem cujo pensamento está a
reproduzir que se torna difícil a percepção sobre a quem deve ser
imputado o discurso, como se narrador e personagem citada pensassem
em uníssono, tal como acontece, tipicamente em narrativas
cinematográficas.
Patrícia Reis,
por sua vez,
exibe um discurso pautado pela simplicidade em termos
frásicos, associada a ora uma lógica desconcertante, plasmada da
sua vertente ligada ao jornalismo, ora tingida de emotividade ligada
à escrita memorialista.
Por outro lado, e escrita que identificámos como sendo de
Maria
Manuel Viana aparece no romance
quase sempre associada ao ponto de vista de Sara, mesmo quando
a locução do seu discurso é feita por um narrador homodiegético.
Sara é também a personagem cujo inconformismo faz desenrolar o
plot
pois, mediante o desaparecimento da amiga, será ela quem toma todas
as diligências no sentido de lhe descobrir o rastro. Aliás, ela
própria atribui-se o cognome de “farejadora”, a detective
cão-de-caça. A partir do momento em que Mariana desaparece, Sara
ocupar-se-á em trilhar os caminhos de Mariana, tentando pensar como
ela, ocupando o seu espaço, vestindo a sua pele, de que o colar de
pérolas rosa que a amiga lhe deixara pedindo-lhe para se livrar
dele, acaba por se tornar é uma espécie de metonímia do corpo de
Mariana e de que Sara se serve, quase que lhe tomando a identidade,
qual gémea siamesa da amiga-amante-irmã ausente:
«A mulher definitivamente banal passa os dedos pelas pérolas
rosa, num gesto ancestral que vira muitas vezes fazer às mulheres da
aldeia onde em tempos vivera, só que essas eram contas pretas,
acompanhadas por uma ladainha em que a expressão virgem maria
aparecia frequentemente. Sempre gostara dessa possibilidade de
exorcizar demónios e de pedir bênçãos, embora nunca lhe tivessem
ensinado. Ao contrário do que Mariana lhe pedira, fora ao lixo
recuperar o colar, último presente de um homem amado e amante: ao
tocar cada pérola, via o rosto da amiga, ouvia o seu riso, recordava
os gestos nervosos, a rapidez com que decidia e actuava. Sabia que
era uma questão de tempo, por isso esperava, sem sobressalto nem
tentativas de antecipação, que as pérolas se lhe encrustassem,
definitivas, primeiro na pele, depois no corpo, por fim no sangue.
Sara não mais seria Sara, e esse pequeno truque seduzia-a.»
Em contrapartida, a locução da narrativa feita pelo ponto de
vista de Mariana é vertida numa escrita que nos habituámos a ler
nas obra da autoria de
Patrícia Reis, marcada por frases
curtas e incisivas, muitas vezes atiradas à queima-roupa, como quem
dispara um tiro. A maior parte do discurso imputado a Mariana é
feita quase totalmente em discurso directo, numa escrita que
poderíamos chamar de epistolar ou, talvez diarística. A história
de Mariana começa com o recurso a uma analepse, utilizando depois
toda uma dança de avanços e recuos no tempo, em alternância com o
ponto de vista de Sara. A progressão narrativa é feita utilizando a
técnica de contraponto, criando uma dinâmica contrastiva entre o
ponto de vista de ambas as personagens, fazendo do romance
Gramática do Medo uma obra especialmente interessante do
ponto de vista dialógico. Aqui, a diferença no tocante à estética,
escolhas lexicais, ritmo narrativo e prosódia entre ambas as
escritoras vem conferir uma extraordinária verosimilhança quando se
fala da diferença de vozes nas personagens que constroem em
permanente dança discursiva.
Mas há, ainda, partes do texto em que a narrativa se torna
híbrida, a parte que corresponde a “Sara e Mariana”, com um
narrador de terceira pessoa que cita ora uma ora outra em discurso
directo, normalmente grafado a itálico, o que torna a obra ainda
mais complexa, deixando inicialmente o leitor algo desconcertado ao
tentar identificar a origem daquela terceira voz, algo que só será
completamente esclarecido no final da leitura do livro.
Do ponto de vista do conteúdo temático,
Gramática do Medo
não é apenas um romance que desafia tabus sociais
universais, como o incesto, ou que rompe algumas das convenções
mais tradicionais da sociedade patriarcal, como a exclusão das
relações homossexuais (de notar que a relação erótica e lésbica
entre as duas personagens principais ocorre sempre, se não em total
secretismo, pelo menos numa discreta penumbra que fica sempre algures
ensombrada por uma relação ambivalente de amor-amizade). O amor que
surge entre Sara e Mariana dá-se sempre na quase obscuridade social
ou pelo menos, no limiar entre a aceitação/ocultação social,
evitando quase sempre a transposição da fronteira física do espaço
doméstico ou, na melhor das hipóteses, do espaço privado.
Mas, mais do que tratar questões relacionadas com o amor fora da
heteronormatividade,
Gramática do Medo é um romance
que reflecte a época em que foi escrito, a segunda década do século
vinte em Portugal, um pequeno país, que só aparentemente surge
isolado das grandes catástrofes mundiais e de consequências
directas das mais destrutivas girândolas de conflitos
bélico-ideológicos e convulsões económicas que então afectaram o
globo e, sobretudo, o mundo ocidental. O tempo retratado no romance
evidencia nas entrelinhas as consequências da devastadora crise
económica de 2008, a qual acaba por se reflectir, também, nas
relações afectivas e familiares. Por exemplo, as dificuldades
económicas que enfrenta Sara levam-na a aceitar papéis menores para
pagar o internamento da mãe numa clínica privada. E este é ainda
um romance acerca de uma sociedade afectivamente repressiva –
questão que, em si, transcende a sexualidade e se estende a todas as
relações afectivas – a fazer germinar em si a semente do mal, ao
reproduzir o medo de abertura ao outro, patente na omnipresença de
um discurso que se rege pela omissão e leva à manutenção de
segredos mesmo entre aqueles a quem mais se ama. É esta a gramática
(eu arriscaria antes dizer a pragmática) do medo que leva à solidão
e à morte. É este mesmo medo de partilhar segredos inconfessáveis
que leva Mariana à fuga para uma das regiões mais isoladas da
Europa, nas montanhas do Montenegro, palco da última grande guerra
civil ocorrida neste continente, no início da última década do
século XX, e que teve como origem precisamente o medo do outro, da
sua alteridade, da não aceitação da diferença.
As referências ao destino de Milosevic e à fragmentação da
Jugoslávia são alguns dos acontecimentos que ajudam a situar a
acção no tempo nas primeiras décadas do séculos XXI. A vertente
de ensaio filosófico está também presente, sobretudo a partir do
ponto de vista de Sara a personagem mais activa e cerebral da
intriga, abordando questões ontológicas como a natureza do mal (ver
pag 115). No discurso que pode ser imputado a Mariana, percebemos uma
torrente de emoções, onde o discurso entrecortado sugere um
pensamento em rodopio, contudo febril e difuso, um torvelinho de
emoções onde dominam a angústia e, obviamente, o medo da não
aceitação da doença, da fragilidade, o medo da morte. As duas
protagonistas, Sara e Mariana, são tão semelhantes quer física
quer psicologicamente que poderiam ser gémeas, mas em termos de
personalidade funcionam como pólos opostos, algo que se reflecte não
apenas no teor do discurso, estrutura gramatical e escolhas lexicais,
mas em termos de atitude perante a vida: enquanto que Mariana escolhe
a fuga, preferindo esconder-se de todos inclusive dos que mais ama,
Sara opta antes pela perseguição incansável do seu fim último: o
amor, pela eliminação das distâncias, segredos e abismos que as
separam e de que é ilustrativa a última cena que protagoniza no
romance como “...a última hipótese para poder reconstituir as
peças do puzzle e desaprender as declinações cruéis e oblíquas
das palavras tu, eu, nós, medo”.
Uma última consideração para o epílogo: esta última secção
do romance surge de forma completamente alheia ao
plot, sendo
o narrador-locutor uma entidade a projectar um
ethos que nada
tem a ver com o
ethos dos narradores de nenhum dos capítulos
anteriores. Na verdade, este locutor, quando não está a fantasiar
ou a dar largas ao seu narcisismo, apenas repete
ipsis verbis
o discurso que ouviu da entidade que lhe contou a história em
primeira pessoa, como se o tivesse gravado e depois transcrito ou lhe
tivesse sido entregue um manuscrito que depois publica com o seu
nome. A verdadeira narradora de terceira pessoa, o narrador-locutor
dos capítulos anteriores comuns a ambas as protagonistas, não é
nenhuma das heroínas anteriormente mencionadas, nem o
narrador-usurpador do epílogo (uma personagem hilariante que surge
como uma espécie de anti-climax face ao dramatismo do final), mas
sim Romina, figura que só aparece no final do romance e detém o
conhecimento privilegiado da história de Sara e Mariana. No entanto,
apesar de a introdução deste locutor com pretensões de escritor,
fazer com que o meta-discurso, que domina este epílogo, faça perder
um pouco a verosimilhança que havia sido conquistada ao longo do
desenrolar da trama, (querendo parecer-nos que o texto ganharia, por
seu turno, mais força, se fosse Romina a falar em primeira pessoa,
apenas nesta fase), o efeito principal é o de quebrar a tensão
extrema que se havia criado no final do último capítulo, a qual que
não se havia dissipado nem na última frase proferida.
Gramática do Medo é, pois, um romance intrigante
sobre a procura do eu, da sua projecção no outro e posterior
dissolução, no culminar de um processo de oposição dialéctica,
em que ambas as personagens parecem evaporar-se com a névoa que
envolve as montanhas montenegrinas.
Cláudia de Sousa Dias